SIGNIFICADO E VERDADE

 



"A descoberta, o estudo, a meditação e a ponderação sobre a verdade só são possíveis quando se vive uma vida simples, limpa e pura, comprometida com ideais elevados. É uma recompensa pela qual se deve fazer esforços com grande sinceridade; as crenças devem resultar do próprio estudo, observação e conhecimento interior. A Teosofia apresenta uma filosofia em sua totalidade, permitindo ao ser humano entender a vida e praticar a arte de viver. A verdade sempre se manifesta através do bem-estar, da justiça e da boa conduta.

O progresso, a profundidade interior, a evolução e a transformação têm que ser sondados e julgados por nossos próprios eus, segundo nosso próprio modo de pensar e viver. Essas coisas devem se refletir nas nossas atividades do dia a dia. Até onde poderemos insistir na verdade sob o desafio de situações adversas? Qual tem sido a nossa contribuição na promoção dos ideais teosóficos? O primeiro critério para julgar a própria integridade é que a pessoa seja honesta consigo mesma. Sua honestidade não é política; ela simplesmente é honesta. Então as ações pessoais também se manifestam adequadamente. Isso realça a intensidade de seu comprometimento e também expande sua área de atividades teosóficas.

Os desbravadores do caminho enfatizaram o discernimento. Temos a habilidade de distinguir o que é certo ou errado, o que é justo ou injusto, o que é próprio ou impróprio. Mas, apesar dessa capacidade, percebemos que a maioria das pessoas é incapaz de praticá-la na vida real e acham difícil agir da maneira adequada. Porque apenas ter o poder de discernir entre verdadeiro e falso, entre certo e errado, não leva a lugar nenhum. Viveka (discernimento) por si só é incompleto, e por isso é necessário entender e considerar a força de Vairagya e Tyaga (desapego e renúncia), juntamente com a capacidade de discernir. Não é fugir da vida, mas estar em meio à vida sem ser apegado a ela. Em outras palavras, elevar-se acima das sujeições que escravizam o ser humano e impedem sua jornada ascendente.

Seria possível dizer que é muito difícil viver e sobreviver com essas noções ideais, que não é possível praticá-las no dia a dia. Então surge uma pergunta: para que vivemos? Por que não somos capazes de mudar as perspectivas das outras pessoas com relação à vida segundo o nosso próprio modo de pensar e viver? Como afirmou Tagore, 'uma lamparina jamais poderá acender outra a não ser que continue a queimar a sua própria chama. A verdade não apenas deve informar, mas também inspirar'. Em outras palavras, se a inspiração morre, a informação apenas se acumula e a verdade perde o frescor e a vitalidade. 'A vida é um processo contínuo de síntese, e não de adições.'

A vida que estamos vivendo carece de significado e verdade. Devemos nos concentrar em pensamentos e ações que possam ajudar a passar das considerações pessoais para um eu moral e espiritual. Não causar qualquer dano a quem quer que seja é um bom começo. Mas o passo mais importante é descobrir de que maneira posso fazer bem aos outros. Temos que lavrar e cultivar o solo dentro de nós para que se torne fértil e receptivo para acolher e nutrir as sementes

Ο que é que impede o caminho da jornada ascendente? Para a transformação da psique e de todo o ser, a preparação interior é uma necessidade. Como afirmou categoricamente H. P. Blavatsky, a Teosofia é 'ocultismo' e 'altruísmo'. Precisa de 'grande renúncia do eu'. Quando se está engajado em uma nobre missão, o importante é o trabalho e não a glorificação pessoal. A não ser que a pessoa se livre de pensamentos e ações que fortalecem o ego, as consequências  estão propensas a ver o que atualmente estamos testemunhando em várias partes do mundo. O verdadeiro espírito é estar consciente das responsabilidades que temos para com as metas superiores, à nossa organização e a sociedade em geral.

A chave para o desenvolvimento é a transformação. Certas experiências e incidentes são capazes de produzir grandes mudanças na vida. Todos conhecemos a história de como Gandhi foi posto para fora de um trem na África do Sul. Antes desse incidente, e também após, várias pessoas de pele escura foram impedidas de entrar num trem e em outros lugares devido à discriminação racial, mas houve apenas um Gandhi na história.

Vários exemplos desse tipo mostram que, para uma mente questionadora e observadora, o espírito de investigação é necessário para entender o eu verdadeiro, os mistérios desta terra maravilhosa, a verdade cósmica e, acima de tudo, a unidade de todos os fenômenos; compreender que a consciência una, que é a suprema energia, perpassa cada partícula em cada ser deste Cosmo. Essa mudança não é indolor e traz desconforto. Quanto maior a intensidade da mudança, maior será a dor. Porém, o ser que emerge após sofrer essa intensa dor é um ser iluminado, que tem a clareza da percepção e o brilho da sabedoria. A vida de Buda revela que após ver um velho, uma pessoa doente, uma mulher chorando e assim por diante, ele sofreu e teve de lutar muito para descobrir a verdade."

S. Sundaram é pesquisador do Instituto de Estudos Gandhianos em Varanasi e ex-Secretário-Geral da Sociedade Teosófica na Índia.

Revista Sophia, número 98, página 20/21