O FESTIVAL DE WESAK
PLENILÚNIO DE MAIO 05 de maio 2023 às 14h34min horário de Brasília
A ocasião escolhida para
este prodigioso jorro de energia é a da lua cheia do mês indiano de Vaisakh (chamado
Wesak no Ceilão), que comumente corresponde ao nosso mês de Maio, quando ocorre
o aniversário de todos os acontecimentos mais importantes de sua vida terrena:
o seu nascimento, seu atingimento do Budado, e seu desenlace do corpo físico.
Em conexão com esta sua visita, e inteiramente à
parte de sua tremenda significação esotérica, realiza-se uma cerimônia exotérica
no plano físico, em que o Senhor efetivamente se mostra na presença de uma
multidão de peregrinos comuns. Se ele se mostra aos peregrinos eu não sei; eles
se prostram no momento em que ele aparece, mas pode ser apenas em imitação à
prostração dos Adeptos e de seus discípulos, que vêem o Senhor Gautama. Parece
provável que pelo menos alguns dos peregrinos o tenham visto pessoalmente, pois
a existência da cerimônia é amplamente conhecida entre os budistas da Ásia
Central, e é referida como sendo a aparição da Sombra ou Reflexo do Buda. (...)
Todos os membros da
Grande Fraternidade Branca, exceto o Rei e seus três discípulos, assistem
habitualmente à cerimônia, não há motivo para que qualquer de nossos ardorosos
irmãos teosofistas não pudessem presenciá-la em seus corpos astrais. Aos que se
confiou o segredo, procuram geralmente dispor as coisas de maneira a fazer seus
corpos físicos adormecerem mais
menos uma hora antes do
momento exato da lua cheia, e não serem perturbados até cerca de uma hora
depois.
O VALE
O lugar escolhido é um platô
rodeado de colinas não muito altas, ao norte dos Himalaias, não longe da
fronteira de Nepal e talvez a uns 640 quilômetros a oeste da cidade de Lhassa.
O pequeno platô é de
configuração toscamente oblonga, de uns dois quilômetros de comprimento por um
pouco menos de largura. O terreno declina ligeiramente do sul para o norte, e é
na maior parte árido e pedregoso, salvo cm alguns pontos cobertos de basta e
achaparrada vegetação. Um riacho corre pelo lado ocidental do platô, atravessa
o seu ângulo noroeste e sai pelo meio do lado setentrional, através de um
desfiladeiro coberto de pinheiros, até atingir um lago a uns quilômetros de
distância. A região circundante parece silvestre e inabitada, não havendo à vista
nenhum edifício, a não ser duas ou três choças junto às ruínas de uma stupa nas
fraldas de uma das colinas do lado oriental do platô. Perto do centro da metade
oriental há, à guisa de altar, um enorme bloco de granito cinzento branco com
betas de uma matéria brilhante, de uns quatro metros de comprimento por dois de
largura, e elevando-se a um metro sobre o solo. (...)
A CERIMÔNIA
Cerca de meia hora antes do
momento do plenilúnio, a um sinal do Mahachohan, os membros da Fraternidade se
reúnem no espaço livre do centro do platô, ao norte do altar, e colocam-se em
três filas num amplo círculo, de frente para o altar, estando o círculo externo
composto dos membros mais novos da Fraternidade, e ocupando os Oficiais
superiores certos pontos no círculo interno.
Depois se cantam em idioma
páli alguns versículos das Escrituras budistas, e ao terminar o canto
materializa-se o Senhor Maitreya no centro do círculo, com o Cetro do Poder na
mão. Este maravilhoso símbolo é de alguma maneira um centro ou fulcro físico
para as energias vertidas pelo Logos Planetário, e foi magnetizado por Ele há
milhões de anos quando pela primeira vez pôs a onda de vida humana em movimento
ao redor de nossa cadeia de mundos.
Foi-nos dito que o Cetro de
Poder é o sinal físico da concentração e atenção do Logos, e que ele é
transportado de planeta para planeta à medida que essa atenção se desloca, e
que onde ele se acha, esse é, no momento, o palco central da evolução, e que
quando ele passar deste planeta para o próximo, nossa terra mergulhará em
relativa inércia. Ignoramos se o Cetro é também transportado para globos não
físicos, e também ignoramos a maneira de usá-lo, nem a parte que desempenha na
economia do mundo. Comumente está ao cuidado do Senhor do Mundo, em Shamballa,
e tão-só o emprestam ao Senhor Maitreya por ocasião do festival de plenilúnio
de Wesak. É um cilindro de metal desconhecido dos químicos terrenos, chamado
oricalco, de uns sessenta centímetros de comprimento por cinco de dia metro,
tendo engastado em cada extremidade um grosso diamante talhado em forma de
esfera projetada em ponta cônica, e sempre parece rodeado de uma aura de
brilhante e transparente chama. É de se notar que durante a cerimônia
unicamente o Senhor Maitreya o toca e maneja.
Ao materializar-se o Senhor
Maitreya no centro do círculo, todos os Adeptos se inclinam reverentemente ante
ele, e conta-se outro versículo. Enquanto perdura o canto, o círculo interior
de Adeptos se divide em oito segmentos para formar uma cruz dentro do círculo
exterior, cujo centro continua sendo ocupado pelo Senhor Maitreya. No imediato
ato seguinte deste pomposo ritual, a cruz se converte em triângulo, em cujo
vértice, próximo do altar, se coloca o Senhor Maitreya. Sobre o altar ele
deposita, reverentemente, o Cetro de Poder, no espaço contíguo à concha de
ouro, e o triângulo de Adepto se transforma numa figura curva, em que todos
ficam de frente para o altar. No movimento seguinte, a figura curva se
transmuta num triângulo invertido, tal qual o emblema da Sociedade Teosófica,
embora ,,rui a serpente. O triângulo invertido muda-se depois na estrela Ir
cinco pontas, cujo vértice meridional próximo do altar é
ocupado pelo Senhor
Maitreya, e os demais dignitários ou Choham ocupam os cinco pontos de
intersecção dos lados. Acrescentamos aqui um diagrama das figuras simbólicas,
já que não é fácil descrever algumas delas.
Ao chegar a este sétimo e
final ato, cessa o canto, e após alguns instantes de solene silêncio, o Senhor
Maitreya empunha o Cetro de Poder, e levantando-o acima da cabeça, exclama com
voz sonora, em língua páli:
— Tudo está pronto; vem,
Mestre!
Depois, ao depor de novo o
ígneo Cetro, no exato momento do plenilúnio, aparece o Senhor Buda como uma
gigantesca figura flutuando no espaço precisamente acima das colinas
meridionais. Os membros da Fraternidade se inclinam com as mãos juntas e a
multidão atrás deles se prostra de rosto no solo, e assim permanece enquanto os
cantores entoam os três versículo que o próprio Buda havia ensinado ao aluno
Chatta durante a sua última vida terrena:
O Senhor Buda, o Sábio dos
Sákyas, é o melhor dos Instrutores da humanidade. Ele fez o que tinha de fazer
e passou para a outra orla (o Nirvana). Ele está cheio de fortaleza e energia.
Eu tomo por guia o Bem-aventurado Ser.
A MAIOR BÊNÇÃO
Depois a multidão se levanta
e contempla a presença do Senhor enquanto a Fraternidade canta em benefício do
povo as nobres palavras do Mahânangala Sutta, que foi assim traduzido pelo
professor Rhys Davids.
Em seu anseio pelo bem,
muitos devas e homens Têm ressaltado várias coisas dignas de bênçãos;
Esclarece-nos, pois, ó Mestre, qual é a maior bênção?
Não servir os insensatos,
Mas servir os sábios;
Honrar os merecedores de
honra: Esta é a maior bênção.
Morar em país ameno,
Ter feito boas obras num
nascimento anterior, Ter uma alma cheia de retos desejos:
Esta é a maior bênção.
Muito discernimento e muita
educação, Domínio próprio e mente bem disciplinada, Palavras amáveis e bem
ditas:
Esta é a maior bênção.
Ajudar o pai e a mãe,
Acarinhar esposa e filho,
Seguir uma vocação pacífica: Esta é a maior bênção.
Dar esmolas e viver
retamente, Auxiliar os parentes,
Praticar atos
irrepreensíveis; Esta é a maior bênção.
Abominar o pecado e cessar
de praticá-lo, Abster-se de bebidas embriagantes, Ser incansável na prática do
bem:
Reverência e humildade,
Contentamento e gratidão,
Ouvir a Lei nas ocasiões
devidas: Esta é a maior bênção.
Ser longânimo e dócil,
Associar-se aos tranqüilos,
Palavras religiosas nas
ocasiões devidas: Esta é a maior bênção.
Autodomínio e pureza,
Conhecer as Quatro Nobres
Verdades,
Realizar o Nirvana: Esta é a
maior bênção.
Sob o golpe das mutações da
vida Manter-se a alma incomovível,
Sem paixão nem tristeza, mas
segura: Esta é a maior bênção.
Em todas as partes
invencível É aquele que assim procede;
Em todas as partes ele anda
seguro, E sua é a maior bênção.
A figura que flutua sobre as
colinas é de enorme tamanho, mas reproduz exatamente a forma e características
do último corpo que o Senhor usou na terra. Ele aparece com as pernas cruzadas
e as mãos juntas, vestido com o manto amarelo dos monges budistas, mas deixando
desnudo o braço direito. Não é possível descrever exatamente o aspecto do
rosto, em verdade divino, pois harmoniza a sabedoria e o amor, a serenidade e a
fortaleza numa só expressão, que reúne tudo quanto podemos imaginar de divino.
A cor do rosto é branco-amarela e os traços claramente delineados. A fronte
larga e nobre; os olhos rasgados, brilhantes e intensamente azuis; o nariz
levemente aquilino; os lábios vermelhos e firmemente cerrados. Mas tudo isto só
nos mostra a máscara corpórea e apenas nos dá uma idéia do vívido conjunto. O
cabelo é preto, quase azulado, mas não comprido como se usava na Índia, nem
rapado como o dos monges orientais, senão cortado até um pouco antes de chegar
aos ombros, partido pelo meio e estendido da frente para trás. Diz-se que
quando o príncipe Siddartha deixou o lar paterno em busca da verdade, agarrou
sua longa cabeleira e cortou-a acima da cabeça com um golpe de sua espada, e
que desde então a conservou no mesmo comprimento.
Uma das mais surpreendentes
características desta maravilhosa aparição é a esplêndida aura que circunda a
figura. Dispõe-se em esferas concêntricas, tal qual as auras de todos os seres
altamente evoluídos; sua configuração geral é a mesma da do Ara mostrada na
Lâmina XXVI do livro Homem Visível e Invisível, mas a disposição de suas cores
é única. A figura está englobada de luz que é ao mesmo tempo algo deslumbrante
a transparente; tão brilhante que a vista dificilmente pode fixar-se nela, e no
entanto através dela o rosto e a cor do manto se distinguem com perfeita
clareza. Circunda tudo isso uma faixa de glorioso ultramarino; depois, em
sucessão, ouro-amarelo, riquíssimo carmesim, puro branco-argênteo e um
magnífico escarlate; todos são por certo realmente esferas, embora aparentando
faixas quando observados contra o céu. Irradiando em ângulos retos, fora de
todos estes, estão os raios de todos os matizes entremesclados, e disseminados
com cintilações de verde e violeta, como observamos ao atentar para o nosso
frontispício.
Estas cores, em exatamente
nesta ordem, são descritas em antigas escritura budistas como constituindo a
aura do Senhor; e quando, em 1885, se reputou desejável encontrar-se uma
bandeira especial para os budistas do Ceilão, nosso Presidente-Fundador, coronel
Olcott, em consulta com os irmãos cingaleses em Colombo, desenvolveu a idéia de
utilizar para esse fim esse mesmo agrupamento de cores. Diz-nos o coronel que
alguns anos antes ele havia aprendido do embaixador tibetano junto ao Vice-rei
da índia, que encontrou em Darjeeling, que as cores são as mesmas figurantes na
bandeira do Dalai Lama. A idéia deste estandarte simbólico parece haver sido
amplamente aceita; eu próprio o vi em templos budistas, em lugares muito
afastados como Rangoon e Sacramento, na Califórnia. (...)
Ao terminar o canto, um
sorriso de inefável amor reluz no rosto do Senhor ao erguer sua mão direita em
atitude de bênção, enquanto que uma chuva de flores cai entre a multidão. De
novo os membros da Fraternidade se inclinam, de novo a multidão se prostra, e a
figura se desvanece lentamente do céu, enquanto a multidão prorrompe em
exclamações de júbilo e louvor. Os membros da Fraternidade se aproximam do
Senhor Maitreya por ordem de categoria e vão tomando um sorvo de água da concha
de ouro, ao passo que o povo sorve a sua, levando para casa a restante em seus
singulares frascos de couro, como água santa para afugentar todas as más
influências de suas casas, e talvez curar moléstias. Depois a vasta multidão se
dissolve com mútuas congratulações, e o povo leva para seus distantes lares uma
inefável recordação da maravilhosa cerimônia de que participaram.
Excerto do Livro "Os Mestres e a Senda",
de C.W.Leadbeater, pg.s 269-279, Ed.Pensamento