O OBJETIVO DE VIDA

    

  

    "O terceiro aspecto de nosso mundo, que está oculto à maioria, é o plano e o objetivo da existência. A maior parte das pessoas parece desnorteada na vida, sem qualquer objetivo definido, salvo talvez a luta meramente física para fazer dinheiro ou alcançar o poder, porque supõe, erroneamente, que isso lhe trará felicidade. Não tem uma ideia precisa da razão pela qual está aqui, nem certeza alguma quanto ao futuro que a espera. Tais pessoas nem mesmo fazem ideia de que são almas e não corpos, e de que, assim sendo, o seu desenvolvimento é parte de um grande esquema de evolução cósmica. 

    Quando essa verdade sublime despontar no horizonte da humanidade, haverá uma transformação, que as religiões ocidentais chamam conversão – uma palavra sutil, que infelizmente tem sido deturpada por associações inadequadas, por ser usada, muitas vezes, para significar nada mais que uma crise de emoção hipnoticamente induzida pelas ondas agitadas da excitação, procedentes de uma multidão exaltada. Seu verdadeiro significado corresponde exatamente ao que sua etimologia indica: “voltar-se com”. Até agora o ser humano, ignorando a maravilhosa corrente da evolução, tem lutado contra ela, sob a ilusão do egoísmo; mas, desde o momento em que a magnificência do Plano Divino refulge ante seus olhos atônitos, a sua atitude passa a ser a de colocar todas as suas energias ao esforço de cooperar no cumprimento do desígnio supremo, 'voltar-se e acompanhar' a esplêndida corrente do amor e da sabedoria de Deus. 

    Seu único objetivo, então, é capacitar-se para ajudar o mundo, tendo todos os seus pensamentos e ações dirigidos a essa meta. Podemos esquecê-la por um instante, sob a pressão das tentações; mas o esquecimento será apenas temporário, e este é o sentido do dogma eclesiástico de que o eleito não pode falhar jamais. O discernimento há de chegar, as portas da mente hão de se abrir – para adotar os termos da fé antiga para essa transformação. A pessoa agora sabe o que é real e o que é irreal, o que merece ser adquirido e o que carece de valor. Vive como uma alma imortal, que é uma Centelha do Fogo Divino, em vez de viver como um animal que perece – para usar de uma frase bíblica, que, aliás, carece de correção, visto que os animais não perecem, exceto no sentido de sua reabsorção na respectiva alma-grupo. 

    A essa pessoa desvelou-se, em verdade, um aspecto da vida que antes estava oculto à sua percepção. Seria mais exato dizer que agora, pela primeira vez, ela começou realmente a viver, ao passo que, antes, toda a sua existência simplesmente se arrastava, improfícua e sem finalidade."

C. W Leadbeater, O Lado Oculto das Coisas, Editora Teosófica, pg. 37

O MUNDO OCULTO

    
    
    "O mundo em que vivemos possui uma face oculta, e a concepção que uma pessoa comum tem deste mundo é, de todo, imperfeita e permeia três linhas bem distintas. Primeiro, o mundo tem uma extensão em seu próprio nível, que o ser humano é incapaz de apreender; segundo, há um lado superior, que é demasiado sutil para as percepções não desenvolvidas; terceiro, existe um sentido e uma finalidade das quais, geralmente, não se possui o mais pálido vislumbre. Dizer que nós não vemos o todo de nosso mundo é enunciar debilmente a questão: o que vemos é uma parte absolutamente insignificante do mundo, por mais bela que essa parte possa ser. E, assim como a extensão adicional é infinita, comparada à nossa ideia de espaço – não podendo ser expressa em termos correspondentes –, o escopo e o esplendor do todo são infinitamente maiores do que qualquer concepção que dele se possa aqui fazer, tornando-se impossível expressá-los em termos daquela parte do mundo que conhecemos. (...)
    A verdade, porém, é que o nosso mundo físico é um mundo de muitas dimensões, e que todos os objetos nele existentes se estendem numa direção que escapa à nossa compreensão no presente estágio da evolução mental da humanidade. Quando desenvolvemos os sentidos astrais, ficamos em contato muito mais imediato com aquela dimensão do que a nossa mente é capaz de avaliar, e os mais inteligentes conseguem afinal compreendê-la, gradualmente; há, contudo, aqueles menos desenvolvidos intelectualmente que, até mesmo depois da morte e dentro do plano astral, se encontram demasiado presos a suas antigas limitações e adotam as mais absurdas e irracionais hipóteses para se recusarem a aceitar a realidade de uma vida superior, que eles tanto receiam."


C. W.Leadbeater, O Lado Oculto das Coisas, Ed. Teosófica, pg. 32

A CURA E OS CURADORES ESPIRITUAIS (Parte I)

 "Este tema, Cura e curadores espirituais, é um assunto que não recebeu a devida atenção, pelo menos em nossa literatura teosófica formal. Tive a sorte de conhecer e trabalhar com alguns terapeutas poderosos, de diferentes linhas de conhecimento. Quando encontramos pessoas com essa habilidade de promover cura física e lhes perguntamos sobre a fonte dessa energia ou poder que flui através deles, aqueles que desconhecem os ensinamentos teosóficos, respondem  'que se trata de um presente de Deus'. Isso não está totalmente incorreto, mas o fato de essa capacidade de curar se apresentar é muitas vezes considerado como um dom sobrenatural.

Durante um dos períodos pouco valorizados da vida do Coronel H. Olcott, ele estava envolvido em um extenso trabalho de cura dinâmica e poderosa.. Durante as suas visitas ao Celião (atual Sri Lanka), seu principal objetivo era revitalizar o budismo, que ele considerava uma expressão da Sabedoria Eterna. No Ceilão daquela época, o budismo havia atingido níveis muito precários. Então, os missionários cristãos, que trabalhavam ativamente para enfraquecer o budismo no Ceilão, anunciaram que haviam descobreto um poço de água que tinha o potencial de curar em nome de Jesus e da Igreja Católica.

Sendo quem era, Olcott abordou os monges budistas e disse: 'Antes que isso crie raízes na mente das pessoas, vocês devem promover alguma cura. Vocês, como budistas, devem curar'. Mas ninguém se voluntariou. Assim, Olcott, como um bom empreendedor Ianque, decidiu que ele mesmo faria a cura. Tendo o conhecimento de que toda cura provém da mesma fonte, ele a realizou em nome do Buda. Trinta anos antes disso, ele havia sido exposto aos ensinamentos e trabalho de Anton Mesmer, tendo até feito alguas tentativas de cura mesmérica.

Muito foi escrito sobre o mesmerismo e seus poderes de cura, nas Cartas dos Mahatmas.

Olcott havia estudado e decidiu que, para a ocasião, era necessário, Assim encontrou um paciente com um braço paralisado e começou a trabalhar com ele. O homem foi para casa e, no dia seguinte, relatou que havia experimentado grande alívio, o que aumentou o nível de confiança de Olcott. Ele voltou a trabalhar com o paciente e, desta vez, houve uma reversão completa da paralisia e, é claro, a notícia se espalhou.

Daquele dia em diante, nos três anos seguintes, Olcott não teve mais paz ou privacidade, pois estava constantemente cercdo de pessoas que demandavam cura dste grsnde curador 'budista'.Como de hábito, durante esse período de três anos, ele manteve registro de mais de 7.000pessoas que experimentaram cura de diversos tipos: paralisia,surdez, cegueira, etc. Por exigir muita força vital de Olcott, demandando demais sua energia pessoal, não deixando tempo para realmente invistir no trabalho teosófico, que era seu foco principal, seu Mestre ordenou que parasse. (...)

Ao discutir seus métodos de cura, o coronel Olcott informou que eles ocorriam de duas maneiras. De um lado pela presença e influência do Mestre atrvés de uma conexão realizada. Parte dos diversos ensinamentos que recebemos nos aconselha a adotar a práticas de fazer tudo aquilo que fazemos de bom em nome do Mestre. Essa é uma maneira expressa por Jinarajadasa. Curar, socorrer, ajudar, tudo é feito em seu nome. Isso tem a capacidade de atrair essa presenca quando somos verdadeiramente puros em nossas motivações.

Olcott disse que a maior parte das curas que fez estava baseada nessa conexão e alcance, em sua própria imaginação e vontade, para o seu Mestre. Ele teve várias confirmações disso. Ele mencionou um caso em que curava um cego. Enquanto Olcott trabalhava, o homem descrevia a visão de alguém que estava na frente dele durante o andamento de cura. Ele descreve a cena bem detalhadamente, ficando muito claro que ele descrevia o Mestre de Olcott. O segundo método de cura envolvia o acúmulo e a projeção de energia envolvendo a própria vontade de Olcott."

A cura e os curadores espirituais, Tim Boyd, 

Revista TheoSophia, 1º Trimestre 2019



A ILUSÃO DO EGO (3ª Parte)

 



“No Bhagavad-Gita há um diálogo interessante entre Arjuna e Krishna: ‘Como é um homem iluminado? Como ele dorme, como trabalha, como vive?’, pergunta Arjuna, e Krishna diz: ‘ele vive, trabalha e dorme como um homem comum, mas não pelas mesmas razões.’ O processo do ego não é uma questão do que se está fazendo, mas de como se aborda o fazer e o não fazer.

Isso não é altamente filosófico nem de difícil compreensão. Ensinamos as crianças a jogar um jogo pela alegria de jogar, e a se aprimorar no jogo pelo amor ao aprimoramento; ensinamos a não dar muita importância ao resultado, a quem ganha ou perde. Se damos importância ao resultado, a atividade torna-se egoísta. Se não formos egoístas, então não importa quem ganha ou perde. Existe a alegria de ter jogado, a alegria de cumprimentar um amigo por ter jogado melhor e vencido. Não há frustração. Esse é o espírito do esportista.

(...)

É uma ilusão pensar que o autointeresse age em favor no nosso próprio interesse. Estamos definindo a vantagem de maneira muito mesquinha e pouco inteligente. Não estamos separados de outras pessoas; portanto, o que consideramos ser um beneficio na realidade não é.

Se percebermos a verdade disso e os perigos do processo do ego (percebemos de verdade, não por meio de uma explicação ou como uma conclusão racional), essa percepção do perigo agirá sobre a consciência e eliminará o processo do ego. Apenas querer fazê-lo não traz resultado. Concordar também não ajuda, porque conhecimento e ideias não mudam a consciência. Mas uma percepção profunda da verdade muda, e todos nós temos capacidade para esse insight.” (...)

P. Krishna, A ilusão do ego, Revista Sophia, Ano 4, Nº 13, p. 43

A ILUSÃO DO EGO (2ª Parte)

 

          


“O ego passa a existir enquanto a criança cresce. Todos nós fomos crianças e passamos por esse processo. Depois de dois ou três anos de vida a criança domina a linguagem, a capacidade de pensar e de imaginar. Mas essas capacidades, em si mesmas, não são o ego. Elas são adquiridas por um processo de evolução biológica que é parte da ordem natural. Quando juntamos essas capacidades com o instinto de buscar o prazer e evitar a dor, que existe também no animal, temos uma receita para a formação do ego, porque na consciência humana existem não apenas a dor e o prazer físico, mas também a dor e o prazer psicológicos.

 (...)

 Quando você trata mal um cachorro, ele volta no dia seguinte abanando o rabo. Ele esquece os mal tratos e não se sente insultado. Nós, porém, temos a capacidade não apenas de lembrar, mas também de nutrir esse agravo psicológico dentro de nós. É isso que traz medo e suspeitas aos nossos relacionamentos. As crianças também são capazes de se magoar, mas em poucos dias esquecem a mágoa e rapidamente voltam à velha amizade. À medida que envelhecemos, torna-se cada vez mais difícil fazer isso. Esse é o início do processo do ego.

Seria possível não registrar nada psicologicamente? Registrar somente fatos, não insultos ou bajulações? Não pretendo fazer objeção à memória como um todo, porque a memória factual e necessária, não cria ilusões nem alimenta o ego. Porém, a memória psicológica interfere na qualidade dos relacionamentos no momento presente. Uma pessoa que brigou com seu marido ou esposa há dois anos pode lembrar-se factualmente da briga, mas se não estiver carregando resíduos psicológicos, em termos de mágoa, a lembrança não afetará seu relacionamento atual. É a memória do insulto que constitui a memória psicológica, e é isso que cria dificuldades no relacionamento.”

P. Krishna, A ilusão do ego, Revista Sophia, Ano 4, Nº 13, p. 41

A ILUSÃO DO EGO (1ª Parte)

 



  “O conflito e a violência na sociedade surgem do conflito e da violência na nossa consciência. E o conflito e a violência interior surgem dos processos do ego. Mas o que é esse ego? Ele existe de fato, como uma realidade na natureza, ou será uma ilusão, no sentido de que apenas uma criação da nossa imaginação?

Essa é uma pergunta importante, porque se o ego existe na natureza, não será possível eliminá-lo. Porém, se estiver baseado em prerrogativas que existem apenas na nossa imaginação, o ego é comparável aos contos de fadas, que podem estar num livro, mas não são reais. Se o ego for algo que existe de fato, no mundo natural, resta-nos apenas aprender a lidar com ele e com os problemas que cria.

Será possível dissolver o ego, por meio da compreensão do processo pelo qual ele é formado, de modo que possamos gerenciá-lo? Acredito que a liberdade é algo totalmente diferente do gerenciamento ou do refinamento do ego. Uma pessoa altamente sofisticada e bem educada expressa seu ego de maneira diferente de uma pessoa pouco educada. Internamente, porém, não há muita diferença entre ambas. Por outro lado, existe uma enorme diferença entre uma pessoa que está livre do ego e uma pessoa presa a ele.

Será o ego uma ilusão criada pela nossa mente? Qualquer pessoa pode observar por si só que não existem egos em lugar algum da natureza, a não ser na consciência humana. Os animais podem ser violentos até certo ponto, mas não possuem um ego. Eles não são violentos de maneira intencional e deliberada. A criança, quando nasce, é como um animal; não possui ego, porque ainda não tem capacidade de pensar e imaginar.”

P. Krishna, A ilusão do ego, Revista Sophia, Ano 4, Nº 13, p. 41

A IGNORÂNCIA É A CAUSA

 



“A última coisa que o homem descobre é a si mesmo. É uma verdade singular, e contudo universal, a de que, no homem, a sede por conhecimento houvesse de começar pelo mais distante e terminar pelo mais próximo. O homem primitivo estudou o firmamento, mas somente o homem moderno começa a explorar os mistérios de sua própria Alma.

Os seres humanos, em sua maioria, são mistérios para si próprios; e muitos ainda não se apercebem da existência do enigma. Se perguntássemos ao homem comum o que ele é em realidade, como ser vivente; que lhe sucede quando sente, pensa e age; qual é a causa da luta entre o bem e o mal de que é consciente em seu interior, ele não só seria incapaz de responder, como o próprio questionamento lhe pareceria estranho e novo. No entanto, não é ainda mais estranho que os indivíduos caminhem pela vida arcando com todas suas vicissitudes, passando pelos sofrimentos comuns a todos os homens, regozijando-se nos fugazes prazeres da vida, suportando sua incessante carga, e nunca perguntarem por quê?

Se deparássemos com um homem viajando com muito incômodo e fadiga, e ao lhe perguntarmos para onde estaria indo nos respondesse que nunca lhe havia ocorrido pensar em tal coisa, certamente o qualificaríamos de insano. Não obstante, é exatamente o caso da maioria dos indivíduos na vida trivial – seguem caminho, desde o nascimento até a morte, trabalhando arduamente durante todo o exaustivo trajeto da vida, e nunca perguntam por quê; ou, se o fazem, formulam a questão em termos superficiais, sem realmente tratar de encontrar a resposta.

Mas em sua longa peregrinação a Alma chega o tempo em que a vida se torna impossível a não ser que lhe conheça o motivo. É quando, desiludida do mundo circundante no qual o supremo contentamento jamais pode ser encontrado, a Alma abandona por um momento sua peregrinação frenética por ilusões e, em total exaustão, aquieta-se silenciosa e solitária. É nesse momento que nasce em seu interior a consciência de um novo mundo; é assim que, tendo desviado seu foco da fascinação do mundo circundante, a Alma descobre a permanente realidade do mundo interior, o mundo do Ser. Então, e só então, são respondidas as questões acerca da vida; porém, como disse Emerson, a Alma nunca responde verbalmente, mas pelo próprio objeto procurado.”

(J. J. Van Der Leeuw, Deuses no Exílio, Editora Teosófica, 2013, p. 15/16)


O VERDADEIRO SENTIDO DA EDUCAÇÃO (PARTE FINAL)




"(...) A criança precisa aprender, desde os primeiros anos de vida, a se manter limpa. Depois deve haver um treinamento dos sentidos, incluindo as cores e os sons. Uma das maneiras de entrar em contato com a vida na natureza é ouvir os seus sons. Os sentidos são as janelas da alma. Quando seu alcance aumenta, toda a superfície de contato com a vida também é aumentada. O pensamento e a formação de imagens, que é parte do nosso pensar, baseiam-se nas impressões dos sentidos. A imaginação não acontece no vácuo; ela é estimulada por nossas reações.

A apreciação das artes e a prática de uma arte específica para a qual a criança tenha aptidão deve ser parte do programa educacional. Esta é, com certeza, uma maneira de refinar e educar as emoções.

As emoções e sentimentos têm um papel mais vital que o corpo físico ou o intelecto. Até mesmo a saúde depende, em grande parte, da condição emocional da pessoa. Mas nossa educação não dá qualquer atenção a isso e baseia-se quase exclusivamente no cultivo da mente. Se pudermos estimular a capacidade de afeição e simpatia da criança para com os outros, estaremos dando um impulso à sua evolução.

Uma criança deve, desde os primeiros anos, aprender a ter consideração para com os outros em todos os contextos. Além disso, a educação deve preparar o indivíduo para continuar aprendendo pelo resto da vida.

Qual a finalidade da vida? Talvez seja mais vida, com a crescente compreensão de suas potencialidades e do poder de criar, de modo que possa fluir cada vez mais livremente e criar segundo a própria vontade. Deve-se ajudar as pessoas a atingirem o mais alto grau de inteligência possível e a serem livres para fazer uso dessa inteligência; então, em sua liberdade, elas poderão fazer o que desejarem. Educar deveria significar 'abrir avenidas' nos cérebros e corações dos jovens, avenidas que se alargarão e os levarão em frente em um processo de aprendizado incessante, através de uma corrente de reação construtiva do ambiente para a alma e da alma para o ambiente.

A alma do homem é imortal e seu futuro é o futuro de algo cujo crescimento e esplendor não têm limites. Por isso, a educação no sentido verdadeiro deve ser a educação do corpo, da mente e das emoções, de tal maneira que juntos formem um instrumento para a expressão da alma e a realização do seu propósito."

(N. Sri Ram - O verdadeiro sentido da educação - TheoSophia, publicação da Sociedade Teosófica no Brasil, Ano 99, Janeiro/Fevereiro/Março de 2010 - p. 33/34)

O VERDADEIRO SENTIDO DA EDUCAÇÃO (2ª PARTE)


"(...) Em educação, parece haver uma teoria segundo a qual a criança deveria ser deixada completamente livre para fazer o que quiser e aprender com as experiências. Mas não deveríamos dizer às crianças que não mergulhem em águas profundas sem saber nadar, ou que fujam de uma cobra venenosa? Deve-se dar às crianças o benefício das experiências de outras pessoas. Se em nome da liberdade a criança fosse deixada vagando pelas ruas e aprendendo por si mesma, não desenvolveria a capacidade de se proteger e de manter sua liberdade.

Qual deve ser a principal característica da educação nos primeiros anos de vida? Obviamente, a influência que cerca um novo ser - novo para todos os propósitos práticos - deve ser estimulante e salutar. A creche, a sala de aula e o lar devem ser coloridos, não 'anêmicos' ou indefenidos. Deve-se cercar a criança com coisas que propiciem o desenvolvimento da sua inteligência, sua capacidade de afeto e tudo o que há de melhor em sua natureza.

Não pode haver nada mais proveitoso para qualquer ser humano do que as influências da natureza, as árvores, as flores, a água corrente, etc. A criança tem um interesse natural por qualquer coisa viva, como as plantas e os animais.

Não sei se todos nós compreendemos o quanto o medo, na educação, é um fator inibidor e prejudicial. Mesmo que haja algo a ser corrigido na criança, o melhor método é explicar e convencê-la de que tal coisa é indesejável. O processo de crescimento é um processo de trazer para fora o que está dentro: suas qualidades inatas, seu gênio, seu talento. Isso só é possível numa atmosfera de liberdade. O instrutor deve se adaptar ao crescimento da criança, encarando os processos desse crescimento como prontos em que o auxílio, a instrução ou a orientação são necessários.

A criança tem uma natureza tripla: a natureza do corpo, das emoções e da mente. Ela se relaciona com tudo à sua volta nesses três níveis. Cada um desses aspectos precisa ser auxiliado para se expandir de um modo natural, sem distorção.

Nos primeiros anos de vida, talvez o crescimento e o controle do corpo requeiram mais atenção. Não é preciso dizer que a criança deve ser alimentada apropriadamente e que o corpo não deve ser negligenciado. O domínio do corpo físico, seu perfeito ajustamento e sua utilização de maneira graciosa e naturalmente expressiva o tornarão um instrumento apropriado para ser usado espiritualmente. Deve-se ajudar a criança a atingir uma certa medida de autocontrole, a coordenar seus movimentos, a usar adequadamente suas pernas e braços e a aprender boas maneiras. (...)"


(N. Sri Ram - O verdadeiro sentido da educação - TheoSophia, publicação da Sociedade Teosófica no Brasil, Ano 99, Janeiro/Fevereiro/Março de 2010 - p. 32/33)

O VERDADEIRO SENTIDO DA EDUCAÇÃO (1ª PARTE)



"A educação deve fazer parte do processo de expansão da vida, que sempre começa de dentro. A criança é maleável e ainda não possui o nível de autopercepção dos adultos; por isso, é extremamente importante que qualquer ensinamento seja oferecido de maneira agradável, sem violentar seu crescimento natural.

Esse esforço começa no nascimento da pessoa, se não antes. Devemos ter em mente que o fenômeno da expansão começa com uma natureza que não é condicionada nem autoconsciente e, portanto, é extremamente maleável. Ela pode facilmente ser afetada não apenas por ações que tenham o propósito de influenciá-la, mas também por influências sutis.

Embora o ambiente tenha grande importância, o mais importante para a criança são as pessoas mais próximas a ela. Mesmo que no ambiente haja muito sofrimento, se a influência dessas pessoas for do tipo certo, até mesmo o sofrimento em torno pode ser um meio de evocar na criança sentimentos de compaixão e simpatia.

A compreensão de que certas coisas não são agradáveis, que elas deviam ser diferentes ou não deviam existir, produz uma mudança na consciência e faz brotar a vontade e a capacidade de modificá-las. Portanto, o instrutor deve ser uma pessoa que possua conhecimento amplo e cuja natureza, incluindo seus pensamentos e emoções, seja útil à criança a cada momento. Podemos tentar entender como um instrutor deve ser e procurar pessoas que se aproximem desse perfil.

O ambiente para o crescimento da criança deve ser o melhor possível para esse propósito. O objetivo deve ser extrair de cada uma delas suas melhores qualidades e capacidades. Esse é o significado da palavra educação.

Se tudo o que houver de bom numa criança for fortalecido tanto quanto possível nos seus primeiros anos de vida, ela poderá mais tarde partir para o mundo, onde as influências estão muito misturadas, e enfrentar o que quer que seja com a sua força já desenvolvida. (...)"


(N. Sri Ram - O verdadeiro sentido da educação - TheoSophia, publicação da Sociedade Teosófica no Brasil, Ano 99, Janeiro/Fevereiro/Março de 2010 - p. 32)

A BUSCA CIENTÍFICA E ESPIRITUAL (Parte III)

 

    
          

    “Por que será que a busca científica tem progredido tanto, mas a busca espiritual tem andado para trás, tem afundado? Devemos examinar essa questão, porque ela é responsável pelo desenvolvimento assimétrico do homem e responsável pela atual condição da humanidade. Na busca científica o progresso é cumulativo; o que quer que o homem faça, o próximo cientista é capaz então de aprender num período de tempo mais curto e de acrescentar mais coisas. A busca espiritual não é assim. O fato de Buda ou Jesus Cristo terem descoberto uma ordem em sua consciência, uma dimensão de amor e compaixão, isso não ajuda seus filhos ou seus estudantes a descobrirem-na mais facilmente. O estudante deve descobrir por si próprio, fazendo ele mesmo toda a pesquisa. Não é apenas uma questão de conhecimento acumulado, de se ler a Blíblia, a literatura budista, ou a literatura hindu, ou qualquer literatura, porque apenas pela aquisição do conhecimento de todas as religiões, filosofias, etc., você pode se tornar um professor de filosofia, mas jamais se tornará um Buda.

    Até certo ponto isso é verdadeiro mesmo em ciência. Não apenas ensinamos as leis de Newton ao aluno no quadro negro; nós o levamos ao laboratório e, quando ele faz todas as experiências e vê como a lei opera, então aprende e diz, ‘Ah, é esse o significado’ e verdadeiramente compreende.

    Da mesma maneira, e muito mais ainda na busca espiritual, a pessoa deve aprender por si mesma e descobrir o que Jesus Cristo e Buda descobriram e descreveram. Infelizmente nem sempre é o que tem acontecido na história. (...) O crescimento interno deixou de acontecer e a compreensão não chegou às suas mentes. Assim, pode-se, por exemplo, encontrar uma pessoa que seja membro de uma igreja, que detenha uma alta posição religiosa, mas que seja extremamente cruel: ela não encontrou o amor e a compaixão em sua consciência. Não faz muita diferença no que ela acredita. Importa o que o ser humano é, e não o que ele pensa ou acredita.

    Mas temos sido muito ingênuos, muito tolos na persecução da busca espiritual. Aliás, no sistema educacional quase a eliminamos completamente. Acreditamos que ela não é necessária. Não basta dizermos às crianças o que deve fazer ou não. Basta? Será que a realização de certos tipos de ações trará gentiliza à consciência? Nós não inquirimos, nem ajudamos os nossos filhos a inquirir sobre isso. Não cultivamos absolutamente a busca espiritual. Passamos oito horas por dia durante quinze a vinte anos com uma criança ensinando-lhe como um foguete chega à lua, mas jamais lhe ajudamos a compreender seu relacionamento com o prazer, se o prazer é a mesma coisa que felicidade do espírito, ou se é o que causa a divisão entre os homens. Não explicamos às crianças o motivo pelo qual certas diferenças são vistas somente como diferenças enquanto outras criam divisões, etc. Até mesmo os adultos estão muito confusos a respeito dessas questões, e por que não estariam? A busca científica e material consome do homem vinte anos antes de ele se tornar um cientista, e não despendemos sequer algumas horas para a busca espiritual.

    Pensamos que basta acreditar em alguma coisa, continuar com alguns conceitos imaginários. Um homem tem uma crença e outro homem tem suas próprias ideias, sua própria crença, e os dois se matam. É assim que nascem as guerras religiosas. (...) O cientista busca a ciência. A não ser que ele também descubra a ordem no universo externo e compreenda essa ordem, ele não é um cientista; não é apenas uma questão de adorar um grande cientista ou aceitar a sua autoridade, o que ele afirmou, como sendo verdadeiro.

    Por que isso não se aplica à busca espiritual? Será que basta que um homem realize certa cerimônia, use um tipo particular de vestimenta e balbucie alguma coisa em sânscrito, latim ou grego, para que ele se torne um religioso, um homem espiritual? Não será preciso que ele tenha experimentado um estado interior de consciência? Não terá ele de entender de amor e compaixão antes de ser um religioso? Olhemos para o que tem acontecido na religião ortodoxa – vejamos o caso do Cristianismo. A Igreja dividiu-se em católicos e protestantes porque havia diferenças de opinião sobre como organizá-la, o que fazer e o que não fazer. Agora existem dois grupos de pessoas que são membros de diferentes igrejas, e tem havido entre esses dois grupos, como ocorreu na Irlanda, violência e morte. Mas o cristianismo começou com o Sermão da Montanha que diz: amai vosso próximo, voltai a outra face ao homem que vos atinge. Está claro que não temos sido inteligentes no campo da busca espiritual. (...)”

P. Krishna, Educação, Ciência e Espiritualidade, Ed. Teosófica, Brasília, 2013, pag. 21/25


A BUSCA CIENTÍFICA E ESPIRITUAL (Parte II)

 

                  



    “(...) Assim, se isso é verdade, se o homem tem sido realmente um destruidor, um perigo para o ambiente, para o habitat e para as formas de vida sobre a Terra, inclusive para a sua própria forma de vida, então faz sentido chamar a nós mesmos de civilizados? Sendo assim, o que deu errado? E o que estamos fazendo a respeito? O que estamos fazendo a respeito do crime que aumenta no mundo? Estamos tentando criar uma força policial melhor contra o crime, tentando pôr os criminosos na cadeia, desenvolvendo métodos melhores de prendê-los, mas isso não é tratar sintomas. O que será que faz de alguém um criminoso? O que será que produz a violência, e será que castigar as pessoas aprisionando-as põe fim a esse estado de coisas? Certamente que isso não é uma solução, é apenas um mecanismo de controle. Assim, tudo o que o governo está fazendo é tentando controlar a violência; e isso não a elimina. Se existem bilhões de seres humanos egoístas, agressivos, violentos, não há maneira como possamos organizá-los numa sociedade que seja pacífica não violenta e gentil. É a violência dentro do homem que se expressa na sociedade, como também as outras características do indivíduo.


    E onde o indivíduo está sendo formado? Que tipo de indivíduos estamos produzindo? Qual é o propósito da educação? Se formos realistas, devemos admitir que nossa meta em educação é produzir pessoas eficientes, altamente treinadas, disciplinadas, trabalhadoras, ambiciosas, que desempenharão suas tarefas na sociedade e serão bem-sucedidas, e com alguma esperança serão também líderes na sociedade. Esse é o nosso objetivo. Isso é o que todas as instituições de ensino estão tentando fazer: criar esse ser humano. Mas todas essas características estavam presentes em Adolf Hitler, que muitos consideraram a pessoa mais maléfica de nosso tempo. Ele era eficiente, devotado, trabalhador, ambicioso, um líder, e tinha todas essas qualidades a que almejamos em educação. Havia somente uma coisa que ele não tinha: a bondade. Ele não tinha o que se poderia chamar de uma mente religiosa, religiosa não no sentido tradicional, mas no sentido de uma mente que vive com amor, compaixão e humildade. Temos interesse em produzir uma mente assim? O nosso processo educativo está ajustado para isso? Se não está, que garantia existe de que não estamos produzindo pequenos Hitlers. Eles podem não ser tão ‘bem sucedidos’ quanto ele foi, mas o sistema educacional não está fazendo nada para evitar isso. O que poderemos esperar da sociedade, salvo o que está acontecendo? O holocausto, que talvez tenha sido o maior crime deste século, foi perpetrado numa nação constituída de pessoas altamente educadas. Pessoas altamente educadas organizaram-no. Elas tinham arte, cultura, música, ciência, tudo sofisticado. Portanto, nossa educação atual e aquilo a que ela almeja não são garantia contra a barbárie, que é o que estamos vendo na nossa sociedade à nossa volta.


    Assim, esta é a atual condição da humanidade: muito esperta, com conhecimentos avançados em ciência e tecnologia, mas primitiva em termos psicológicos. Podemos ter a habilidade de chegar à lua, de viajar pelo espaço, de construir computadores poderosos, mas não somos melhores do que o homem primitivo na habilidade de amar o nosso próximo. O homem ainda odeia outros seres humanos, ainda quer matar, ainda é muito primitivo internamente, e agora adquiriu o tremendo poder de ser capaz de realizar suas ambições e desejos. Foi este tipo de desenvolvimento assimétrico do ser humano que criou o perigo. O homem primitivo também matava, também era tribal, também se sentia inseguro, mas matava apenas com arco e flechas, e com adagas. Podemos agora dizimar uma nação com uma simples bomba, e chamamos isso de progresso.”

Continua......

P. Krishna, Educação, Ciência e Espiritualidade, Ed. Teosófica, Brasília, 2013, pag. 16/19

A BUSCA CIENTÍFICA E ESPIRITUAL (ParteI)

    

    Vimos, anteriormente na postagem do dia 30.04.21, que há três verdades teosóficas fundamentais que são linhas mestras para que haja uma transformação efetiva do homem em relação à vida.

    Embasados nessa verdade, já vimos aqui a Teosofia no Lar, através de textos de C. Jinarajadasa.

    Mas a educação formal tem grande importância para que nos tornemos cidadãos responsáveis conosco mesmos, com nossos familiares e a sociedade.

    Portanto, a educação no lar e a formal deveriam se complementar, numa simbiose, onde família e escola se veriam beneficiadas com as ações de uma e outra. Mas sabemos que não é assim que acontece. Infelizmente, esse é um sonho a conquistar.

    E como a sociedade se transforma dia a dia, para tratar desse tema, que seria Teosofia na Escola, escolhemos um autor mais recente, P. Krishna, o qual chefiou o Departamento de Física da Universidade de Benares e após 25 anos de pesquisa científica e uma convivência de longos anos com o filósofo J. Krishnamurti, dedica-se a temas como educação, ciência, espiritualidade, percepção holística da Realidade, etc. Foi Reitor do Rajaghat Education Center, da Fundação Krishinamurti, em Varanasi, Índia.

    Segue um excerto do seu livro “Educação, Ciência e Espiritualidade”.





    “Vamos considerar uma questão séria com que se defronta o nosso mundo atualmente e que deveria ser de grande preocupação para todas as pessoas que estejam interessadas no bem-estar da humanidade, que é a seguinte: Por que será que apesar de tanto progresso em ciência e tecnologia, de tantas instituições de educação e ensino superior, de todo o esforço que tem sido feito em se criar um moderno sistema educacional, e apesar dos excelentes instrutores espirituais em torno dos quais as igrejas ortodoxas e as religiões foram construídas, a humanidade verdadeiramente não encontrou a paz, a felicidade nem algo que pudesse chamar de genuíno bem-estar? O que será que estamos fazendo? É preciso fazer essa pergunta com toda a seriedade e examinar o melhor que pudermos nossas habilidades, para decidirmos se devemos seguir na mesma direção, ou se há algo fundamentalmente errado e precisamos seguir numa direção totalmente diferente? Sem fazermos essa pergunta, e sem adquirirmos uma compreensão profunda das questões, continuaremos na inércia, no impulso que já foi adquirido numa certa direção, nos direitos adquiridos que foram constituídos para nos sentirmos seguros sem verdadeiramente estarmos seguros, simplesmente seguirmos na mesma direção. Mas podemos estar seguindo na direção errada.

    Examinemos primeiramente as condições em que se encontra o mundo. Consideramo-nos altamente civilizados, modernos, pessoas educadas. Vamos então nos situar no presente, sem fantasiar, sem lisonjear a nós mesmos, sem ser depreciativos, optando apenas por ser objetivos. Para olharmos para nós mesmos dessa maneira, podemos fazer a seguinte experiência mental:

    Imaginemo-nos lá fora no espaço sideral em algum lugar olhando de lá para a Terra, nosso planeta, e imaginemos exatamente o que veríamos lá do espaço, se tivéssemos os meios de ver com detalhe o que está acontecendo no planeta, e observar a condição do planeta e da humanidade. Isso daria uma visão geral a respeito de nossa própria condição que é objetiva, sem ser emocional ou romântica. Se fizéssemos essa experiência, veríamos que o homem construiu cidades enormes nas quais vive; desenvolveu, através da ciência e da tecnologia, meios eficientes de transporte e de comunicação, e adquiriu enorme habilidade e poder com o uso da eletricidade. Construiu hospitais, sistemas de saúde, instituições de ensino; criou estruturas, governos, construiu uma certa cultura, tudo isso é parte da civilização humana.

    Veremos que pelo menos em vinte ou trinta lugares na Terra existem grupos de seres humanos que se acusam mutuamente, prontos para matar, e prevalecendo nesse caso ou a condição de discórdia e de guerra, ou na melhor das hipóteses, uma paz instável. E se não fôssemos parte da Terra, e sim seres espaciais olhando de lá para ela, iríamos nos perguntar o que está acontecendo. Por que essas pessoas estão tentando matar a própria espécie? Veríamos a violência nas cidades, as lutas religiosas, a desintegração da família, a pobreza extrema numa parte do mundo e extrema riqueza em outra. Tudo isso é a condição atual da humanidade.

       Se considerarmos a história, descobriremos que o homem tem uma história de guerras, de pessoas que construíram poder acumulado sob o nome de uma bandeira, de uma ideia – terras, propriedades, exércitos, tanto para proteger quanto para dominar. Será que podemos verdadeiramente chamar-nos de civilizados? Dizem que não existe uma única forma de tortura que possamos imaginar que já não tenha sido perpetrada pelo homem contra o seu próximo em algum momento ou outro. E não é coisa do passado ou algo que esteja acontecendo somente em alguns países atrasados. Mesmo nas nações mais progressistas, mais economicamente desenvolvidas não existe paz, o homem não é feliz, e há uma tendência crescente à violência e ao crime. Este é um fato inegável com o qual nos deparamos, o que nos faz questionar para onde estamos indo.”

Continua......

P. Krishna, Educação, Ciência e Espiritualidade, Ed. Teosófica, Brasília, 2013, pag. 9/12

REFLEXÃO SOBRE O KARMA

    Comentamos sobre a Teosofia no Lar por vários dias, e um dos pontos que merece reflexão é que todos os integrantes daquele grupo familiar não estão se encontrando ali por acaso, nem mesmo os animais domésticos. O que será que nos liga aos nossos pais, irmãos, filhos. E, podemos concluir que estamos como que entrelaçados uns aos outros. 
    O texto abaixo de Mabel Collis poderá nos levar a uma reflexão sobre os laços que formam a nossa família, inclusive os animais.

 
    "Imagina comigo que a existência individual é uma corda que está esticada do infinito até o infinito, e não tem nem começo nem fim, nem é possível que se rompa. Esta corda é formada por inúmeros fios finos que, estreitamente unidos, formam a sua espessura. Estes fios são incolores e perfeitamente retos, resistentes e nivelados. Esta corda, ao passar, como tem de passar, por todos os lugares, sofre acidentes estranhos. Frequentemente, um fio fica preso ou é puxado violentamente para longe de seu caminho normal. Então, por muito tempo ele permanece desordenado e desordena o todo. Algumas vezes um deles é manchado com sujeira ou com cor, e a mancha não apenas se espalha para além do ponto de contato, mas descolore outros fios. Lembra-te de que os fios estão vivos - eles são como fios elétricos, ou melhor, como nervos tensos. Como se espalha para longe a mancha tortuosa! Porém, no devido tempo, as longas cordas e os fios vivos, que em sua continuidade ininterrupta formam o indivíduo, emergem das sombras na direção da luz. Então os fios deixam de ser incolores e passam a ser dourados, e mais uma vez eles se nivelam em unidade. Mais uma vez a harmonia é restabelecida entre eles e, com base nesta harmonia interior, a harmonia maior é percebida.

    Esta ilustração apresenta uma pequena porção, um único aspecto, da verdade. Ela é menos do que um fragmento. No entanto, medita sobre ela e, através da ajuda desta ilustração, tu serás levado a perceber mais. O que importa saber em primeiro lugar não é que o futuro é formado arbitrariamente por atos isolados do presente, mas sim que há uma continuidade indivisível entre todo o futuro e o presente, assim como entre o presente e o passado. Quando percebida a partir de um plano, de um ponto de vista, a ilustração da corda está correta."


(Mabel Collins - Luz no Caminho - Ed. Teosófica, 5ª edição - p. 97/111)

TEOSOFIA NO LAR - OS ANIMAIS DOMÉSTICOS




"Os animais domésticos que vivem em nosso lar não são criaturas tão insignificantes, como as pessoas geralmente acham. A Vida Divina, que se encontra no homem, está igualmente no animal, mas nele se encontra num estado mais primitivo e, por conseguinte, menos evoluída. Esta vida deve acelerar o seu desenvolvimento pelo contato com o homem.

O dever do homem para com seus animais domésticos é o de suavizar a sua natureza selvagem e implantar neles os atributos humanos do pensamento, do afeto e da dedicação. Portanto, enquanto o animal nos dá sua força, trabalhando para nós, devemos usar essa força com a finalidade de humanizá-lo, porque há de chegar o dia em que conseguirá ser um homem. Ao treinarmos um cão para desenvolver sua inteligência, não devemos fazê-lo de modo a reforçar seus instintos animais, como quando treinamos nossos cães para a caça. Um gato doméstico pode ser ‘um bom caçador de ratos’, mas não foi por essa razão que Deus o guiou para a família onde vive. Quando treinamos cavalos, não deveríamos procurar apenas desenvolver a velocidade para participarem de corridas; os serviços que eles nos prestam deveriam ser recompensados, pela tentativa de desenvolver neles as qualidades que contribuirão mais para sua evolução em direção à humanidade do que a velocidade.

O princípio geral referente a nossas relações com os animais domésticos é que eles foram realmente enviados para junto de nós a fim de que, na medida do possível, os seus atributos animais de selvageria fossem substituídos por atributos humanos, porque o que hoje é um animal, algum dia será um homem, assim como no futuro o homem de hoje tornar-se-á um Deus. Aquele que contribui para que a Vida Divina progrida mais rapidamente pelo seu caminho ascendente, esse ajuda, com maior eficiência, a sua própria evolução."


(C. Jinarajadasa - Teosofia Prática – Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 22/23)

TEOSOFIA NO LAR (4)

 

    "Na educação das crianças, uma questão importante é como levar a criança a fazer o que é certo e não o errado."

        O autor discorre sobre a frase acima enfatizando que os pais tem a obrigação de educar os seus filhos, mas não através de castigos corporal, os quais causam um certo endurecimento nos veículos sutis da criança. Portanto, o ideal é que pais e professores pudessem compreender que a existência de uma alma não se refere a apenas uma vida.

        Porém, percebe-se que a criação de uma criança exige uma certa dose de comprometimento por parte dos pais. A vida que levamos hoje com inúmeras responsabilidades e afazeres, pode fazer com que a preocupação seja apenas com a qualidade material, em dar boa educação, por exemplo, deixando para segundo plano a importância da convivência e a transmissão de valores, através do exemplo diário.



    "A natureza superior da criança, representada por suas emoções latentes e por seus pensamentos, é muito sensível na infância; com cuidados especiais pode-se conseguir que a criança, ao crescer, adquira uma natureza emocional boa e alegre e uma mentalidade aberta e intuitiva. Qualquer tratamento  ríspido endurece seus sentimentos mais delicados, embora parece produzir bons resultados no controle do corpo físico. Os repetidos choques nessa delicada natureza acabam embotando e matando aquela elevada sensibilidade que deveria predominar em todos os homens e mulheres, como característica normal dos seres humanos.(...)

    Quando pais e professores compreenderem que todas as experiências de vida não devem ser condensadas a um curto espaço de tempo de uma única existência; que a a alma tem diante de si uma eternidade de crescimento; que ela tem o direito de fazer suas próprias experiências em sua existência, desde que não obstrua o desenvolvimento dos demais; que cada ser é individualmente responsável pelo mal ou bem que fizer; que os outros são responsáveis por ele, apenas pelo fato de serem seus irmão e semelhantes; então teremos uma visão mais clara sobre este tema educação e bem-estar da criança, e não haverá dificuldade para se estabelecerem métodos de disciplina infatil que dominem sua natureza animal sem prejudicar em nada sua natureza superior como alma."


C. Jinarajadasa, Teosofia Prática, Editora Teosófica, 2012, pgs. 14

SER MÃE NUM MUNDO EM TRANSIÇÃO

 


"Fala-se muito da terceirização da educação, como se as pessoas não tivessem mais disposição para educar seus filhos. Porém, o modo como nossa sociedade está estruturada leva a essa terceirização na maioria das atividades: deixamos de cozinhar para comer na rua; deixamos de limpar nossa casa e pagamos uma faxineira; deixamos de examinar nossa vida e vamos ao médico ou ao psicólogo para saber o que está acontecendo conosco. Ou seja,  há um processo contínuo de desvinculação de nós mesmos com atividades que, a rigor, deveríamos exercer.


Com a maternidade e a paternidade não poderia ser diferente. Tenho acompanhado alguns movimentos de resgate do contato de pais com filhos, que começa desde a gestação, abrange o parto e culmina na criação das crianças com a devida interação. Uma mãe em sintonia com seu filho e com seu companheiro é uma fortaleza poderosoa frente aos estímulos constantes que tendem a nos preocupar: Como ficar rico? Como ser belo? Como ter a saúde perfeita? Como ser um profissional bem-sucedido?

É como se estivéssemos participando de uma corrida; quem chega primeiro é vitorioso. Contudo, será que precisamos correr? Será que o melhor não é justamente desacelerar? Cuidar intensamente de um filho requer um grande desapego de muitos ideais que nos foram impostos; requer doação, paciência, flexibilidade. Esses valores não costumam ser divulgados nos canais de TV e nem ensinados na escola. Por isso, ser mãe é um renascimento. É um resgate de virtudes que fazem muita diferença na nossa vida, principalmente para as pessoas com que convivemos.

O amor por um filho é algo sublime, na medida em que é livre de expectativas, por não requerer nada em troca. É como um portal, onde o amor cresce em nossos corações e todos aqueles que nos rodeiam são beneficiados. Estar atento para esse processo é de suma importância, e é na convivência intensa com seres que são pura pulsão existencial que descobrimos esse universo de amor e doação de que o mundo tanto precisa."


(Samira Santana de Almeida - Ser mãe num mundo em transição - Revista Sophia, Ano 15, nº 67 - p. 29)

TEOSOFIA NO LAR (3)

 

    Este livro que estamos estudando, Teosofia Prática, é resultado de palestras proferidas em Chicago em 1910 e posteriormente em Burma, na Convenção anual de 1914, por C. Jinarajadasa, o qual foi eleito Presidente da Sociedade Teosófica em 1945.

Essas informações são importantes para nos situarmos na época em que essas palestras foram escritas e que, os hábitos, costumes e valores de vida eram difernetes dos de hoje.

Porém, determinados valores de conduta moral em relação à vida humana, o respeito às leis que regem a natureza e aos demais membros de uma sociedade, são pétreas, isto é, não mudam ao sabor de algum modismo.

O entendimento de que uma alma quando chega à encarnação deva ser "agasalhada" por seus pais e demais membros da família, permanece, pois ela depende totalmente dessas pessoas que formam esse núcleo familiar. E dessa forma, os pais estarão colaborando com o Plano de Evolução. 




        "Embora seja dever dos pais rodearam as crianças de tudo o que possa desenvolver a bondade e a beleza, não se pode responsabilizá-los obrigatoriamente, se apesar dessas precauções, alguma criança manifestar tendências malignas. Pode acontecer que a alma da criança possua germens do mal demasiadamente poderosos para serem dominados; neste caso, os pais somente devem tentar guá-la, mas, se ela não aceitar, não se pode fazer outra coisa senão deixá-la seguir o seu caminho. A alma aprenderá por meio dos seus erros e dos sofrimentos que eles resultarem, tanto para si como para os que a rodeiam. Se os pais cumpriram seu dever, fizeram tudo o que o Plano Divino esperava deles; não lhes é possível fazer ou desfazer a natureza de uma alma, porque compete a ela mesma trabalhar por sua própria salvação. Um erro não é uma calamidade tão grande como pode parecer, já que uma alma não tem apenas uma vida para corrigir-se, mas várias.

        O Plano Divino proporciona à alma tantas oportunidades quantas forem necessárias, para que finalmente adquira força e virtude. Portanto, nenhum pai que tenha cumprido o seu dever, pode considerar-se culpado se a criança não corresponder aos ideias da virtude. As oportunidades que a criança recusa, surgirão novamente, mas apenas depois que ela aprender, através do sofrimento, a aproveitá-las. O que os pais deverão fazer sempre nessas circunstâncias é não considerar a alma somente pelos seus fracassos, aumentando assi suas debilidades, mas pensar em suas virtudes, e assim reforçá-las."

continua.....

C. Jinarajadasa, Teosofia Prática, Editora Teosófica, 2012, pgs. 14






TEOSOFIA NO LAR (2)

 

    Dando continuidade aos textos de C. Jinarajadasa, sobre como podemos aplicar o conhecimento teosófico no convívio familiar, vimos anteriormente que o lar é um encontro de almas e que todos os integrantes, inclusive os animais domésticos já estão dentro de um contexto prévio. E a responsabilidade dos pais em conduzir a criança através de diversas experiências para  alcançar o seu desenvolvimento.

    E hoje, veremos como essa condução pode ser feita, para que os pais cumpram a sua nobre missão de ajudar no desenvolvimento de uma alma que lhe foi confiada.


    Isso precisa ser feito, em primeiro lugar criando um ambiente favorável a uma vida sadia; é dever dos pais conhecerem as regras de higiene e salubridade, para que as condições físicas da criança possam ser as mais perfeitas possíveis. Em seguida, os pais deve prover uma atmosfera emocional e mental que ajude a criança. A alma da criança não é perfeita; ela vem de vidas anteriores nas quais tanto foi má quanto boa; portanto, ao voltar a um novo nascimento na Terra já existm nela as duas tendências.
     Mas os pais podem ajudar a evolução da criança, fazendo-a recordar, nos primeiros anos de sua infância, apenas as experiências boas e caridosas e não as más e cruéis. É verdade que a alma deve erradicar o mal em si apenas através de sua própria ação; mas os outros podem facilitar essa tarefa por meio de sua influência, especialmente quando a alma que necessita de auxílio começa uma nova vida como criança, enfatizando o seu lado bom e não o mau.
      Portanto os pais devem compreender a invisível força do pensamento e da emoção, saber como um pensamento de cólera, por exemplo, manifestado ou não, alimenta as sementes da ira que a criança tenha trazido de suas vidas passadas, enquanto que pensamentos de amor e carinho destroem os germens do mal e, ao mesmo tempo, alimentam as sementes do bem. Uma alma possuidora de tendências boas e más pode principiar a sua nova experiênxia de vida sendo uma criança muito boa em vez de má, se os pais alimentarem nela bons pensamentos e sentimentos em vez de maus."

continua....
 

C. Jinarajadasa, Teosofia Prática, Editora Teosófica, 2012, pgs. 14

TEOSOFIA NO LAR (1)

 

   


 "O que é a família à luz das verdades teosóficas? A família é um ponto de encontro de almas, com o objetivo de se ajudarem reciprocamente no caminho da perfeição. Nenhum indivíduo chega a uma família, simplesmente, por acaso. Os mais velhos e os mais jovens, os donos da casa e os seus auxiliares, os hóspedes e até os próprios animais domésticos encontram-se reunidos numa família, porque cada um desses seres deve ajudar os demais e necessita,  por sua vez, do auxílio deles. No Plano Divino, nada existe que se pareça com o que denominamos sorte; todos os indivíduos de uma família fazem parte dela, por um longo ou curto período, porque podem cooperar para o bem estar dos demais membros. Cada um tem um papel definido na família, e o desenvolvimento de sua alma está condicionado à maneira como desempenhar essa missão, utilizando o máximo de sua capacidade. O lar é um lugar de crescimento e o lar ideal é aquele em que as condições são tais que permitam aos que nele habitam atingir a sua perfeição, o mais rapidamente possível.

    Analisemos em primeiro lugar, a relação entre pais e filhos. A criança possui uma dupla natureza: em primeiro lugar, como uma alma e, em segundo, como um corpo. Os pais proporcionam somente o corpo; a alma da criança vive sua vida independentemente e toma posse desse corpo somente porque espera evoluir através dele. É apenas em relação ao corpo da criança que os pais são os mais velhos; mas, como alma, ela é igual aos seus pais, e, em muitas ocasiões mais preparada, mais evoluída, mais sábia que eles. Portanto, a criança não pertence a seus pais; eles são apenas guardiões de seu corpo enquanto a alma não puder dirigi-lo plenamente durante a infância e a adolescência.

    As palavras 'meu filho' não lhe dão o direio algum sobre o destino da criança, mas apenas o privilégio de colcaborar na evolução de uma alma irmã. À medida que os pais evoluem, aprendendo auxiliar os seus semelhantes, uma alma irmã lhes é encviada como filho.

    Durante o tempo da infância, o dever dos pais é ajudar a alma da criança a dominar plenamente o seu corpo e capacitá-la assim a cumprir sua missão. Essa alma traz muitas experiências de vidas passadas e ela está se preparando para um grande trabalho no futuro distante. Ela nasce numa determinada família, porque esse ambiente é ao mesmo tempo o que ela merece e o que lhe vai proporcionar as experiências necessárias a seu desenvolvimento. O dever dos pais é ajudar a criança a adquirir essas experiências."

continua...

C. Jinarajadasa, Teosofia Prática, Editora Teosófica, 2012, pgs. 11/13



TEOSOFIA PRÁTICA

         Quando aplicamos a Teosofia no nosso dia-a-dia, os valores morais e éticos que vamos alicerçando com o passar do tempo se tornam um valor inestimável. Através do conhecimento e da aplicação das Leis que regem a natureza nos tornamos pessoas cônscias de nossas responsabilidades em relação ao outro, à sociedade e ao planeta, independente de leis promulgadas diariamente a fim de satisfazer algum segmento da sociedade.

       As virtudes desenvolvidas através dessa prática diária são levadas para a eternidade, fortalecendo o  caráter da pessoa, de forma que as adversidades que se apresentam à sua frente, não a desnorteiam. Apesar dessas dificuldades ela terá condições de discernir o qual caminho tomar e continuar sua jornada. 

       C. Jinarajadasa aborda esse tema sobre o que é chamado de verdades fundamentais para a evolução dos seres humanos, aplicado nas diversas atividades diárias. E, como falamos muito sobre a necessidade de fortalecer o caráter através do autoconhecimento e da aplicação dessas leis fundamentais, começamos hoje a trazer excertos do "Teosofia Prática", no qual  Jinarajadasa faz reflexões sobre como aplicar a Teosofia no viver diário.

       Primeiramente, veremos quais são as verdades fundamentais, que depois de conhecidas e compreendidas, dificilmente nos separamos delas.


        "Há três verdades teosóficas fundamentais que transformam a atitude do homem em relação à vida, quando ele começa a vivenciá-las. Estas verdades são:
1. O homem é uma alma imortal que evoluiu   através dos tempos até tornar-se um ideal de perfeição.

2. O desenvolvimento da alma ocorre quando ela    aprende a coopoerar com o Plano Divino, que é        a Evolução.

3. O homem aprende a cooperar com o Plano  de      Deus, em primeiro lugar, quando começa a ajudar os seus semelhantes.

       A primeira verdade nos ensina que o homem é uma alma e não um corpo; que o corpo é somente um instrumento usado pela alma e descartado por ela na ocasião da morte, quando já não serve mais aos seus propósitos. Esta primeira verdade também nos fala de Reencarnação ou processo de repetidos nascimentos na Terra, método por meio do qual a alma cresce através das experiências que acumula vida após vida, aumentando gradativamente sua sabedoria, força se beleza.
      A segunda verdade nos diz que o objetivo da vida não é a contemplação, mas a ação, e que cada ação da vida de um homem deveria ser orientada pela compreensão de que ele precisa se enquandrar harmoniosamente no Plano Divino da Evolução. (...)
        A terceira verdade nos ensina que cada homem está ligado por laços invisíveis a todos os seus semelhantes, que eles crescem e caem com ele do mesmo modo que seu destino está ligado ao deles; que somente quando ele ajuda o todo do qual é parte, realmente estará ajudando a si mesmo. O amor para com os nossos semelhantes e o altruismo em sua mais alta forma são, portanto, coisas essenciais ao nosso desenvolvimento."

C. Jinarajadasa, Teosofia Prática, Editora Teosófica, Brasília, 2012, pg. 7 a 9.

ÓRGÃOS FÍSICOS DA CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL


 

     "Há certos órgãos no corpo físico que são, uma vez desenvolvidos, o meio pelo qual a consciência espiritual e também a conscientização do reino psíquico podem ser trazidos à consciência física. As duas glândulas no cérebro, o corpo pituitário e a glândula pineal, são muito importantes a este respeito. Durante a vida, o cérebro, com todas as câmaras e centros, pulsa com luz. Mediante um esforço espiritual constante isto se intensifica e a luz toma um movimento oscilante. 'O arco da pulsação do corpo pituitário eleva-se, mais e mais, até que, qual uma corrente elétrica quando se choca com um objeto sólido, a corrente finalmente atinge a glândula pineal, e o órgão adormecido é despertado e posto a brilhar com o puro fogo Akáshico'.(1) Um vez desperta a glândula pineal, 'a luz que se irradia deste sétimo sentido ilumina os campos da infinidade. Por uma pequena fração do tempo o homem se torna onisciente; Passado e Futuro, Espaço e Tempo tornam-se para ele o presente (o Eterno Agora dos filósofos). Se é um Adepto, ele armazenará em sua memória física o conhecimento assim adquirido e nada, salvo o crime de se permitir magia negra, pode obliterar essa lembrança. Se é somente um chela (discípulo), apenas fragmentos de toda a verdade se imprimirão em sua memória, e ele terá de repetir o processo por muitos anos, nunca deixando que um grão de poeira o macule, mental ou fisicamente.'  

    Portanto a glândula pineal é o órgão físico para trazer a consciência espiritual à consciência física, e a glándula pituitária é o órgão para despertar a consciência do plano psíquico circundante. Ela é ligada também com os olhos e com o centro etérico entre as sobrancelhas. Outros transmissores físicos das impressões interiores são os sete grandes centros, mais ou menos correspondentes aos grandes plexos nervosos, chamados no Oriente Chacras ou 'Rodas'por causa de seus movimentos de rotação. Eles estão situados na base da espinha, próximo ao baço, na cintura (o familiar plexo solar), no coração, na garganta, entre as sobrancelhas e no topo da cabeça. Todos estes são, quando completamente desenvolvidos, órgãos de visão interior e de resposta. Eles podem ser desenvolvidos, especialmente, por certos meios ocultos, ligados com o estímulo e direção do 'fogo de Kundalini', enrolado na base da espinha, mas isto é muito perigoso e doloroso; a menos que seja feito sob a direção de um verdadeiro Adepto, deve ser deixado de parte. Os diversos chacras devem ser desenvolvidos natural e lentamente por uma vida espiritual e altruística.

      Há também três canais para o acesso das forças espirituais na espinha, chamados no Oriente os 'alentos vitais'. Um sobe em linha reta no centro da espinha e se irradia do grande chacra no topo da cabeça. Este é chamado no Oriente o Sushumna Nadi. Ele é acompanhado em cada lado por dois outros, um positivo e outro negativo, de acordo com as forças que veiculam, e chamados respectivamente Ida e Pingala. Eles se cruzam da maneira representada no símbolo antigo do Caduceu e, finalmente, um penetra no corpo pituitário e outro na glândula pineal. As asas no símbolo indicam a alma livre do homem que aprendeu a despertar e usar os poderes ocultos. É um fato interessante que as forças positivas e negativas agem em direções opostas nos corpos dos homens e das mulheres. 

    Pode-se discernir uma sensação de queimadura ou calor em certas partes da espinha. A mesma sensação poderá ser percebida às vezes na vizinhança dos chacras, bem como uma sensação de formigamento, assemelhada, no Oriente, ao 'movimento de uma formiga' Um estado de meditação acarreta por vezes uma sensação de calor. Esses pequenos sintomas são indicações de movimento e vida, mas não é necessário que sejam levados muito a sério. 

    A presença dos três 'alentos vitais' na espinha é uma das razões porque a postura de meditação, chamada posição “Lótus”, é a favorita no Oriente. Esta consistem em sentarse com as pernas cruzadas como se cruzam os braços, descansando assim sobre os ossos pélvicos e deixando a espinha ereta e livre. Isto é às vezes difícil de ser conseguido pelos ocidentais com seu ossos enrijecidos. 

     Cumpre que se diga aqui uma palavra sobre exercícios respiratórios, chamados Pranayama no Oriente. Esses, mais uma vez, não devem ser feitos por Ocidentais, exceto sob a direção de um professor Adepto. Eles, algumas vezes, produzem resultados desastrosos, e põem aqueles que o praticam sob o controle de forças com os quais o aprendiz não está apto a lidar. 

     A respiração comum, completa e profunda, é uma prática excelente, mas não outras formas, tais como aquelas que consistem em reter a respiração, por exemplo. O que há de racional no Pranayama é a conexão sutil entre a respiração e os estados mentais, como podemos ver por nós mesmos, pois não é coisa fácil pensar claramente numa sala abafada. Em estados profundos de meditação, a respiração se altera naturalmente. Tudo que eu escrevi acima é interessante e, espero, um tanto útil. Mas o verdadeiros resultados da meditação e aspiração não param aqui. Para ver o verdadeiro resultado, olhe para trás, depois de um ano de prática e observe a sensibilidade progressiva para o invisível e para as coisas sutis, o gradual aprofundamento e purificação do caráter, a ampliação da perspectiva, o aumento da desposta simpática e afável às necessidades dos outros e a aurora do sentido de proximidade da Eternidade.

1.A Doutrina Secreta, III, 505. 

Clara Codd,  Técnica da Vida Espiritual. Ed. Teosófica, pg. 81