A ESCOLHA CERTA

        



         "Perguntaremos a nós mesmos: Nós aspiramos ao crescimento espiritual, mas qual é a razão de eu desejar tal coisa? Sejamos absolutamente honestos conosco, desenvolvamos a habilidade de ver-nos, se possível, sem aprovação ou reprovação, mas somente em busca da compreensão. 

     Desejamos a felicidade e segurança espiritual para nós próprios? Desejamos ser ou tornar-nos algo de belo, louvável, especial? Gostaríamos que os outros homens nos olhassem de tal modo que, de nossa posição elevada, nos curvássemos para ajudá-los? De fato, com o correr do tempo, faríamos de "Deus", a Eterna Beleza, um apanágio, um adorno, uma propriedade pessoal nossa? 

       Tudo isso é muito natural e Dra. Besant disse-nos em certa ocasião, que podemos legitimamente usar a ambição pessoal para, no princípio, sobrepujar nossos defeitos, mas devemos acabar abandonando isto completamente. Diz a Luz no Caminho: 'Faça uma pausa e considere um pouco. É o caminho que você deseja ou tem em sua visão uma tênue perspectiva de grandes alturas a serem galgadas por você, ou um belo futuro que você vai conquistar? Toma cuidado. O caminho tem que ser procurado pelo que ele vale e não em consideração aos seus pés que vão trilhá-lo.' 

    Somente o puro amor de Deus, o Belo e Verdadeiro, e o amor dos homens e de toda a vida, pode conduzir-nos a Deus - quando o amor de nós mesmos, ainda que elevado e admissível, esteja perdido. Que possamos nos tornar canais puros e abnegados do Amor Divino, da Sabedoria Divina, do Poder Divino, a fim de prestar ajuda! Esta é a única voz que pode ser ouvida nos Céus. Como é difícil! Será que podemos fazer isto? Sim, gradualmente; pela prece, pela aspiração, pela compreensão, pela prática."


Clara Codd, A Tpecnica da Vida Espiritual, Ed. Teosófica, Brasília, pg. 31



 

A COMPREENSÃO DE NÓS - A PERSONALIDADE E O EGO

 

   

 "Para compreender a técnica desta grande jornada devemos compreender a nós mesmos e a constituição de nossas almas, bem como tentar ter um vislumbre da Pessoa que realmente somos. Podemos olhar num espelho e ver um corpo, sadio ou doente, belo ou não, e dizer: "Sou isto". Entretanto, o pensamento de um momento nos mostrará que não pode ser assim, pois quando a morte chegar, este corpo se esfacelará e desaparecerá, mas temos a firme convicção de que nós não desapareceremos! É uma verdadeira intuição. O homem não é somente este corpo que pode ser visto com os olhos físicos. Há para ele bem mais que isso. 

    Com esse corpo ele se movimenta e age. São porém, bem mais importantes para ele seus pensamentos e sentimentos subjetivos. Serão eles originários do cérebro e das células nervosas do corpo? Se assim fosse eles deixariam de existir após a morte. 

    É fato demonstrável, mesmo para a razão e para os sentidos humanos, nestes admiráveis dias, que um homem vive em diversos mundos de consciência ao mesmo tempo, e esses se manifestam através de estados de matéria mais rudes ou mais refinados ou de forças vibratórias. Cumpre lembrar que não há forma de consciência que não se expresse através de alguma forma de matéria. Há muitos planos ou condições de consciência e matéria, interpenetrando o mundo físico. em uma das quais o pensamento e a atividade mental são os fatores determinantes, e em outro se expressam a sensação e a emoção. Juntos eles constituem o mundo psíquico ou o mundo da "alma", pois a palavra grega que é traduzida como "alma" é "Psyche", de onde tiramos os termos psíquico e psicologia. Das tentativas modernas de explorar o mundo da alma, uma delas é a do ponto de vista da matéria ou forma, outra, a do ponto de vista de seu poder de consciência. H.G. Wells uma vez escreveu que o grande avanço científico do futuro será feito no reino da psicologia, enquanto Sir Oliver Lodge afirma que a futura tarefa da ciência seria explorar e mapear o mundo da alma, começando pela telepatia, fato atualmente bem comprovado. 

    Para a compreensão completa desta questão cumpre que sejam estruturados os numerosos livros escritos por ocultistas. Talvez bastasse para nossa finalidade presente pensar em nós mesmo como um ser tríplice - corpo, alma."

Clara Codd, A Técnica da Vida Espiritual, Editora Teosófica, Brasília, 2013, pgs. 14,14 

 

OS ESTADOS DO SONHO

       Neste último excerto, estão sendo apresentados os estados de sonho, se os animais sonham, como e porquê, e uma classificação dos sonhos em sete grupos. Segundo a própria H. P.B., dificilmente consegue-se meios de interpretar os sonhos, a não ser que seja por uma ação de um clarividente ou intuição do intérprete, uma vez que cada Ego que sonha é diferente de todos os outros.

         Terminanos aqui esse tema sobre os sonhos, o qual é motivo de curiosidade de muitos. E como só postamos alguns excertos, convidamos que caso alguém se interesse em um maior profundamento, deixamos sempre a bibliografia no final da página, caso queira adquirir o livro.

   




    "O estado de sonho é comum não só a todos os seres humanos, mas a todos os animais, natualmente desde os mamíferos mais desenvolvidos até os menores pássaros e até mesmo os insetos. Todo ser que possui um cérebro físico, ou um órgão semelhante a um cérebro deve sonhar. Todo o animal, grande ou pequeno, tem sentidos físicos mais ou menos ativos; e embora esses sentido estejam amortecidos  durante o sono, a memória ainda atuará, digamos, mecanicamente, reproduzindo sensações passadas. Todos sabemos que cachorros, cavalos e gado bovino sonham, como também sonham os canários, mas esses sonhos são, penso eu, meramente fisiológicos. Assim como as últimas brasas de uma fogueira que se extingue, com suas fagulhas e chamas ocasionais, desse modo age o cérebro ao adormecer. (...)

    P: Há algum meio pelo qual se possa classificar os sonhos?

    R: Nós podemos dividir grosseiramente os sonhos também em sete tipos, e subdividir esses tipos, por sua vez, assim nós teríamos a seguinte classificação:

1) Sonhos proféticos.  Esses sonhos são impressos em nossa memória pelo Eu Superior, e são geralmente claros e diretos: ou uma voz é ouvida, ou um acontecimento futuro é visto.

2) Sonhos alegóricos, são pálidos vislumbres de realidades captadas pelo cérebo e distocidas pela nossa fantasia. Esses sonhos são apenas parcialmente verdadeiros.

3) Sonhos mandados por Adeptos, bons ou maus, ou por mesmerizadores, ou pelos pensamentos de mentes muito poderosas que desejam fazer com que obedeçamos à sua vontade.

4) Sonhos retrospectivos; sonhos com acontecimentos que pertencem a encarnações anteriores.

5) Sonhos de advertência para outros que são incapazes de receber, eles próprios, as impressões.

6) sonhos confuso, cujas causas já foram discutidas acima.

7) Sonhos que são meras fantasias e imagens caóticas devido ao processo digestivo, a alguma preocupação mental, ou alguma outra causa externa semelhante."


Helena Petrovna Blavatsky, Questões Psicológicas na Ótica Teosófica, Produção independente Projeto Pioneiros, distribuição Editora Teosófica, Brasília, pg. 109/122.

DIFERENÇA DA LUZ ASTRAL E AKASHA

 

      Dando continuidade ao tema dos sonhos, H. P. Blavatsky, diferencia o papel da luz astral com o Akasha em relação à memória. Muito se ouve falar nos dois termos. Portanto, aproveitamos o tema que estamos trabalhando e dentro do contexto, temos também a definição desses termos: luz astral e Akasha.

       Anteriormente já ficou explicado que "sonhos são na realidade as ações do Ego durante o sono físico". 

    



    "P: Que relação a luz astral e o Akasha têm com a memória?

     R: A luz astral é o 'bloco de memória' do homem animal, e o Akasha é o 'bloco de memória' do Ego espiritual. Os 'sonhos' do Ego, assim como os atos do homem físico, são todos registrados, já que ambos são ações baseados em causas e produzem resultados. Os nossos 'sonhos' são simplesmente o estado de vigília e as ações do nosso verdadeiro Eu, e devem, naturalmente, ser registrados em algum lugar. (...)

   P: O que é na realidade a luz astral?

  R: Segundo a filosofia esotérca nos ensina, a luz astral é simplesmente o conjunto de sedimentos ou detritos do Akasha ou Ideação Universal no seu sentido metafísico. Embora invisível, ela é, digamos assim, a radiação fosforescente do Akasha, e constitui o meio intermediário entre o Akasha e as funções pensantes do homem. São essas funções que poluem a luz astral e fazem dela o que é, o reservatório de todas as injustiças humanas, especialmente injustiças psíquicas. Na sua origem primordial, a luz astral como uma radiação é completamente pura, embora quanto mais baixo ela desça, aproximando-se da nossa esfera terrrestre, mais ela se diferencie e se torne, consequentemente, impura em sua própria constituição. Mas o homem ajuda consideravelmente nessa poluição, e deixa sua essência em uma situação bem pior do que estava quando recebeu.

    P: Mas as nossas mentes não recebem a sua luz diretamente de Manas Superior, através de Manas inferior? E Manas Superior não é a emanação pura da Ideação divina?

   R: (...) Se as personalidades (Manas inferior e mentes físicas) fossem inspiradas e iluminadas apenas pelos seus alter Egos superiores, haveria poucos pecados nesses mundo. Mas isso não ocorre; e ao ficar enredadas nas malhas da luz astral, as personalidades se separam mais e mais dos seus pais, os Egos. (...) Esse espaço imaginário, no entanto, no qual são impressas as incontáveis imagens de tudo que já existiu, tudo o que existe e tudo o que existirá, é apenas uma realidade muito triste. Ele se torna, no homem, e para ele, se ele for pisquicamente sensitivo em algum medida - e quem não é? -, um Demônio tentador, o seu 'anjo do mal' e o inspirador de seus piores atos. Ele influencia até a vontade do homem que dorme, através das visões registradas no seu cérebro adormecido (visões que não devem ser confundidas com os 'sonhos'),  e esses germes produzem seus frutos quando ele acorda."

Helena Petrovna Blavatsky, Questões Psicológicas na Ótica Teosófica, Produção independente Projeto Pioneiros, distribuição Editora Teosófica, Brasília, pg. 104.

SONHOS REAIS IMPRESSOS NO CÉREBRO

 

      A afirmativa de HPB que a ciência não consegue entender os sonhos reais, porque não acredita que exista um homem real ou um Ego Imortal, nos leva a crer que existe a diferença entre os sonhos reais daquelas impressões passageiras que sentimos ao acordar, o que é a base des estudos para a Fisiologia e Biologia. 

    Nas páginas 97, o diálogo se dá em torno da diferença dos sonhos e principalmente sobre o que recebemos do Ego Imortal, que para nós não passam de "fantasias aleatórias, são na verdade, páginas avulsas arrancadas da vida e das experiências do homem interno". E ao acordarmos,  essas informações vindas do Ego Superior, são distorcidas pela nossa memória física, de forma que não temos como identificar e analisar o que são aquelas cenas, que aos poucos vão se dissipando.

    Ficaremos hoje com o excerto que nos descreve sobre os sonhos reais impressos no cérebro.



    "P: O 'registrador' ou o 'bloco de memória' do estado de sonho verdadeiro é diferente do bloco de memória da vida em estado desperto?

      R: Como os sonhos são na realidade as ações do Ego durante o sono físico, eles são, naturalmente, registrados em seu próprio plano e produzem os seus efeitos apropriados nesse plano. Mas devemos lembrar sempre que os sonhos em geral, tal como os conhecemos, são apenas as lembranças nebulosas que temos dos fatos dos sonhos no nosso estado de vigília.

    Acontece frequentemente, na verdade, que nem temos lembrança de haver sonhado, mas mais tarde, durante o dia, a lembrança do sonho surge de repente sobre nós. Frequentemente uma sensação, um cheiro, até um ruído casual, um som, traz instantaneamente à nossa mente cenas, pessoas e acontecimentos esquecidos há muito tempo. Alguma coisa do que foi visto, feito, ou pensado pelo 'ser que atua à noite' o Ego, foi impresso naquele momento anterior no cérebro físico, mas não foi trazido à memória consciente, desperta, devido a alguma condição ou algum obstáculo físico. Essa impressão é registrado no seu cérebro na sua célula ou centro nervoso adequado, mas devido a alguma circunstância acidental ele 'suspende o fogo', digamos até que que algo lhe dá o impulso necessário. Então o cérebro descarrega a impressão imediatamente sobre a memória consciente do homem desperto; porque assim que as condições requeridas ocorrem, aquele centro específico entra em atividade e realiza o trabalho que tinha por fazer, mas que era impedido de realizar.

    P: Como ocorre esse processo?

  R: Há uma espécie de comunicação telegráfica consciente que ocorre incessantemente, dia e noite, entre o cérebro físico e o homem interno. O cérebro é uma coisa tão complexa, tanto física como metafisicamente, que ele é como uma árvore cuja casca você pode retirar camada, por camada, e cada camada é diferente de todas as outras. Cada camada tem seu próprio trabalho especial, sua função e suas características.

    P: O que distingue a memória e a imaginação durante o sonho da memória e a imaginação da consciência desperta?

     R: Durante o sono, a memória e a imaginação física estão naturalmente passivas, porque aquele que sonha está adormecido: o seu cérebro está adormecido, e todas as funções também estão descansando. É só quando elas são estimuladas, como eu disse, que elas despertam. Assim, a consciência daquele que dorme, não está ativa, está passiva. O homem interior, no entanto, o verdadeiro Ego, atua independentemente durante o sono do corpo; mas é duvidoso que qualquer um de nós - a menos que conheça profundamente a fisiologia do ocultismo - possa compreender a natureza da sua ação."


Helena Petrovna Blavatsky, Questões Psicológicas na Ótica Teosófica, Produção independente Projeto Pioneiros, distribuição Editora Teosófica, Brasília, pg. 101

Imagem: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/revista/2014/09/07/interna_revista_correio,445592/eu-sonho-tu-sonhas.shtml



A NATUREZA DOS SONHOS I

 

   "Os sonhos" é um tema que gera muita polêmica, pesquisado há muito tempo, desde a antiguidade por cientistas, psicanalistas e ocultistas. Por não haver regras gerais para a sua interpretação, aqueles com um maior conhecimento sobre a constituição oculta do ser humano, uma ação clarividente ou a intuição daquele que procura interpretar podem chegar a alguma interpretação.

    Durante as próximas publicações trabalharemos com um diálogo entre H. P. Blavatsky e Mabel Colins sobre os sonhos, na Loja de Londres, o qual foi publicado no final do século dezenove em Londres e posteriormente na Índia, com o título original "Dreams".

    Através de uma ação de membros da Sociedade Teosófica no Brasil, chamado Projeto Pioneiros, temos esse material em língua portuguesa para estudarmos.

"Pergunta: Quais os 'princípios' que estão ativos durante o sono?

Resposta: Os 'princípios' ativos durante os sonhos comuns - que devem ser diferenciados dos sonhos reais, e devem ser qualificados como visões aleatórias - são Kamas e Manas inferior, Kama, a sede do Ego pessoal e do desejo, desperta para uma atividade caótica devido as reminescências sonolentas de Manas inferior.

Pergunta: O que é Manas inferior?

Resposta: É normalmente chamado de alma animal (o nephesh dos cabalistas hebreus). é o raio que emana do Manas superior ou Ego permanente, e é aquele 'princípio' que forma a mente humana, e nos animais forma o instinto, porque os animais também sonham. A ação combinada de Kama e da 'alma animal', no entanto, é puramente mecânica. É o instinto, não a razão, que está ativo neles. durante o sono do corpo esses dois princípios trocam mecanicamente impulsos elétricos com vários centros nervosos. O cérebro dificilmente recebe impressão deles, e a memória os guarda naturalmente sem ordem de sequência. Ao despertar, essas impressões desaparecem gradualmente, assim como acontece com qualquer sombra passageira que não tem em si uma realidade básica substancial. A função retentiva do cérebro, no entanto, pode registrar e preservar essas impressões se elas forem impressas com força suficiente. Mas, em geral, a nossa memória registra apenas as impressões passageiras e distorcida que o cérebro recebe no momento de despertar. Esse aspectos dos 'sonhos', no entando tem sido suficientemente observado e é descrito de modo bastante correto em obras modernas de Fisiologia e Biologia, já que esses sonhos humanos não diferem muito dos sonhos dos animais. O que é inteiramente terra incognita para a ciência são os sonhos reais e as experiências do Ego superior, que também são chamados de sonhos, mas não deveriam ser qualificados assim, ou então o termo usado para as outras 'visões' durante o sono deveria ser mudado."

Helena Petrovna Blavatsky, Questões Psicológicas na Ótica Teosófica, Produção independente Projeto Pioneiros, distribuição Editora Teosófica, Brasília, pg. 95

                


CONHECE-TE A TI MESMO

             


                      "Muito se fala a respeito de conhecermos a nós mesmos; contudo, isso às vezes parece um mistério. Somos o maior tesouro para nós mesmos - o mistério do mundo humano e o que o compôe, em toda a sua variedade.

                 O modo como experienciamos a alegria, por exemplo, pode variar. Para alguns a alegria pode ser ganhar na loteria, com a liberdade associada de poder viajar ou comprar o que deseja. Para outros pode ser cultivar um jardim e observar as borboletas, ler filosofia ou apreciar artes, ou a beleza do mundo natural à sua volta. Cada alegria é real para a pessoa. Quer provocada do exterior ou do interior, a alegria é sentida internamente.

                   Para alguém que tenha penetrado a vida pessoal e os mundos internos, a alegria surge como um natural e fácil estado de ser oriundo de uma fonte interna. Para o mundo externo pode parecer que essa pessoa não esteja vivendo. Pode não haver expressão exterior, mas internamente a alegria flui poderosamente. Esta habilidade está dentro de cada um de nós; é apenas uma questão de olhar na direção correta. Ninguém pode encontrá-la para nós; depende apenas de nós mesmos. As verdades esotéricas mais profundas são incomunicáveis e devem ser experienciadas. Assim o que precisamos mais do que livros e workshops é uma outra olhadela em nós mesmos. (...)

               É pela observação da mente que se produz um novo estado de existência, e se consegue parar de mudar de momento a momento. Isso prenuncia uma calma não apenas na mente, mas também nas emoções, e dá uma firme fundação para a vida, um lugar para descansar quando a vida externa está conturbada como uma tempestade."

Barry Bowden, Revista Sophia, nº 88, pgs. 39.


IMAGINAÇÃO E REALIDADE II

 

                            Continuando com o tema sobre Imaginação e Realidade de N. Sri Ram, ele nos faz refletir que precisamos da Vontade para usarmos a imaginação. Mas não uma vontade que é gerada pela força e também não confundi-a com desejo, mas a vontade divina. Nos mostra que a imaginação pode ser científica, artística, desvairada, enfim, deveremos discernir o que estamos criando com a nossa mente.



                            "Na realidade criamos tanto com a imaginação quanto com a vontade, e a vontade não é uma mera aplicação da força, mas a vontade do Espírito que provoca a ação e produz uma chama. São duas faculdades por meio das quais as maiores realizações tornam-se possíveis; são as gêmeas celestes, como duas curvas esplêndidas que se encontram em uma bela cúspide. No reino das descobertas científicas, em toda literatura grande e inspiradora, em cada forma de arte, podemos ver a imaginação em ação em uma gama infinita de modos e expressões possíveis.

Existe algo que podemos chamar de imaginação científica, que sempre desempenhou papel importante na realização de novas descobertas e invenções. Antes da descoberta dos raios hertzianos e da invenção do telégrafo por Marconi, seria bastante surpreendente ouvir dizer que havia algo no espaço, fosse éter ou algum outro elemento, que pudesse conduzir ondas ao redor do globo, e que essas ondas podiam ser transformadas para lá e para cá em sons que pudessem ser ouvidos a grandes distâncias. Como poderia alguém chegar a tal concepção? Primeiramente ele deve ter imaginado a possibilidade de certas ondas viajando através do espaço, estando familiarizado com os fenômenos das ondas, e depois de um conjunto de ondas sendo transformado em outro, tendo visto a similaridade entre um movimento ondulatório e outro. Ao juntar vários elementos de experiência prévia em uma nova ordem, ele chegou a uma nova conclusão ou efeito. O telégrafo tornou-se possível como a materialização da forma que foi construída pela imaginação, certamente após muitos testes e incidentes físicos.

A Teoria da Relatividade de Einstein é outro exemplo notável de uma hipótese imaginativa. Certas partes dela não são suscetíveis de aceitação com base no raciocínio de nossa experiência prática, pois quando ele fala de espaço curvo e de um Universo infinito está avançando proposições que são totalmente desconhecidas para as mentes nutridas por nossa experiência normal. Todavia, sua teoria oferece o melhor caminho encontrado pela Ciência até aqui para explicar e predizer certos fenômenos. Ela foi aceita porque respondeu a inúmeros testes práticos a que fora submetida.

A natureza da imaginação deve necessariamente variar segundo a natureza da pessoa que imagina. Deste modo, existem muitos diferentes tipos de imaginação, dependendo de como ela atua e do que se ocupa. O lunático forma todo tipo de imagens fantásticas a partir de uma mente desordenada com gostos grotescos ou degenerados. Um amante imagina (ou mais verdadeiramente é capaz de perceber) uma graça divina e uma beleza no objeto de seu amor. Devido a uma sensibilidade aumentada ele vê o que os outros não conseguem ver, e possivelmente algo que ele mesmo não vira antes ou possa não ver novamente. Um poeta usa ainda outro tipo de imaginação, introduzindo nas suas imagens das coisas externas seus sentimentos muitas vezes humanos e delicados, movido por uma profunda simpatia com a ideia ou vida neles corporificada.

Pode-se justificadamente argumentar que algo que não tenhamos experimentado, mas tenhamos somente imaginado, seja meramente uma projeção de nós mesmos, o produto de uma mente condicionada. Projetamos algo que se adapta aos hábitos e às inclinações da mente, e lhe atribuímos uma existência independente ou objetiva. Como podemos fazer o processo de imaginação corresponder à verdade ou realidade, e não ser um mero fato de autopercepção? (...)

A imaginação tem não apenas suas limitações, mas pode também fazer com que nos extraviemos. Com relação ao oculto, seja oculto em um estado puramente subjetivo ou existindo objetivamente além de nosso alcance, a imaginação consegue facilmente tornar-se a criação de mera ilusão. Ela é então uma projeção de um terreno de ideias e inclinações já formadas, semelhante ao que acontece nos sonhos nos quais não há como conferir com a realidade das coisas como são. Ocultismo é uma ciência; não significa carregar um fardo de fantasias preferidas.

A imaginação pode ser volúvel, errante, desequilibrada e mesmo doente e mórbida. Vemos exemplos assim em muitas pessoas psicopatas, nos insanos que sofrem de ilusões torturantes de sua própria criação. Essas pessoas alegremente se livrariam de suas ilusões, mas são incapazes de delas se livrarem. Existe uma estranha semelhança entre as doenças da mente e as do corpo. A mente pode inchar, ficar desarticulada ou paralisada. Na vida comum, quando o elemento pessoal penetra em algumas lembranças, afeta as linhas, as cores e as sombras das impressões feitas pelos próprios eventos, exagera suas diferentes partes, e assim distorce e deforma todo o quadro. (...)  

Precisamos de imaginação, e precisamos também nos livrar daqueles perigos e excessos criados pelas reações do passado, os gostos e as aversões, os ódios e as paixões que devastam o nosso pensamento. Devemos manter o que imaginamos, como tão facilmente faz o cientista avançado com cada teoria e, como ele, estar prontos a submetê-la a todo tipo de teste prático. Seria bom não estarmos muito certos e não nos presumirmos um conhecimento muito próximos das verdades e estados de ser que se encontram além do nosso alcance. A intensidade de emoção e vivacidade pode ser para nós um índice de validade, mas a vivacidade depende não apenas da verdade intrínseca da experiência, mas também de nossas reações pessoais, que, todavia, dependem de nossa consciência e impulsos, objetivos e expectativas inconscientes. (...)"

N. Sri Ram, Um Vislumbre da Realidade, Editora Teosófica, pgs. 104

IMAGINAÇÃO E REALIDADE

                     O que é a imaginação? O que é o raciocínio? N. Sri Ram, neste capítulo do seu livro "Um Vislumbre da Realidade", Editora Teosófica, nos leva a refletir sobre todos os aspectos que envolvem a imaginação e até onde ela nos leva. Pode ela nos levar para regiões "feonteiriças entre o conhecido e o desconhecido"?



                            "A imaginação é uma faculdade que alcança acima e além dos níveis de observação e raciocínio, preeminentemente a faculdade que constrói pontes no mundo mental e mesmo no físico. Ela é, na verdade, um poder divino, pois cria na mente coisas que podem posteriormente ser materializadas sob uma forma ou outra. Nós observamos com os sentidos, embora essa atividade não seja puramente sensorial, uma vez que a mente penetra cada observação individual. Quando olhamos para uma superfície, digamos as paredes de um edifício e formamos uma imagem ou quadro em três dimensões, essa imagem é construída a partir dos elementos que recebemos dessa superfície. Existem as impressões de linha, cor, altura, extensão, textura, etc., que são fotografadas primeiramente em nossa visão e depois no nosso cérebro, mas toda a perspectiva é dada por uma mente que não apenas percebe o que está diante de si, como também desenha na memória para construir o quadro composto. Assim, há o uso da imaginação na observação das coisas, caso contrário nada obteríamos senão fragmentos de impressões não relacionados.

A imaginação não é idêntica em todos os seus aspectos à visualização. Esta assemelha-se a um foco adequado; quando prestamos atenção, ela automaticamente foca a mente e esse foco produz um quadro perfeitamente claro, como é o caso na fotografia. A mente possui uma natureza que, com relação às coisas da matéria ou, em geral, aos objetos de atenção, age como um mecanismo perfeito. O raciocínio e procedimentos matemáticos são mecânicos e, portanto, parece possível usar um computador para eles. Mas a imaginação é menos fixa e inclui a captura de ideias mais amplas, mais sutis, que parecem subjazer ou invisivelmente presidir o primeiro plano percebido, e sua materialização. É com uma imaginação que não apenas projeta ideias preexistentes que penetramos na região fronteiriça entre o conhecido e o ainda desconhecido; não o âmago do desconhecido, ou todas suas vastas extensões, mas seu horizonte próximo, no qual as coisas que lá estão, são ainda apenas formas embaçadas ou espíritos do ar que quase se pode sentir, mas que logo nos serão revelados à luz da objetividade. Sentimos algo que, como o tempo, manifesta-se à nossa visão clara e assume uma forma objetiva. É com a sensibilidade sutil inerente à natureza da consciência e à sua ação – e essa ação é a imaginação – que se percebe um segundo plano, a princípio não sentido, e nuances de diferenças, que revelam novas figuras e contornos. Sem essa sensibilidade, que é atraída como uma agulha imantada à verdade do que é, a imaginação seria mera fantasia, “a criação sem fundamento de uma visão”. A imaginação da verdade é semelhante à percepção, embora possa também criar formas que expressem uma qualidade da verdade não descoberta até agora. A imaginação move-se como aquela agulha às expensas da memória, e expõe analogias entre fenômenos ou processos aparentemente não relacionados, e neles vê reflexos de um padrão invisível comum. É pela sensibilidade, que é a base da reta imaginação, que se apreende em qualquer medida a natureza interna de uma coisa, guiada até ela por seus sinais e manifestações externos.

Todo raciocínio, todo pensamento é a criação explícita de relacionamentos que são implícitos às coisas ou fatos observados, mas é com a imaginação que construímos um todo a partir das diferentes partes. A palavra imaginação” implica a criação de imagens. Todo pensamento move-se através de imagens. Mesmo que pensemos em uma abstração – o significado de um símbolo matemático, por exemplo, – também assume alguma forma ou figura em nossas mentes. A imaginação tem uma dimensão que não está presente no raciocínio, porque ela cria e não meramente registra. Para erigir um edifício que estará situado sobre o terreno dos fatos ela deve seguir de mãos dadas com sua irmã prosaica, a mente lógica.

O que, exatamente, acontece quando imaginamos? Imaginamos com base nas impressões recebidas, que são as coisas que ouvimos, vemos, tocamos, cheiramos, saboreamos e sentimos. Certamente que impressões novas são recebidas constantemente. Há também as ideias por elas evocadas. Quando tentamos criar algo novo, selecionamos algum material e o colocamos em certo molde por meio de um rearranjo de seus elementos. O material em si não é novo, pois ele já está presente, mas aquilo que moldamos a partir dele é novo. Uma hipótese é também uma construção da mente, mas baseada em fatos, e seu objetivo é revelar suas relações ocultas e assim explicar a importância de tais fatos.

Quando falamos da imaginação como um dom especial, um nobre atributo, pensamos naturalmente nas realizações do gênio. É a imaginação que dá amplitude e altitude à mente."


N. Sri Ram, Um Vislumbre da Realidade, Editora Teosófica, pgs.  95

A REALIDADE EM NÓS MESMOS

                         

                  Neste excerto de N. Sri Ram, Um Vislumbre da Realidade, ele nos fala sobre uma consciência que é livre das limitações do Karma. e para que consigamos usufruir da beleza desse estado de ser, devemos "pôr fim de uma vez por todas às causas que a obnubilam, a remoção dessas causas, não é trabalho de um único momento, mas um processo de discernimento exercido sobre toda a gama de experiência necessária."

                           Portanto, não existe uma receita pronta, um milagre, ou algo que venha do externo para nos dar a compreensão de todo o trabalho que deveremos desenvolver para que possamos romper as cascas formadas por nossas próprias ilusões, deveremos trabalhar paulatinamente, pois discernimento gera discernimento.




                    A consciência que consegue penetrar na região da Realidade é uma consciência que está livre do ímpeto, do acúmulo, e da influência incessante de seu passado. Isto é Karma, cujo resultado ocorreu no passado, que é tanto psicológico quanto físico.

O Karma é o que criamos por nós mesmos através de forças operando de dentro de nós e forças precipitadas do exterior. Quer essa criação esteja na esfera de nossa própria psique, ou naquela esfera externa mais ampla da qual existem relações com outras entidades, tudo é do passado. Devemos livrar-nos desse passado que tanto nos vela quanto nos impede. Quando a consciência é capaz de ver e entender a natureza dos elos nos quais se envolveu é que será capaz de se libertar desses elos, cujas limitações se  impôs sobre si mesma na senda de uma aproximação precipitada. Ela então se torna desiludida, em um sentido belo dessa palavra.

A consciência simples – isto é, a consciência na inocência de sua infância – é atraída para um movimento muito sutil, e esse movimento é um impulso primeiramente de um apego leve e depois um apego crescente e cada vez mais forte pelo desejo de sensações de todo tipo. Os primeiros movimentos gradualmente ganham ímpeto até que se tornam um redemoinho regular; a mente, presa nesse redemoinho, incapaz de ver com clareza, gira e gira durante um longo tempo em uma espiral viciosa. Nossos apegos têm uma maneira de crescer como de aprofundar, porque uma coisa gradualmente nos prende a outras por associação. Eventualmente, através do exercício do discernimento que a pessoa ou essa consciência inevitavelmente desenvolve, a totalidade desse redemoinho ou sorvedouro é endireitada. Usamos nossa livre inteligência para, através das ilusões que aceitamos, vermos as várias formas de condicionamento que sofremos. A libertação, no sentido de uma liberdade externa das circunstâncias que limitam e compelem, logo seguirão a obtenção da liberdade interior.

N. Sri Ram, Um Vislumbre da Realidade, Editora Teosófica, Brasilia, 2020 pgs. 44


 



                

A VINGANÇA NÃO É A SOLUÇÃO

                                          "O ódio nunca é dissolvido pelo ódio.        

 Somente o amor dissolve o ódio.

   Esta é a lei,

       Antiga e eterna.




          Conta-se que um mestre Zen, Muso Kokushi, conhecido como um eminente sacerdote na Era das Dinastias do Norte e do Sul do Japão, foi certa vez desafiado sem qualquer razão e derrotado. O povo a sua volta encorajou-o para que derrotasse o seu oponente, mas ele calmamente disse: 'Para aqueles que são os vencedores e para os que forem derrotados, este mundo nada é a não ser uma fase passageira.'

        Se fomos derrotados pelos outros, não deveríamos contra-atacar, como inúmeras vezes se diz, 'Olho por olho, dente por dente'. Ao querer contra-atacar, uma pessoa manterá o  ódio contra a outra e, consequentemente, elas gastarão o seu tempo sempre alerta, esperando uma chance para vingar-se da outra. Entretanto, mesmo que você tenha um ressentimento contra outra pessoa e a derrote, satisfazendo assim o seu ódio, o derrotado irá querer se vingar, e esse círculo vicioso continuará infidavelmente. Essa situação de tensão entre os dois continuará para sempre. A não ser que um deles quebre esse ciclo absurdo, a paz nunca será encontrada.

        Quando alguém lhe bate e você revida, é como uma briga de crianças. Você não deveria fazer isso. Ao contrário, deveria canalizar o seu desejo para alguma ação que beneficiasse outras pessoas. Se ainda não se sentir satisfeito, pense profundamente acerca dessa aversão, pois ela é a própria origem do ódio contra o qual você quer lutar. Empenhe-se também para realizar algo que você goste de fazer. Deste modo, ninguém será rejudicado e você terá feito um bom trabalho."

Kodo Matsunami, A Conquista da Felicidade, Editora Teosófica, Brasília, 1997, pg. 17.

    


 

O LADO SOMBRA DE NOSSA PERSONALIDADE (II)



    "A verdadeira felicidade não pode depender das circunstâncias externas que não estão sob nosso controle, mas de nossa decisão de ser feliz. 'Somos o senhor de nosso destino, o criador de nossa realidade'. As circunstâncias da vida são ditadas por nosso karma, que inclui nossos pensamentos de escassez. O modo como você vai encarar a vida depende de se você acha que merece ou não ser amado.

    Mas por que eu deveria ser amado? Ao fazer-nos essa pergunta, os nossos pensamentos parecem, à primeira vista, esperar que essa resposta venha de algo fora de nós. Mas, se continuarmos insistindo em refazer a pergunta, eventualmente vamos reconhecer que existe uma vida divina que nos cerca e que é parte de nós e que somos parte desta vida. Nossa natureza divina interior prenuncia, com suas vibrações amorosas, que nós realmente somos amados, ainda que as circunstâncias exteriores possam indicar o contrário.

    A experiência de escassez não é um sinal de que Deus está castigando você. Ao contrário, ela indica que você está mostrando a si mesmo uma crença negativa que precisa ser corrigida. (...)

     As melhores oportunidades para aprendermos sobre o amor são os nossos relacionamentos. Eles servem como espelhos e oportunidades para percebermos como vemos os outros e a nós mesmos no processo da vida. Os relacionamentos são também oportunidades para vivenciarmos um amor maduro, começando sempre por nós mesmos. Para conviver em paz com os outros precisamos entender que a aceitação nos liga a eles e a crítica nos separa deles. Vale lembrar que: 'Ainda que ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim'.

    A aceitação é de importância fundamental para trazer a paz às eternas discussões que temos com os outros, em que nosso pequenino eu quer sempre ter razão. Nesses momentos precisamos nos perguntar: 'Eu quero ter razão (vencer a discussão) ou ser feliz? ' Se eu prefiro ser feliz devo ceder a razão ao outro, como uma dádiva de amor. A busca por ter razão é apenas desperdício de energia e de foco. Ninguém é dono da verdade. O que temos de verdadeiro em nosso íntimo só diz respeito a nós.

    Com certeza, teremos mais paz em nossos relacionamentos quando pararmos de criticar e de dizer aos outros como eles devem viver e começarmos a praticar o amor, que é aceitação e perdão. Por essa razão as pessoas que buscam a paz em meio aos maiores problemas de relacionamentos – aqueles em que vivem os alcoólicos e dependentes de drogas e seus familiares – iniciam suas reuniões nos grupos de autoajuda pedindo luz e força com a Oração da Serenidade:

 'Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária Para aceitar as coisas que não posso modificar, 

Coragem para mudar aquelas que posso

E sabedoria para distinguir umas das outras'.

    As discussões abrem a porta para outros inimigos da paz e da felicidade: os julgamentos e as críticas. Acusar é ensinar a culpa e perpetuar a crença de que a dor e o sofrimento são necessários. Precisamos parar de justificar nossos julgamentos. A crítica (retirar o cisco do olho dos outros) é, geralmente, um mecanismo de fuga, ou seja, de projeção."

(Raul Branco, A Essência da vida Espiritual, Editora Teosófica, Brasília, pgs 45/47)

O LADO SOMBRA DE NOSSA PERSONALIDADE (I)

        Muito falamos nas terapias sobre o nosso lado sombra, é muito importante que todo Terapeuta estude sobre a constituição oculta do ser humano, principalmente no que se refere às emoções, àquelas que nos fazem tomarmos determinadas decisões e muitas vezes não sabemos o porquê. São elas a origem dos nossos dissabores, pois na verdade, são as geradores de karma.

        Como esta semana  optamos pelo estudo que Raul Branco faz sobre o amor, ele coloca de forma tão simples e com tanta propriedade, citando, inclusive outros autores, que colocamos em duas partes, os comentários sobre o lado sombra de nossa personaldade, devido a importância que o tema tem na psicoterapia holística. Serve para entendermos melhor o processo terapêutico em que nosso cliente está passando, mas principalmente, para nós, terapeutas, que como seres em evolução precisamos primeiro trabalhar as nossas sombras para depois podermos fazer a empatia com aquele que nos procura.




    "O que é esse lado sombra? É aquele aspecto da natureza humana que procuramos esconder a todo custo. É tudo aquilo que não queremos ser, mas somos. É aquele sentimento que procuramos esconder das outras pessoas, bem como aquele desvio de comportamento que uma pessoa considerada boazinha jamais teria. É o desejo de se entregar ao vício, de explodir, de brigar. É toda a energia que tentamos esconder, mas que em certas ocasiões aflora e nos causa grande dor e vergonha. A Sombra, porém, não esconde somente aspectos negativos de nosso ser.

    Alguns aspectos positivos, inclusive nossa natureza luminosa, divina, são muitas vezes mantidos na sombra. Por todas essas razões ela é uma parte importante de nosso ser que precisamos conhecer e trabalhar.

 'Quando a mantemos escondida, pode transformar-se em pensamentos negativos e, mais cedo ou mais tarde, nos levar a agir de forma contrária aos nossos melhores valores e interesses. Mas descoberta e compreendida, a Sombra nos levará ao caminho da plenitude! Sairemos da ilusão de que nossa obscuridade nos dominará e, em vez disso, veremos o mundo sob uma nova ótica. A empatia que descobrimos por nós mesmos fará despertar nossa confiança e coragem à medida que abrirmos nosso coração a todos ao nosso redor. O poder que desenterramos nos ajudará a confrontar o medo que esteve nos segurando e nos incitará a seguir adiante, rumo ao nosso mais alto potencial.

“O conflito entre quem somos e quem queremos ser encontra-se no âmago da luta humana. A dualidade, na verdade, está no centro da experiência humana. A vida e a morte, o bem e o mal, a esperança e a resignação coexistem em todas as pessoas e manifestam sua força em todas as facetas da vida. Caso estejamos vivendo sob a suposição de que somos apenas de um jeito ou de outro, dentro de um espectro limitado de características humanas, então, precisamos questionar por que, atualmente, muitos de nós estamos insatisfeitos com a nossa vida. Por que temos acesso a tanta sabedoria e, ainda assim, não temos a força e a coragem para agir segundo nossas boas intenções, tomando decisões eficazes? E, mais importante, por que continuamos a nos expressar de maneiras aos nossos valores e a tudo aquilo em que acreditamos? E, embora ignorar ou reprimir esse lado sombrio seja a norma, a verdade soberana é que correr da sombra apenas intensifica seu poder. Negá-la apenas conduz a mais dor, sofrimento, tristeza e sujeição. Se falharmos em assumir a responsabilidade de extrair a sabedoria que está oculta no fundo de nossa consciência, a treva assume o comando e, em vez de sermos capazes de assumir o controle, a escuridão acaba nos controlando, provocando o efeito sombra. Então, o lado obscuro passa a tomar as decisões, tirando-nos o direito a escolhas conscientes, seja ao que comemos, ao que gastamos ou aos vícios a que sucumbimos. Nosso lado sombrio nos incita a agir de forma que jamais imaginamos e a desperdiçar a energia vital em maus hábitos e comportamentos repetitivos. A obscuridade interior nos impede de expressar inteiramente o nosso eu, de falar nossa verdade e viver uma vida autêntica. Somente ao abraçar a nossa dualidade é que nos libertamos dos comportamentos que poderão potencialmente nos levar para baixo. Se não reconhecermos integralmente quem somos, é certo que seremos tomados de assalto pelo efeito sombra.'  (CHOPRA, Deepak. FORD, Debbie e WILLIAMSON, Marianne. O Efeito Sombra. Alfragide-Portugal: Ed. Lua de Papel, 2010. Introdução.)

    O mecanismo mais frequente que usamos para lidar com nosso lado sombra é a projeção. Sabemos que o mecanismo psicológico de projeção (que parte da imagem inconsciente que temos de nós mesmos) condiciona como vemos o outro, como o julgamos e como agimos para com ele, sempre em função da imagem inconsciente que temos de nós mesmos. (...)

    Por isso, se a imagem que temos de nós mesmos é de que só merecemos realmente a vida insossa, quando não atribulada e sofrida que temos, nossa atitude para com nosso próximo, nosso “amor” para com ele, deixará muito a desejar. Na verdade, não será um amor verdadeiro. Essa é uma triste constatação da nossa vida no mundo sob o jugo do ego.

    No entanto, esta constatação não é algo imutável. Tudo na vida está em movimento, tudo é dinâmico. As oportunidades de mudança estão constantemente aparecendo. O mais importante, porém, é que posso escolher mudar os pensamentos que me fazem mal. Posso escolher ver as coisas com espírito positivo. Posso escolher ser feliz, pois sou responsável pela forma como vejo as coisas. O grande poeta inglês William Blake escreveu que se pudermos desobstruir as barreiras para a percepção correta, seremos capazes de ver as coisas como elas são, ou seja, infinitas. O que nos leva a ter uma autoestima tão baixa que resulta num efetivo desamor por nós mesmos? Dois elementos principais contribuem para essa triste situação. O primeiro é o condicionamento que recebemos de nossos pais, familiares e educadores desde a mais tenra infância. As demonstrações de preferência de um ou ambos os pais por outros filhos, as críticas frequentes, julgamentos depreciadores, bullying na família, na escola e nos grupos de colegas, enfim, as inúmeras atitudes negativas das pessoas que, de alguma forma, participaram de nossa infância e adolescência, explicam a razão por que tantas pessoas desenvolvem uma baixa autoestima, um sentimento de inadequação e desmerecimento e uma crença de que há algo de errado com elas.

    O segundo fator que contribui para a crença inconsciente de que não merecemos ser felizes é o sentimento de culpa que debilita a determinação interior da pessoa e estabelece um padrão de baixas expectativas para com a vida. O conceito de 'pecado', que literalmente inferniza a vida de muitas pessoas, especialmente nos meios cristãos, é o principal fator para a contumaz imagem negativa, com seu concomitante sentimento de culpa."

(Raul Branco, A Essência da Vida Espiritual, Editora Teosófica, Brasília, pg. 42/44)


O VERDADEIRO AMOR

     Nesta semana vamos falar sobre um tema muito conhecido, porém também controverso, uma vez que em seu nome se comete as mais absurdas ações. Claro que todos já perceberam que é o Amor. E como nós trabalhamos com Terapia Holística, esse tema sempre vem à baila tanto com clientes como com nossos alunos. 

    Na Numerologia Cármica, que é um estudo pitagórico sobre a jornada que a Alma faz aos níveis mais densos de manifestação, percebemos como as pessoas portadoras de frequências numéricas que as levam a desenvolver o amor, seja pela família, comunidade ou pela humanidade, acabam vibrando no negativo ou extrapolam esse sentimento, por não saber exatamente o que ele é. 

    Por  isso, optamos por desenvolver por alguns dias o tema O Verdadeiro Amor, que trata sobre o amor icondicional. Esse amor se faz presente nas vibrações numéricas 6 e 9, onde almas antigas, as quais já trazem muitas experiências de outras vidas, devem aprender a vivenciar essas altas frequências energéticas.

    Acreditamos que um autor que trabalha muito bem esse tema é Raul Branco, no seu livro A Essência da Vida Espiritual. 

  Convidamos a todos a refletir sobre esse tema, principalmente os que trabalham com a Terapia Holística e precisam identificar as causas do males que afetam os seus clientes, que muitas vezes é a falta de amor seja por medo, egoísmo ou por ter um entendimento errôneo do que seja o Amor. 




    "Falamos muito sobre amor, mas conhecemos pouco sobre o verdadeiro amor, o amor incondicional. Em primeiro lugar, o amor não é meramente um sentimento, um interesse, uma atração ou mesmo uma paixão por outra pessoa. O verdadeiro amor é divino, sendo sua plena expressão um aspecto da culminação do progresso espiritual.

     De todas as qualidades que ATRIBUÍMOS a Deus, o amor é a mais tocante e que mais nos atrai. Essa atração deve-se ao fato de o amor ser uma das energias mais fundamentais da Manifestação. Com o início do processo de emanação, o UNO passou a se manifestar nas inumeráveis formas do mundo exterior em constante expansão. A Providência Divina, em sua infinita sabedoria, fez surgir concomitantemente uma força harmonizadora da tendência separatista da percepção no mundo material que estava sendo criado. O amor, portanto, é uma expressão dessa força, conhecida como a Lei universal da atração, que se manifesta de inúmeras maneiras em todos os níveis e planos da natureza. (...)

   Apesar da vivência do amor suscitar vários sentimentos profundos, seria difícil definir o amor. Sabemos, no entanto, que o verdadeiro amor inclui pelo menos quatro aspectos complementares: (1) aceitar as pessoas como elas são; (2) perdoar; 

    (3) desejar de coração o bem do outro; e (4) fazer o que estiver ao nosso alcance para promover a verdadeira felicidade das outras pessoas, sejam elas nossos parentes e amigos ou não. Cada um desses aspectos oferece consideráveis dificuldades de expressão para as pessoas egoístas. O egoísta acredita que o amor é uma moeda de troca: 'eu te amo se tu me amas; se deixares de fazer o que eu espero de ti, deixarei de te amar'.

  Antes de examinarmos cada um desses quatro aspectos fundamentais interconectados do amor, vale a pena lembrar o ensinamento basilar de Jesus quando lhe perguntaram: 'Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?' Ele respondeu: 'Amarás ao Senhor teu Deus dodo teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento; é o primeiro e o maior mandamento. O segundo é semelhante a esse: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os [ensinamentos dos] profetas estão contidos nestes dois mandamentos'. Vamos examinar inicialmente o que parece estar mais ao nosso alcance, ou seja, o amor ao próximo (...).

     O que salta aos olhos na formulação do segundo mandamento nos instando a amar o próximo? A implicação mais óbvia (e negligenciada) é o padrão estabelecido para amar o próximo, que é AMÁ-LO COMO A NÓS MESMOS. O Mestre só indicaria a necessidade desse padrão se houvesse algum questionamento sobre nosso amor a nós mesmos. Vale então questionar: será que realmente amamos a nós mesmos?

     Quando examinamos os inúmeros hábitos destrutivos que os seres humanos desenvolvem, entendemos a razão do alerta do Mestre. AQUELE QUE destrói sua saúde com o uso de álcool, fumo, drogas, entorpecentes e hábitos alimentares prejudiciais, QUE é sedentário e não tem períodos de sono salutar, QUE está sujeito a explosões de raiva e ódio ou a períodos de tristeza e até mesmo de depressão, certamente não ama a si mesmo.

    Mas a falta de amor a si também se expressa de forma mais sutil. Muitas pessoas desenvolvem um sentimento de desamor por si mesmas, sentindo, ainda que de forma inconsciente, que não merecem ser felizes. Algum evento traumático em seu passado deixou uma crença que gerou um condicionamento inconsciente de que elas não são suficientemente boas, ou mesmo que são indignas e, portanto, que carecem de méritos para ser felizes. Com isso atraem a infelicidade que julgam lhes ser devida. A dor gerada por esses traumas é tão grande que o indivíduo torna-se incapaz de lidar com a situação de forma proativa e recolhe-se como um tatu para dentro de sua carapaça buscando proteção, gerando com isso mais um elemento de seu lado sombra."


Raul Branco, A Essência da Vida Espiritual, Editora Teosófica, Brasília, 2018, pgs 40/41