PERDÃO


"Na minha infância, minha mãe costumava colocar curativos nos meus machucados e retirava-os religiosamente dois dias depois. Nunca compreendi por que ela fazia isso, já que as feridas não estavam completamente curadas. Quando perguntei sobre o assunto, ela respondeu: 
- É preciso expor a ferida ao ar para que ela feche mais rápido. 
O mesmo acontece com nossas feridas emocionais, que precisam de um pouco de exposição para começar o processo de cura.
Quando alguém diz ou faz algo que nos magoa, tendemos a nos apegar à ferida e a guardar ressentimentos em relação àquela pessoa. Do ponto de vista da energia psíquica, isto é um erro. Carregar uma ferida emocional estimula e alimenta emoções e pensamentos negativos relacionados com essa ferida, e a dor contagia nosso espaço. Como já disse várias vezes, semelhante atrai semelhante. Portanto, atrairemos elementos igualmente negativos. Quanto antes nos permitirmos vivenciar os sentimentos de raiva e frustração, mais cedo poderemos nos despegar da dor. E com esse desapego vem o verdadeiro passo na direção da cura: o perdão."


(James Van Praagh - Em busca da Espiritualidade - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2008 - p. 64)







NO SILÊNCIO DA MEDITAÇÃO


"Na imobilidade e no silêncio da meditação, retornamos num lampejo àquela profunda natureza interior que há tanto perdemos de vista para o mundo dos negócios e das distrações da nossa mente. Não é extraordinário que ela só possa se acalmar por uns poucos instantes sem aferrar-se a uma distração? Nossa mente é de tal forma inquieta e preocupada que às vezes penso que viver numa cidade em nosso mundo de hoje é já viver como os seres atormentados do estágio intermediário que se segue à morte, quando se diz que a consciência é angustiosamente inquieta. De acordo com algumas autoridades, mais de 13% das pessoas nos Estados Unidos sofrem de algum tipo de desordem mental. O que isso diz sobre o modo como vivemos?
Somos fragmentados em tantos aspectos diferentes! Não sabemos quem de fato somos, com que aspectos de nós mesmos devemos nos identificar, ou em quais devemos crer. Tantas vozes, comandos e sentimentos diferentes lutam pelo controle de nossa vida interior que vemo-nos dispersos por toda a parte, em todas as direções, deixando a casa sem ninguém. A meditação, é então, trazer a mente para casa."


(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, p. 89)

MENTE MEDITATIVA


"Os mestres da meditação budista sabem o quão flexível e maleável é a mente. Se a treinamos, tudo é possível. Na verdade, já somos perfeitamente treinados pelo samsara e para ele, treinados para ficar ciumentos, treinados para o apego, treinados para ser ansiosos e tristes e desesperados e ávidos, treinados para reagir com raiva ao que quer que nos provoque. Somos treinados, de fato, até o ponto dessas emoções negativas surgirem de modo espontâneo, sem que tentemos produzi-las. Assim, tudo é uma questão de treino e do poder do hábito. Dedique a mente à confusão e logo veremos - se formos honestos - que ela se tornará uma mestra sinistra na confusão, competente no seu vício, sutil e perversamente dócil em sua escravidão. Dedique a mente na meditação à tarefa de libertá-la da ilusão e veremos que com tempo, paciência, disciplina e o treinamento adequado, ela começará a desembaraçar-se e conhecer sua bem-aventurança e claridade essenciais. (...)"


(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 87/88)

O MAIS BELO ESTADO DA MENTE E DO CORAÇÃO

 


"A liberdade de qualquer sentido de posse, não apenas com relação a objetos, mas também a pessoas próximas e ao país e à raça, requer compreensão amadurecida, uma condição de claro insigth. Quando essa condição existir no coração da pessoa, ela se refletirá na sua vida exterior, trazendo-a uma ordem maravilhosa, tornando a vida simples, sem supérfluos, e orientando o seu fluxo de uma maneira que manifesta a beleza da forma e do espírito interior da pessoa. Os bens que a pessoa de fato possui não tem necessariamente uma correlação com este estado. Os bens não recebidos do karma que destribui a responsabilidade de acordo com os atos passados de todos os envolvidos; mas o grau de correção no lídar com as suas posses depende muito do quanto desapegado se está em relação a esses bens."

N. Sri Ram, Em Busca da Sabedoria, Ed. Teosófica, pg. 117. 


O VALOR DE UM IDEAL

   


 "Um ideal é um conceito mental fixo e de caráter inspirador, estruturado para guiar a conduta. E a formação de um ideal é um dos meios mais eficazes de influenciar o desejo. O ideal pode, ou não, encontrar corporificação em um indivíduo segundo o temperamento do homem que o forja, e devemos sempre lembrar que o valor de um ideal depende em grande parte de sua atratividade, e que aquilo que atrai um temperamento pode não necessariamente atrair outro.

    A mente, é claro cria um ideal e o retém como uma abtração, ou corporifica-se em uma pessoa. O momento escolhido para a criação de um ideal deverá ser quando a mente está calma, firme e luminosa, quando a natureza do desejo está adormecida.

    O indivíduo intelectual manterá esse ideal como um conceito puro. O homem de naturza emocional irá corporificá-lo numa personagem como o Buda, o Cristo, Sri Krishna ou algum outro instrutor divino.

    O homem que habitualmente vive na presença de um grande ideal está armado contra desejos errôneos pelo amor do seu ideal, pela vergonha de ser vil em sua presença, pelo anseio de se assemelhar àquilo que adora, e também pela nova tendência geral de sua mente ao longo das linhas de um nobre pensar. Desejos errôneos tornam-se cada vez mais incongruentes. Eles perecem naturalmente, incapazes de respirar nesse ar puro e claro.

    Assim o pensamento pode molder e direcionar o desejo, trasnmutando-o de inimigo em aliado. Ao mudar a direção do desejo, ele se torna uma força que eleva e aceler, em vez de retardar; e onde os desejos por objetos nos prendiam firmemente ao lodo da terra, o desejo pelo ideal eleva-os sobre fortes asas até o céu."

Annie Besant, Um Estudo sobre a Consciência, Edtitora Teosófica, Brasília, 2014, pgs, 191/192

PROVAÇÕES



"Não importam quais tenham sido as suas provações ou quão desanimado se sinta, caso faça um esforço constante para melhorar, descobrirá que, criado à imagem e semelhança de Deus, dispõe de um poder sem limites e muito mais considerável que as piores tribulações enfrentadas. Diga a si mesmo, mentalmente, que vencerá, empreendendo esforços incansáveis para vencer - pois assim, seguramente, será um vitorioso.
Lembre-se que as dificuldades passadas não surgiram para esmagá-lo e sim para fortalecer em você a decisão de usar seus ilimitados poderes divinos na busca do sucesso. Deus quer que você supere os desafios difíceis da vida e volte à Sua morada de sabedoria.

Paramamhansa Yogananda, Como Ter Coragem, Serenidade e Confiança, Ed. Pensamento, 2014, pg. 49.

O CONFLITO ENTRE DESEJO E PENSAMENTO

   


 "Este conflito pertence ao que pode ser chamado de estágio médio da evolução - aquele longo estágio que fica entre os estados do homem inteiramente governado pelo desejo, apossando-se de tudo que quer, sem ser refreado pela consciência ou perturbado pelo remorso, e o estado do homem espiritual altamente evoluído, em que vontade, sabedoria e atividade agem em harmoniosa coordenação. Surge o conflito entre desejo e o pensamento - com o pensamento começando a compreender sua relação com o não eu e os outros eus separados, e o desejo, infuenciado pelo objetos à sua volta, movendo-se por atracões e repulsões, atraído daqui para ali por objetos sedutores.(...)

    O hábito de se apossar e desfrutar foi estabelecido durante centenas de vidas, e é forte; enquanto o hábito de resistir a um prazer presente para evitar uma dor futura está apenas começando a se estabelecer, e consequentemente é muito fraco. Por isso durante muito tempo os conflitos entre o pensador e a natureza do desejo terminam numa série de derrotas. A jovem mente lutando contra o corpo do desejo maduro é constantemente derrotada. Mas cada vitória da natureza do desejo, seguida que é por um breve prazer e por uma dor prolongada, dá origem a uma nova força hostil a si mesma, que revigora a força de seu oponente. Assim, cada derrota do pensador lança a semente de sua futura vitória, e sua força cresce diariamente, enquanto diminui a força da natureza do desejo.

    Quando isso é claramente entendido não mais lamentamos nossas próprias quedas nem as quedas daqueles que amamos, pois sabemos que essas quedas estão assegurando a firme fundação do futuro, e que no ventre da dor está madurecendo o futuro conquistador.

    Nosso conhecimento do que é certo e errado crece a partir da experiência, e só é aprimorado pelas provações. O senso de certo e errado, agora inato no homem civilizado, foi desenvolvido por meio de inúmeras experiências. (...)

    Esta luta está expressa no lamento:'Faço o que não quero, não faço aquilo que quero; aquilo que não quero fazer, isso eu faço'. 'Quando quero fazer o bem, o mal está presente em mim.'  Aquilo que fazemos de errado, quando o desejo é contrário à ação, é feito pelo hábito do passado. A vontade fraca é subjugada pelo desejo forte.

    Ora, o pensador, no conflito com a natureza do desejo, chama em seu auxílio essa mesma natureza, e se esforça para despertar nela um desejo que será oposto ao desejo contra a qual está combatendo. Assim como a atração de um imã fraco pode ser vencida por um mais forte, é também possível fortalecer um desejo para sufocar o outro; o reto desejo pode ser despertado para combater o desejo errado. Eis o valor de um ideal."


Annie Besant, Um Estudo sobre a Consciência, Ed. Teosófica, Brasília 2014, pgs.189/190


O VEÍCULO DO DESEJO (Parte II)

    


 "O desejo, à medida que integra em si materiais mais grosseiros, deve ser controlado pela mente, recusando-se a retratar o prazer passageiro que a posse do objeto acarretaria, mostrando a si mesma a tristeza mais duradoura que causaria. À medida que nos livramos da matéria mais grosseira que vibra em resposta às atrações mais abjetas, essas atrações perdem todo o poder de nos perturbar.

    Deve-se então tomar o veículo dos desejos pelas mãos; as atrações que chegam até nós do exterior estarão em conformidade com a sua construção. Podemos atuar sobre a forma, mudar os elementos que a compõem, e transformar o inimigo em defensor.

    Quando o homem está evoluindo em caráter, ele é, não obstante, confrontado com uma dificuldade que muitas vezes o deixa alarmado e deprimido. Ele se vê abalado pelos desejos que evita, dos quais se envorgonha; e apesar de seus tremendos esforços para deles se livrar, eles ainda se prendem a eles e o atormentam. Eles vão de encontro aos seus esforços, suas esperanças, suas aspirações, e ainda assim de algum modo parecem lhe pertencer. Essa experiência dolorosa deve-se ao fato de que a consciência evolui mais rapidaente do que a forma, e as duas estão, até certo ponto, em conflito mútuo. Ainda existe no corpo astral uma considerável quantidade de agregações grosseiras; mas à medida que os desejos se tornam mais refinados, eles não mais vivificam esses materiais. todavia, algo da antiga vitalidade aí persiste, e embora essas agregações estejam em declínio, elas ainda não se foram totalmente. (...)

    Podemos pegar o exemplo dos sonhos para mostrar essa atuação da matéria estéril no corpo astral. Um homem, numa vida anterior, foi um ébrio, e suas experiências pós-morte imprimiram nele profundamente a repulsa à bebida; ao renascer, o Ego imprimiu essa aversão aos novos corpos físico e astral. No entanto, havia no corpo astral alguma matéria atraída para aí pelas vibrações causadas no átomo permanente pela antiga embriaguez. Essa matéria não é vivificada na vida presente por nenhum anelo pela bebida, ou concessão ao hábito de beber, pelo contrário, quando desperto, o homem é sóbrio. Mas nos sonhos, essa matéria no corpo astral é estimulada à atividade a partir do exterior, e sendo fraco o controle do Ego sobre o corpo astral, essa matéria responde às vibrações pela ânsia de beber que chegou até ela, e o homem sonha que bebe. Ademais, se ainda houver no homem o desejo latente pela bebida, fraco demais para se afirmar durante a consciência de vigíia, ele pode surgir durante o sono. Pelo fato de a matéria física ser comparativamente pesada e difícil de mover, o desejo fraco não tem energia suficiente para causar vibrações nela, mas esse mesmo desejo pode mover  matéria astral muito mais leve, e assim o homem pode ser arrastado por um desejo que não tem qualquer poder sobre ele em sua consciência de vigília.

    Esses sonhos causam muita angústia porque não são compreendidos. O homem deveria compreender que o sonho mostra que a tentação foi vencida até onde lhe diga respeito, e que ele é perturbado apenas pelo cadáver dos desejos passados, vivificado de fora no plano astral, ou, se vivificado por dentro, então o será por um desejo morimbundo, fraco demais para abalá-lo em estado de vigília. O sonho é um sinal de uma vitória quase completa. Ao mesmo tempo é uma advertência; pois diz ao homem que ainda existe em seu corpo astral a matéria capaz de ser vivificada pelas vibrações do anelo da bebida, e que portanto ele não deve colocar-se durante o estado de vigília sob condições onde essas vibrações sejam abundantes. Até que tais sonhos tenham cessado inteiramente, o corpo astral não está livre da matéria que é uma fonte de perigo."

Annie Besant, Um Estudo sobre a Consciência, Ed. Teosófica, Brasília, 2014. pgs. 186/187




O CAMINHO DO PROGRESSO


 


"Quanto mais avançares, mais armadilhas teus pés encontrarão. O Caminho do progresso é iluminado por uma chama - a chama da audácia ardendo no coração. Quanto mais ousares, mais obterás. Quanto mais temeres, mais a luz esmorecerá - e só ela pode guiar. Porque quando cessa o último raio de Sol no cume da elevada montanha segue-se a noite escura, assim é a luz do coração. Quando se apaga, uma sombra negra e ameaçadora cairá do teu coração sobre a senda, e prenderá os teus pés ao chão de forma aterrorizante."

H. P. Blavatsky, A Voz do Silêncio, Ed. Teosófica, 2011, pg. 205/206.

O VEÍCULO DO DESEJO (Parte I)

     


    "Teremos de retornar à luta na natureza do desejo para acrescentar alguns detalhes úteis àquilo que já foi dito; mas primeiramente, é necessário estudar o veículo do desejo, o corpo do desejo ou corpo astral, já que esse estudo nos permitirá compreender o método preciso que podemos empregar para subjugarmos e nos livrarmos dos desejos inferiores.

    O veículo do desejo é composto do que é chamado "matéria astral", a matéria acima do plano físico. Essa matéria, como a física, existe em sete modificaçoes, que em relação umas às outras são como os subestados sólido, líquido, gasoso, etc., da matéria do plano físico. Assim como o corpo físico contém dentro de si os vários subestados de matéria física, o corpo astral também contém dentro de si os vários subestados da matéria astral. Cada um desses subestados têm em si agregações mais grosseiras e mais sutis, e o trabalho de purificação, tanto do astral quanto do físico consiste em substituir a matéria mais grosseira pela mais sutil.

    Ademais, os subestados inferiores de matéria astral servem principalmente para manifestar os desejos inferiores, enquanto os estados superiores vibram em resposta aos desejos que mudaram, pela mistura de mente e emocões. Os desejos inferiores, buscando objetos de prazer, descobrem que os subestados inferiores servem como meio para a sua força atrativa, e quanto mais grosseiros e mais abjetos os desejos, mais abjetas são as agregações de matéria que melhor se expressam. Como o desejo faz vibrar a matéria correspondente no corpo astral, essa matéria torna-se fortemente vitalizada e atrai a matéria nova semelhante de fora de si, e assim aumenta a quantidade dessa matéria na constituição do corpo astral. Quando os desejos são gradualmente refinados e transformados em emoções, com a entrada de elementos intelectuais, e quando diminui o egoísmo, a quantidade da matéria mais sutil aumenta de modo semelhante no corpo astral, enquanto a matéria mais grosseira, não vitalizada, perde energia e diminui em quantidade.

    A aplicação prática desses fatos ajuda-nos a enfraquecer o inimigo entronizado dentro de nós, pois podemos privá-lo de seus instrumentos. Um traidor dentro dos portões é mais perigoso do que o inimigo fora, e o corpo do desejo age como esse traidor, enquanto for composto de elementos que respondem às tentaçõe do exterior." (continua)

Annie Besant, Um Estudo sobre a Consciência, Ed. Teosófica, Brasília, 2014, pgs. 185/186

QUEBRANDO OS LAÇOS

 


          


    "Para romper os laços dos desejos, devemos recorrer à mente, onde jaz o poder que irá primeiramente purificar e depois transmutar o desejo.

    A mente registra os resultados que se seguem à apropriação de cada objeto do desejo, e assinala se foi dor ou felicidade que resultou da união daquele objeto atraente, descobre que a resultante foi a dor, ela registra o objeto como aquilo que deve ser evitado no futuro. (...)

    Então surge a contenda. Quando aquele objeto atraente mais uma vez se apresenta, o desejo lança seu arpão e o apanha, e começa a arrastá-lo para si. A mente, lembrando os resultados dolorosos de prévias capturas semelhantes, esforça-se para deter o desejo, para cortar com a espada do conhecimento o laço atraente. Um conflito violento assola o interior do homem; ele é arrastado pelo desejo, refreado pelo pensamento. Muitas e muitas vezes o desejo irá triunfar, e um objeto será apropriado; mas a dor resultante sempre é repetida, e cada sucesso do desejo suscitará contra ele outro inimigo nas forças da mente. De modo inevitável, embora lentamente, o pensamento mostra-se mais forte, até que finalmente a vitória lhe sorri, e chega o dia em que o desejo torna-se mais fraco do que a mente, e o obejto atraente é solto, o nó que o prendia é cortado. Para esse objeto, o laço está rompido.

    Nesse conflito, o pensamento procura utilizar contra o desejo a própria força do desejo. Ele seleciona objetos do desejo que proporcionam uma felicidade relativamente duradoura, e busca utilizar esses objetos contra os desejos que rapidamente resultam em dor. Assim ele irá opor o prazer artístico ao prazer sensual; usará a notoriedade e o poder politico ou social contra os gozos da carne; estimulará o desejo de satisfazer o bem, de fortalecer a abstenção e desejos viciosos; e finalmente fará o desejo de que a paz eterna conquiste os desejos por alegrias temporárias. Por meio da grande atração, as atrações inferiores são mortas e deixam de ser objetos do desejo. (...)

    Somente por meio do eu como pensamento pode ser dominado o eu como desejo; o Ser, compreendendo que é a própria vida, domina o eu corporificado, pensando ser a forma. O homem deve aprender a se separar dos veículos nos quais deseja, pensa e age, a concebê-los como parte do não Ser, como material externo à vida, assim, a energia que fluiu para os objetos de desejos inferiores flui para o desejo superior guiado pela mente, tornando-o preparado par ser transmutado em vontade.

    À medida que a mente inferior funde-se na superior, e a supeiror naquilo que é sabedoria, o aspecto de pura vontade emerge como o poder do Espírito, Autodeterminada, Autogovernada, em perfeita harmonia com a Vontade Suprema e, portanto, liberta. Somente então são rompidos todos os laços, e o Espírito não é reprimido por nada fora de si mesmo. Então, e somente então, pode-se dizer que a vontade é livre."

Annie Besant, Um Estudo sobre a Consciência, Ed. Teosófica, Brasília, 2014, pgs. 183/184

 

A NATUREZA APRISIONADORA DO DESEJO

 


"Uma vez que a vontade de viver é a causa da propulsão, a vida buscando corporificação e apropiando-se daquilo que é necessário para sua manifestação e persistência na forma, o desejo, que é a vontade num plano inferior, mostrará características semelhantes, buscando apropriar-se, atrair para si, tomar parte de si aquilo por meio do qual sua vida na forma possa ser mantida e fortalecida. Quando desejamos um objeto, buscamos torná-lo parte de nós mesmos, parte do 'eu', para que possa fazer parte da corporificação do 'eu'. O desejo é a colocação em prática do poder de atração; ele atrai o objeto para si. O que quer que desejemos, nós o atamos a nós. Pelo desejo de possuí-lo, um laço é estabelecido entre o objeto e aquele que deseja. Atamos ao Ser essa porção do não Ser; e o ele existe até que o objeto seja possuído ou até que o Ser tenha rompido o laço e repudiado o objeto. Esses são os 'laços do coração', que amarram o Ser à roda dos renascimentos e mortes.

Esses laços entre aquele que deseja e os objetos do desejo são como cordas que arrastam o Ser para o local onde os objetos do desejo são encontrados, e assim determinas seu nascimento em um ou outro mundo. (...)

A grande energia determinante, a vontade de viver, que mantém os planetas em suas órbitas em torno do sol, que evita que a matéria dos globos se disperse, que mantém unidos nossos corpos, é a energia do desejo. Aquilo que tudo governa aparece em nós como desejo, e deve atrair para nós ou atrair-nos para tudo que tenha fixado seus ganchos. O gancho do desejo fixa-se em um objeto, como o arpão lançado pelo arpoador se fixa na baleia. Quando o desejo tiver fixado seu arpão em um objeto, o Ser está preso a esse objeto, do qual se apropiou pela vontade, e logo deve apropiar-se dele em ação. (...) A coisa desejada torna-se parte do corpo do Ser; e se for nociva, deve ser extirpada a qualquer preço. De outro modo só será destruída pelo desgaste causado plelo lentro atrito do tempo e da exaustão - 'Só o forte pode matá-la. O fraco tem de esperar que ela cresça, frutifique e morra.'"

Annie Besant, Um Estudo sobre a Consciência, Ed. Teosófica, Brasília, 2014, págs. 181/182