A PALAVRA E O CAMINHO



 "Se pensarmos um pouco mais sobre o dom divino da fala, poderíamos ser mais conscientes no modo como a usamos. A fala é um reflexo do poder divino que está dentro de nós. É muito considerada nas Escrituras de inúmeros povos do mundo. Na Bíblia, as primeiras palavras do Evangelho de São João afirmam, que 'no princípio era o Verbo' - a fala não como nós a entendemos, mas talvez no sentido do som que traz todas as coisas à existência.

Quando João fala da vinda do Grande Intrutor, do surgimento de um Avatar, a linguagem usada é: 'E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós'. Uma compreensão clara do poder da palavra, corretamente entendida, é algo que perpassa as religiões do mundo.

Em A Doutrina Secreta, H. P. Blavatsky escreveu sobre o som e a fala: 'Pronunciar uma palavra é evocar um pensamento, e torná-lo presente: a potência magnética da fala humana é o começo de toda a manifestação no Mundo Oculto.' Blavatsky escreve a respeito da capacidade da fala de magnetizar, de atrair para si. Isso não se relaciona apenas às práticas ocultas conscientes, mas às conversas normais em que nos engajamos de momento a momento.

Na maioria das vezes usamos a fala sem sabedoria. Segundo Blavatsky, emitir uma palavra é evocar um pensamento e torná-lo presente. Toda a palavra que dizemos, seja casual ou profunda, traz um pensamento à nossa presença e à presença dos outros. Ela prossegue dizendo: 'Emitir um nome não é apens definir um ser, mas colocá-lo sob a influência de uma ou mais potências ocultas.' Assim, ao simplesmente dizermos um nome, nós nos engajamos num ato que registra a participação de 'potências' cooperativas."

Tim Boyd, A palavra eo caminho, Revista Sophia, nº 87, pág. 6.

DESEJO, PENSAMENTO, AÇÃO


"O terceiro estágio do contato do Ser com o não Ser é a ação. A mente, tendo percebido o objeto do desejo, leva à ação, orienta e molda a ação. Frequentemente se diz que a ação surge do desejo, mas o desejo sozinho poderia apenas estimular movimento ou ação caótica. A força do desejo é propulsora, não diretiva. É o pensamento que acrescenta o elemento de direção e molda a ação deliberadamente.

Desejo, pensamento e ação - este é o ciclo sempre recorrente na consciência.

A força propulsora do desejo desperta o pensamento; o poder diretivo do pensamento guia a ação. Esta sequência é invariável, e sua clara compreensão é da mais profunda importância, pois o controle efetivo de conduta depende desta comprensão e de sua aplicação na prática. A moldagem do karma só pode ser realizada quando essa sequência é compreendida, pois somente assim é possivel separar a ação evitável da inevitável.

É pelo pensamento que podemos mudar o desejo e, consequentemente, mudar a ação. Quando a mente vê que certos desejos levaram a pensamentos que direcionaram ações que foram produtoras de infelicidade, ela consegue resistir a futuros impulsos de desejo de semelhante direção, recusando-se guiar as ações para um resultado que já sabe ser desastroso. Ela pode imaginar os resultados dolorosos e assim despertar a energia repulsiva de desejo, e pode imaginar o feliz resultado dos desejos de um tipo oposto. A atividade criadora do pensamento pode ser exercida na moldagem do desejo, e sua energia propulsora pode ser guiada numa melhor direção. Desta maneira, o pensamento pode ser usado para dominar o desejo e tornar-se soberano, em vez de escravo. Assegurando assim o controle sobre seu indisciplinado companheiro, dá início à transmutação do desejo em vontade, transferindo do exterior para o interior o controle da energia que flui - dos objetos externos que atraem ou repelem para o Espírito, o governante interior."

Annie Besant, Um Estudo Sobre a Consciência, Ed. Teosófica, Brasília, 2014, pgs. 180/181

A RELAÇÃO DESEJO PENSAMENTO


 "Temos agora de considerar a relação que o desejo tem com o pensamento, e ver como ele a princípio governa e depois é governado pelo pensamento.

A Razão Pura é o reflexo do aspecto 'sabedoria' da Mônada, e aparece no Espírito humano como Buddhi. Mas não é na relação do desejo com a razão pura que estamos interessados, pois, na verdade, não se pode dizer que ele esteja diretamente relacionado à sabedoria, mas ao amor, a manifestação da sabedoria no plano astral. Devemos antes buscar a relação com o aspecto 'atividade' da Mônada, que aparece no plano astral como sensação e no mental como pensamento. Também não estamos interessados sequer na mente superior, que é atividade criativa, Manas, em sua pureza, mas em seu reflexo distorcido, a mente inferior. É essa mente inferior que está imediatamente relacionada ao desejo, e inextricavelmente entremesclada com ele na evolução humana. Na verdade, estão tão intimamente unidos que frequentemente são referidos por kâmas-manas - desejo-mente - como uma coisa única, tão raro é, na consciência inferior, um simples pensamento que não seja influenciado por um desejo. 'Manas é verdadeiramente duplo, puro e impuro; o impuro é determinado pelo desejo, o puro é livre do desejo'.

Essa mente inferior é 'pensamento' no plano mental; sua propriedade característica é que ela afirma e nega; conhece pela diferença, percebe e lembra. No plano astral, como vimos, o mesmo aspecto que no mental é pensamento aparece como sensação, e é despertado pelo contato com o mundo exterior.

Quando um prazer tiver sido experienciado e tiver se esvanecido, surge o desejo de experienciá-lo novamente, como vimos. E esse fato implica memória, que é  uma função da mente. Aqui, como sempre, somos lembrados de que a consciência está sempre agindo em sua natureza tripla, embora um ou outro aspecto possa predominar, pois mesmo o desejo mais germinal não pode pode surgir sem a memória estar presente. A sensação causada por um impacto externo deve ter sido muitas vezes despertada antes de a mente estabelecer uma relação entre a sensação de que está consciente e o objeto externo que causou a sensação. Por fim, a mente, 'percebe' o objeto, ou seja, relaciona-o a uma de suas prórpias mudanças, reconhece uma modificação em si mesma causada pelo objeto externo. As repetições dessa percepção estabelecendo um elo definitivo na memória entre o objeto e a sensação prazerosa ou dolorosa, e quando o desejo pressionar em busca da repetição e do prazer, a mente lembrará o objeto que supriu aquele prazer. Assim, a combinação de pensamento com desejo faz nascer um desejo particular, encontrar e se apropriar do objeto que causa prazer.

Esse desejo impele a mente a exercer sua atividade inerente. O anelo não satisfeito causa desconforto, e esforços são envidados para escapar do desconforto pelo provimento do objeto desejado. A mente planeja, maquina, leva o corpo à ação para satisfazer as ânsias do desejo. E similarmente, também impelida pelo desejo, a mente planeja, maquina, leva o corpo à ação para evitar a recorrência da dor causada por um objeto reconhecidamente doloroso.

Tal é a relação do desejo com o pensamento. Ela incita, estimula, incentiva esforços mentais. Em seus estágios primitivos a mente é a escrava do desejo, e a rapidez de seu crescimento é proporcional às violentas incitações do desejo. Nós desejamos, por isso somos forçados a pensar."

Annie Besant, Um Estudo sobre a Consciência, Ed.Teosófica, Brasília, 2014, pgs. 178/180

A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO

 


"Na história bíblica do filho pródigo, o significado metafísico dos 'dois filhos' (Lucas 15:11) descreve os dois aspectos da alma ou consciência. O filho que permaneceu em casa é o filho religioso ou ético; o filho que seguiu para um país distante é a encarnação da alma humana em todos os prazeres dos sentidos e das paixões. Ir para um país distante é separar a consciência de sua fonte-mãe. O primeiro passo para conseguir retornar à casa do pai é o arrependimento e a confissão. Se estivéremos verdadeiramente arrependidos, o pai perdoará; ele terá compaixão, e a recompensa da mente divina será vertida sobre nós.
Quando há unidade entre o sentido externo e o espírito interno (o retorno do filho mais jovem à casa de seu pai), há muito regozijo; a vitalidade e a compreensão despertam. O 'bezerro cevado' é a riqueza da força sempre à espera da alma carente. Quando todas essas relações tiverem sido estabelecidas entre o interior e o exterior, haverá regozijo. O homem morto para os sentidos é revivido na consciência do espírito; o perdido é encontrado."

John Vorstermans, Despertando a mente-coração, Revista Sophia, pg. 34.


O DESPERTAR DO DESEJO

 



"Remetemos todas as nossas sensações ao mundo astral. Os centros por meio do qual sentimos estão no corpo astral, e as reações desses centros para estabelecer contatos dão origem a sentimentos de prazer e dor na consciência. O fisiologista comum segue o curso das sensações de prazer e dor desde o ponto de contato até o centro cerebral, reconhecendo apenas vibrações nervosas entre a periferia e o centro, e, no centro, a reação da consciência como sensações. Nós seguimos as vibrações até mais além, encontrando apenas vibrações no centro cerebral e no meio que o permeia, vendo no centro astral o local em que ocorre a reação na consciência. Quando há um deslocamento entre os corpos físico e astral, seja pela ação de clorofórmio, éter, gás hilariante ou outras drogas, o corpo físico, apesar de todo o seu aparato nervoso, se percebe como se não tivesse nervos. Os elos entre o corpo físico e o corpo de sensações são desligados, e a consciência não responde a nenhum estímulo aplicado.

O despertar do desejo ocorre nesse corpo de sensação, e segue os primeiros vagos sentimentos de prazer e dor. (...)

Da vontade de viver surge a ânsia de experienciar; e no veículo inferior essa ânsia, aparecendo como desejo, torna-se, por um lado, o anseio por experiências que façam o sentimento de vida mais vívido, e por outro, um retraimento de tudo que enfraquece e deprime. Essa atração e essa repulsão são igualmente da natureza do desejo. Tanto a atração quanto a repulsão são decorrentes do desejo; e são elas as duas grandes energias motrizes na vida, nas quais todos os desejos são afinal convertidos. O Ser torna-se escravo do desejo, da atração-repulsão, e é atraído daqui para ali, repelido disto ou daquilo, precipitado entre os objetos que causam prazer e os que causam dor, como um navio desgorvernado em meio às correntes de ar e mar."

Annie Besant, Um Estudo sobre a Consciência, Ed. Teosófica, 2014, pgs. 176/178


QUANDO VOCÊ DISSER 'NÃO' À TENTAÇÃO, MANTENHA A PALAVRA

 


"Quando você diz 'não' à tentação, precisa manter a palavra. Não ceda. O covarde de caráter débil diz 'sim' o tempo todo. Mas as grandes mentes estão cheias de 'não' às tentações. Os de vontade fraca se tornam capachos, onde todos pisam e limpam os pés - e bem que merecem esse tratamento, por cederem à própria fraqueza. Lembre que a tentação pode aparentemente oferecer algo muito agradável no início mas leva à ansiedade de se estar sempre buscando algo diferente, sempre buscando novas emoções. Resistir à tentação não significa negar-se todos os prazeres da vida, e sim ter controle total do que se quer fazer. Estou mostrando o caminho da verdadeira liberdade, e não o falso senso de liberdade que o obriga a fazer o que os hábitos sugerem."

Paramahansa Yogananda, O Romance com Deus, Self-Realization Fellowship, p. 332.




O MUNDO INVISÍVEL

 



"Um dos objetivos do trabalho teosófico é mostrar a importância do invisível - enquanto demolimos as supersições a seu respeito, que têm raízes no falso conhecimento. A ausência do verdadeiro conhecimento causa danos. A ignorância é ruim, mas o falso conhecimento é pior.

Como a pessoa começa a adquirir um correto conhecimento consigo mesma?  O que ela é? Apenas um corpo de carne e sangue? O que é a mente? Qual é a relação entre cérebro e mente? O que são as emoções? De onde vêm a depressão e a alegria, a torpeza e a magnanimidade? Como se pode vencer o ciúme e desenvolver a gentileza? Já que o dinheiro não pode comprar a paz da mente, o que pode proporcioná-la? Se a agitação emocional afasta o sono, o que pode ser invocado para abençoar aquele que está agitado e trazer a calma e repouso? Aqui estão alguns dos aspectos do invisível que nos tocam até a medula; é com eles que a pessoa deve começar.

Antigamente a religião não era uma matéria de fé cega; buscava-se o conhecimento da religião, e os homens pios a ensinavam de inúmeras maneiras diferentes. Os antigos textos religiosos indicavam que existia um conhecimento inestimável. (...)

Este conhecimento pode ser encontrado na Religião-Sabedoria dos antigos; para o mundo moderno ele está disponível através da teosofia - a religião científica, a ciência religiosa. Nos autênticos livros teosóficos, homens e mulheres encontraram informação diponivel a respeito do espírito, da alma, do corpo; a respeito de seus humores causada por egoísmo inflado. (...) Somente as verdades fundamentais da genuína ciência da alma podem ajudar a evolução do ser humano e o desabrochar da visão espiritual. Poderes espirituais e  divinos estão adormecidos em cada pessoa; quanto maior o alcance de sua visão espiritual, mais poderoso será o deus dentro dela."

D. P. Sabnis, O Mundo Invisível, Revista Sophia, nº 86, pgs. 5/7

A VONTADE DE VIVER



 "É para o estudo da Vontade - que aparece como vontade no plano superior e como desejo no inferior - que estamos agora voltando a nossa atenção; e o estudo do desejo leva-nos ao estudo da emoção, indissoluvelmente ligada a ele. Já vimos que estamos aqui porque quisemos viver nos mundos inferiores, que a vontade determina nossa permanência aqui. Mas a natureza, o poder e o trabalho da vontade são em grande parte muito pouco compreendidos, pois nos estágios primitivos da evolução ela não se manifesta nos planos inferiores a não ser como desejo, e deve ser estudada como desejo antes que possamos compreendê-la como vontade.

Vontade é o poder por trás da cognição que estimula a atividade. O pensamento é a atividade criativa, mas a vontade é a força motriz. Nossos corpos são como são porque o Ser, durante incontáveis idades, quis que a matéria fosse moldada em formas por meio das quais pudesse conhecer e energizar tudo fora de si mesmo. (...)

Este é o segredo, a força motriz da evolução. É verdade que a grande Vontade traça a estrada da evolução. É verdade que inteligências espirituais de muitas gradações guiam as entidades em evolução ao longo dessa estrada."

Annie Besant, Um Estudo sobre a Consciência, Editora Teosófica, 2014, pgs. 171/173

A NATUREZA DA MEMÓRIA - (CONCLUSÃO)



LEMBRANÇA E ESQUECIMENTO

"Apliquemos isso a um evento em nossa vida passada. Algumas das circunstâncias 'permanecem em nossa memória', outras são 'esquecidas'. Na verdade, o evento existe com todas as circunstâncias circundantes, igualmente 'lembradas' e 'esquecidas', em apenas um estado - a memória do Logos, a Memória Universal. Qualquer um que seja capaz de se colocar em contato com essa memória pode recuperar toda a circunstância na medida de sua capacidade; os eventos pelos quais passamos não são nossos, mas fazem parte do conteúdo de Sua consciência; e o senso de propriedade que temos deles é devido apenas ao fato de que previamente havíamos vibrado com relação a eles, e portanto vibramos mais facilmente do que se estivéssesmos contatando pela primeira vez.

Podemos, no entanto, contatá-los de diferentes vestes em diferentes momentos, vivendo como vivemos  sob as condições do tempo e espaço que variam com cada veste. A parte da consciência do Logos através da qual nos movemos em nosso corpos físicos é muito mais restrita do que aquela através da qual nos movemos em nossos corpos astral e mental, e os contato através de um corpo bem organizado são muito mais vívidos do que os experienciados através de um veículo menos organizado.(...)

Então, a recuperação de qualquer coisa pela memória deve-se à eterna existência de tudo na consciência do Logos; e ele nos impôs as limitações de tempo e espaço para que possamos, pela prática, capacitar-nos a responder rapidamente, por meio de mudança na consciência, às vibrações causadas em nossos veículos pela vibrações oriundas de outros veículos similarmente animados pela consciência."

Annie Besant, Um Estudo sobre a Consciência, Ed. Teosófica, 2014, pgs. 162/165

A COBIÇA, A IRA E A TOLICE

 


"A cobiça surge da errônea ideia a respeito da satisfação; a ira surge do estado insatisfatório dos negócios ou circunstâncias; a tolice advém da inabilidade de julgar qual é a conduta correta.
Esta tríade - a cobiça, a ira e a tolice - é chamada de os três fogos do mundo. O fogo da cobiça consome aqueles que perderam suas verdadeiras mentes na avidez; o fogo da ira consome aqueles que as perderam no ódio; o fogo da tolice consome aqueles que perderam suas verdadeiras mentes no insucesso em ouvir ou atender aos ensinamento de Buda. 
Na verdade, este mundo está se incendiando com seus variados fogos. Há fogos da cobiça, fogos do ódio, da tolice, da desenfreada paixão e do egoísmo, fogos da decrepitude, da doença e da morte, fogos da tristeza, da lamentação, do sofrimento e da agonia. Em toda partem, estes fogos se alastram. Estes fogos das paixões mundanas não somente queimam o ego, mas também induzem a outrem a sofrer e o levam a perpetrar atos errados do corpo, da fala e da mente. Das feridas causadas por estes fogos emana o pus que infecta e envenena aqueles em que toca e os leva aos maus caminhos.

A Doutrina de Buda, Bukkyo Dendo Kyokai, Terceira edição revista, 1982, pg. 163/165.

A NATUREZA DA MEMÓRIA (IV PARTE)

 



"Ora, tendo notado nos veículos mudanças que surgem de impactos do mundo externo, a resposta a esses impactos como mudanças na consciência, as vibrações mais débeis produzidas nos veículos pela reação da consciência, e novamente o reconhecimento pela consciência como memórias, chegamos ao ponto crucial da questão o que é a memória? A dissolução dos corpos entre a morte e a rencarnação põe fim ao seu automatismo, seu poder de responder a vibrações semelhantes àquelas já experienciadas; os grupos responsivos são desintegrados, e tudo o que permanece como semente para respostas futuras é armazenado no interior dos átomos permanentes. O quão insignificante é isso - quando comparado aos novos automatismos impostos sobre a massa dos corpos pelas novas experiências do mundo externo - pode ser julgado pela ausência de qualquer memória de vidas passadas  inicadas nos próprios veículos. Aliás, tudo que os átomos permanentes podem fazer é responder com maior rapidez às vibrações de um tipo semelhante às já previamente experienciadas do que as que chegam pela primeira vez. A memória das células, ou de grupos de células, perece na morte, e não se pode dizer que seja recuperável como tal. Onde, então é preservada a memória?

A resposta sumária é: a memória não é uma faculdade, e não é preservada; ela não é inerente à consciência como uma capacidade, nem é qualquer memória de eventos armazenada na consciência individual. Todo evento é um fato presente na consciência universal, na consciência do Logos; tudo que ocorre em seu universo, passado, presente, futuro, está sempre em sua consciência oniabarcante, no 'Eterno Agora'. Do início ao fim do universo, de sua aurora ao acaso, tudo está aí, sempre presente, sempre existente. Nesse oceano de ideias, tudo É; nós, errantes no oceano, tocamos fragmentos de seu conteúdo, e nossa resposta ao contato é nosso conhecimento.Tendo conhecido, podemos mais facilmente contatar novamente; e essa repetição - quando não resulta do contato da veste externa do momento com os fragmentos ocupando seu próprio plano - é memória. Todas as 'memórias' são recuperáveis porque todas as possibilidades de vibrações produtoras de imagens estão dentro da consciência do Logos, e podemos compartilhar dessa consciência com maior facilidade quando anteriormente tivemos compartilhado com maior frequência de vibrações semelhantes. Por isso, as vibrações que faziam parte de nossa experiência são mais facilmente repetidas por nós do que aquelas que jamais conhecemos; e aqui entra o valor dos átomos permanentes. Ao serem estimulados, eles reproduzem as vibrações previamente experimentadas (...) quer seja uma memória de vida presente ou uma vida há muito passada, o método de recuperação é o mesmo. Não existe memória senão   a sempre  consciência do Logos, em quem literalmente vivemos, nos movemos e temos o nosso ser; e nossa memória é simplesmente colocarmo-nos em contato com as partes de Sua consciência que previmente experienciamos. 

Consequentemente, segundo Pitágoras, todo aprendizado é lembrança, pois é o retirar da consciência do Logos para o Ser separado aquilo que em nossa unidade essencial com ele é eternamente nosso. Nos planos inferiores, onde a separatividade oculta a unidade, somos afastados da unidade por nossos veículos imperfeitos. Portanto, não podemos melhorar diretamente nossa memória; só podemos melhorar a nossa receptividade geral e o poder de reproduzir, tornando nossos corpos mais sensíveis. (...)" (continua no dia 11/11/20)


Anie Besant, um Estudo sobre a Consciência, Ed.Teosófica, 2014, pgs. 157/159

A NATUREZA DA MEMÓRIA (III PARTE)

 


 

"Tentemos captar essa coisa complexa após ela ter entrado e causado uma mudança na consciência, uma ideia. A mudança que causou dá origens a novas vibrações nos veículos, reproduzindo aquelas vibrações que causou ao entrar, e em cada veículo ela reaparece de forma débil. Ela não é forte, vigorosa e vívida, como quando suas partes componentes foram transmitidas do fisico ao astral, e do astral ao mental; ela reaparece no mental sob uma forma mais tênue, a cópia daquilo que o mental enviou para dentro, mas as vibrações são mais débeis. Quando o Ser dela recebe uma reação - pois o impacto de uma vibração ao tocar cada veículo deve causar uma reação -, essa reação é muito mais débil do que a ação original, e portanto parecerá menos 'real' do que aquela ação; ela cria uma mudança menor na consciência, e essa diminuição representa inevitavelmente uma 'realidade' menor.

Enquanto a consciência for muito pouco responsiva para estar perceptiva de quaisquer impactos que não venham com vigor impulsivo do físico, ela está literalmente mais em contato com a veste física do que com qualquer outra veste, e não haverá memórias de ideias, mas apenas memórias de percepções, ou seja, de quadros de objetos externos, causados pelas vibrações da matéria nervosa do cérebro, reproduzindo-se na matéria astral e mental relacionadas. Literalmente, são quadros na matéria mental, como o são os quadros na retina do olho. E a consciência percebe esses quadros, 'olha-os', como podemos verdadeiramente dizer, uma vez que a visão do olho é apenas uma expressão limitada do seu poder perceptivo. Quando a consciência afasta-se um pouco do físico, voltando a atenção mais para as modificações em suas vestes internas, ela vê esses quadros reproduzidos no cérebro a partir da veste astral por sua própria reação de dentro para fora, resultando daí a memória das sensações. O quadro surge no cérebro pela criação da mudança da consciência, e aí é reconhecido. Esse reconhecimento implica que a consciência afastou-se muito do veículo físico para o astral onde está atuando.

A consciência humana atua assim ainda hoje em dia, e portanto está cheia de memórias, que são reproduções no cérebro físico de imagens passadas, causadas por reações da consciência. Num tipo humano um pouco desenvolvido, esses quadros são quadros de eventos passados relacionados ao corpo físico, memórias de fome, de sede e de sua gratificação, de prazeres sexuais, etc., coisas nas quais o corpo físico tomou parte ativa. Num tipo superior, no qual a consciência esteja funcionando mais no veículo mental, os quadros do corpo astral atrairão mais sua atenção; esses quadros são moldados no corpo astral por vibrações oriundas do corpo mental, e são percebidos como quadros pela consciência quando se recolhe mais para o interior do corpo mental como veículo imediato. (...)

    Observemos, de passagem, que a memória do objeto segue de mãos dadas com um quadro de renovação da experiência mais intensa do objeto pelo contato físico, e a isto chamamos antecipação; e quanto mais completa a memória de um evento, mais completa é a sua antecipação. De modo que a memória às vezes irá até mesmo causar no corpo físico as reações que normalmente acompanham o contato com o objeto externo, e podemos saborear com antecipação os prazeres que atualmente não estão ao alcance do corpo. Assim, a antecipação de um alimento saboroso dará 'água na boca'."

(continua dia 06/11/21)

Anie Besant, um Estudo sobre a Consciência, Ed.Teosófica, 2014, pgs. 157/159


EXPLORAR É SER EXPLORADO

 

"Como a maioria de nós busca o poder de uma forma ou de outra, o princípio hierárquico é estabelecido - o noviço e o iniciado, o pupilo e o Mestre... e até entre os Mestres há graus de crescimento espiritual. A maioria de nós adora explorar e ser explorado, e esse sistema oferece os meios, sejam eles ocultos ou explícitos.
Explorar é ser explorado. O desejo de usar os outros para suas necessidades psicológicas cria dependência, e quando dependemos precisamos reter, possuir; e o que possuímos nos possui. Sem a dependência - sutil ou flagrante -, sem possuir coisas - pessoas e ideias -, somos vazios, uma coisa sem importância. Queremos ser algo, e para evitar o medo torturante de ser nada pertencemos a essa ou àquela organização, a essa ou àquela ideologia, a essa igreja ou àquele templo. Então somos explorados e, consequentemente, também exploramos."

Krishnamurti, O Livro da Vida, Ed. Planeta do Brasil, São Paulo, pg. 84.