O OBJETIVO DE VIDA

    

  

    "O terceiro aspecto de nosso mundo, que está oculto à maioria, é o plano e o objetivo da existência. A maior parte das pessoas parece desnorteada na vida, sem qualquer objetivo definido, salvo talvez a luta meramente física para fazer dinheiro ou alcançar o poder, porque supõe, erroneamente, que isso lhe trará felicidade. Não tem uma ideia precisa da razão pela qual está aqui, nem certeza alguma quanto ao futuro que a espera. Tais pessoas nem mesmo fazem ideia de que são almas e não corpos, e de que, assim sendo, o seu desenvolvimento é parte de um grande esquema de evolução cósmica. 

    Quando essa verdade sublime despontar no horizonte da humanidade, haverá uma transformação, que as religiões ocidentais chamam conversão – uma palavra sutil, que infelizmente tem sido deturpada por associações inadequadas, por ser usada, muitas vezes, para significar nada mais que uma crise de emoção hipnoticamente induzida pelas ondas agitadas da excitação, procedentes de uma multidão exaltada. Seu verdadeiro significado corresponde exatamente ao que sua etimologia indica: “voltar-se com”. Até agora o ser humano, ignorando a maravilhosa corrente da evolução, tem lutado contra ela, sob a ilusão do egoísmo; mas, desde o momento em que a magnificência do Plano Divino refulge ante seus olhos atônitos, a sua atitude passa a ser a de colocar todas as suas energias ao esforço de cooperar no cumprimento do desígnio supremo, 'voltar-se e acompanhar' a esplêndida corrente do amor e da sabedoria de Deus. 

    Seu único objetivo, então, é capacitar-se para ajudar o mundo, tendo todos os seus pensamentos e ações dirigidos a essa meta. Podemos esquecê-la por um instante, sob a pressão das tentações; mas o esquecimento será apenas temporário, e este é o sentido do dogma eclesiástico de que o eleito não pode falhar jamais. O discernimento há de chegar, as portas da mente hão de se abrir – para adotar os termos da fé antiga para essa transformação. A pessoa agora sabe o que é real e o que é irreal, o que merece ser adquirido e o que carece de valor. Vive como uma alma imortal, que é uma Centelha do Fogo Divino, em vez de viver como um animal que perece – para usar de uma frase bíblica, que, aliás, carece de correção, visto que os animais não perecem, exceto no sentido de sua reabsorção na respectiva alma-grupo. 

    A essa pessoa desvelou-se, em verdade, um aspecto da vida que antes estava oculto à sua percepção. Seria mais exato dizer que agora, pela primeira vez, ela começou realmente a viver, ao passo que, antes, toda a sua existência simplesmente se arrastava, improfícua e sem finalidade."

C. W Leadbeater, O Lado Oculto das Coisas, Editora Teosófica, pg. 37

O MUNDO OCULTO

    
    
    "O mundo em que vivemos possui uma face oculta, e a concepção que uma pessoa comum tem deste mundo é, de todo, imperfeita e permeia três linhas bem distintas. Primeiro, o mundo tem uma extensão em seu próprio nível, que o ser humano é incapaz de apreender; segundo, há um lado superior, que é demasiado sutil para as percepções não desenvolvidas; terceiro, existe um sentido e uma finalidade das quais, geralmente, não se possui o mais pálido vislumbre. Dizer que nós não vemos o todo de nosso mundo é enunciar debilmente a questão: o que vemos é uma parte absolutamente insignificante do mundo, por mais bela que essa parte possa ser. E, assim como a extensão adicional é infinita, comparada à nossa ideia de espaço – não podendo ser expressa em termos correspondentes –, o escopo e o esplendor do todo são infinitamente maiores do que qualquer concepção que dele se possa aqui fazer, tornando-se impossível expressá-los em termos daquela parte do mundo que conhecemos. (...)
    A verdade, porém, é que o nosso mundo físico é um mundo de muitas dimensões, e que todos os objetos nele existentes se estendem numa direção que escapa à nossa compreensão no presente estágio da evolução mental da humanidade. Quando desenvolvemos os sentidos astrais, ficamos em contato muito mais imediato com aquela dimensão do que a nossa mente é capaz de avaliar, e os mais inteligentes conseguem afinal compreendê-la, gradualmente; há, contudo, aqueles menos desenvolvidos intelectualmente que, até mesmo depois da morte e dentro do plano astral, se encontram demasiado presos a suas antigas limitações e adotam as mais absurdas e irracionais hipóteses para se recusarem a aceitar a realidade de uma vida superior, que eles tanto receiam."


C. W.Leadbeater, O Lado Oculto das Coisas, Ed. Teosófica, pg. 32

A CURA E OS CURADORES ESPIRITUAIS (Parte I)

 "Este tema, Cura e curadores espirituais, é um assunto que não recebeu a devida atenção, pelo menos em nossa literatura teosófica formal. Tive a sorte de conhecer e trabalhar com alguns terapeutas poderosos, de diferentes linhas de conhecimento. Quando encontramos pessoas com essa habilidade de promover cura física e lhes perguntamos sobre a fonte dessa energia ou poder que flui através deles, aqueles que desconhecem os ensinamentos teosóficos, respondem  'que se trata de um presente de Deus'. Isso não está totalmente incorreto, mas o fato de essa capacidade de curar se apresentar é muitas vezes considerado como um dom sobrenatural.

Durante um dos períodos pouco valorizados da vida do Coronel H. Olcott, ele estava envolvido em um extenso trabalho de cura dinâmica e poderosa.. Durante as suas visitas ao Celião (atual Sri Lanka), seu principal objetivo era revitalizar o budismo, que ele considerava uma expressão da Sabedoria Eterna. No Ceilão daquela época, o budismo havia atingido níveis muito precários. Então, os missionários cristãos, que trabalhavam ativamente para enfraquecer o budismo no Ceilão, anunciaram que haviam descobreto um poço de água que tinha o potencial de curar em nome de Jesus e da Igreja Católica.

Sendo quem era, Olcott abordou os monges budistas e disse: 'Antes que isso crie raízes na mente das pessoas, vocês devem promover alguma cura. Vocês, como budistas, devem curar'. Mas ninguém se voluntariou. Assim, Olcott, como um bom empreendedor Ianque, decidiu que ele mesmo faria a cura. Tendo o conhecimento de que toda cura provém da mesma fonte, ele a realizou em nome do Buda. Trinta anos antes disso, ele havia sido exposto aos ensinamentos e trabalho de Anton Mesmer, tendo até feito alguas tentativas de cura mesmérica.

Muito foi escrito sobre o mesmerismo e seus poderes de cura, nas Cartas dos Mahatmas.

Olcott havia estudado e decidiu que, para a ocasião, era necessário, Assim encontrou um paciente com um braço paralisado e começou a trabalhar com ele. O homem foi para casa e, no dia seguinte, relatou que havia experimentado grande alívio, o que aumentou o nível de confiança de Olcott. Ele voltou a trabalhar com o paciente e, desta vez, houve uma reversão completa da paralisia e, é claro, a notícia se espalhou.

Daquele dia em diante, nos três anos seguintes, Olcott não teve mais paz ou privacidade, pois estava constantemente cercdo de pessoas que demandavam cura dste grsnde curador 'budista'.Como de hábito, durante esse período de três anos, ele manteve registro de mais de 7.000pessoas que experimentaram cura de diversos tipos: paralisia,surdez, cegueira, etc. Por exigir muita força vital de Olcott, demandando demais sua energia pessoal, não deixando tempo para realmente invistir no trabalho teosófico, que era seu foco principal, seu Mestre ordenou que parasse. (...)

Ao discutir seus métodos de cura, o coronel Olcott informou que eles ocorriam de duas maneiras. De um lado pela presença e influência do Mestre atrvés de uma conexão realizada. Parte dos diversos ensinamentos que recebemos nos aconselha a adotar a práticas de fazer tudo aquilo que fazemos de bom em nome do Mestre. Essa é uma maneira expressa por Jinarajadasa. Curar, socorrer, ajudar, tudo é feito em seu nome. Isso tem a capacidade de atrair essa presenca quando somos verdadeiramente puros em nossas motivações.

Olcott disse que a maior parte das curas que fez estava baseada nessa conexão e alcance, em sua própria imaginação e vontade, para o seu Mestre. Ele teve várias confirmações disso. Ele mencionou um caso em que curava um cego. Enquanto Olcott trabalhava, o homem descrevia a visão de alguém que estava na frente dele durante o andamento de cura. Ele descreve a cena bem detalhadamente, ficando muito claro que ele descrevia o Mestre de Olcott. O segundo método de cura envolvia o acúmulo e a projeção de energia envolvendo a própria vontade de Olcott."

A cura e os curadores espirituais, Tim Boyd, 

Revista TheoSophia, 1º Trimestre 2019



A ILUSÃO DO EGO (3ª Parte)

 



“No Bhagavad-Gita há um diálogo interessante entre Arjuna e Krishna: ‘Como é um homem iluminado? Como ele dorme, como trabalha, como vive?’, pergunta Arjuna, e Krishna diz: ‘ele vive, trabalha e dorme como um homem comum, mas não pelas mesmas razões.’ O processo do ego não é uma questão do que se está fazendo, mas de como se aborda o fazer e o não fazer.

Isso não é altamente filosófico nem de difícil compreensão. Ensinamos as crianças a jogar um jogo pela alegria de jogar, e a se aprimorar no jogo pelo amor ao aprimoramento; ensinamos a não dar muita importância ao resultado, a quem ganha ou perde. Se damos importância ao resultado, a atividade torna-se egoísta. Se não formos egoístas, então não importa quem ganha ou perde. Existe a alegria de ter jogado, a alegria de cumprimentar um amigo por ter jogado melhor e vencido. Não há frustração. Esse é o espírito do esportista.

(...)

É uma ilusão pensar que o autointeresse age em favor no nosso próprio interesse. Estamos definindo a vantagem de maneira muito mesquinha e pouco inteligente. Não estamos separados de outras pessoas; portanto, o que consideramos ser um beneficio na realidade não é.

Se percebermos a verdade disso e os perigos do processo do ego (percebemos de verdade, não por meio de uma explicação ou como uma conclusão racional), essa percepção do perigo agirá sobre a consciência e eliminará o processo do ego. Apenas querer fazê-lo não traz resultado. Concordar também não ajuda, porque conhecimento e ideias não mudam a consciência. Mas uma percepção profunda da verdade muda, e todos nós temos capacidade para esse insight.” (...)

P. Krishna, A ilusão do ego, Revista Sophia, Ano 4, Nº 13, p. 43

A ILUSÃO DO EGO (2ª Parte)

 

          


“O ego passa a existir enquanto a criança cresce. Todos nós fomos crianças e passamos por esse processo. Depois de dois ou três anos de vida a criança domina a linguagem, a capacidade de pensar e de imaginar. Mas essas capacidades, em si mesmas, não são o ego. Elas são adquiridas por um processo de evolução biológica que é parte da ordem natural. Quando juntamos essas capacidades com o instinto de buscar o prazer e evitar a dor, que existe também no animal, temos uma receita para a formação do ego, porque na consciência humana existem não apenas a dor e o prazer físico, mas também a dor e o prazer psicológicos.

 (...)

 Quando você trata mal um cachorro, ele volta no dia seguinte abanando o rabo. Ele esquece os mal tratos e não se sente insultado. Nós, porém, temos a capacidade não apenas de lembrar, mas também de nutrir esse agravo psicológico dentro de nós. É isso que traz medo e suspeitas aos nossos relacionamentos. As crianças também são capazes de se magoar, mas em poucos dias esquecem a mágoa e rapidamente voltam à velha amizade. À medida que envelhecemos, torna-se cada vez mais difícil fazer isso. Esse é o início do processo do ego.

Seria possível não registrar nada psicologicamente? Registrar somente fatos, não insultos ou bajulações? Não pretendo fazer objeção à memória como um todo, porque a memória factual e necessária, não cria ilusões nem alimenta o ego. Porém, a memória psicológica interfere na qualidade dos relacionamentos no momento presente. Uma pessoa que brigou com seu marido ou esposa há dois anos pode lembrar-se factualmente da briga, mas se não estiver carregando resíduos psicológicos, em termos de mágoa, a lembrança não afetará seu relacionamento atual. É a memória do insulto que constitui a memória psicológica, e é isso que cria dificuldades no relacionamento.”

P. Krishna, A ilusão do ego, Revista Sophia, Ano 4, Nº 13, p. 41

A ILUSÃO DO EGO (1ª Parte)

 



  “O conflito e a violência na sociedade surgem do conflito e da violência na nossa consciência. E o conflito e a violência interior surgem dos processos do ego. Mas o que é esse ego? Ele existe de fato, como uma realidade na natureza, ou será uma ilusão, no sentido de que apenas uma criação da nossa imaginação?

Essa é uma pergunta importante, porque se o ego existe na natureza, não será possível eliminá-lo. Porém, se estiver baseado em prerrogativas que existem apenas na nossa imaginação, o ego é comparável aos contos de fadas, que podem estar num livro, mas não são reais. Se o ego for algo que existe de fato, no mundo natural, resta-nos apenas aprender a lidar com ele e com os problemas que cria.

Será possível dissolver o ego, por meio da compreensão do processo pelo qual ele é formado, de modo que possamos gerenciá-lo? Acredito que a liberdade é algo totalmente diferente do gerenciamento ou do refinamento do ego. Uma pessoa altamente sofisticada e bem educada expressa seu ego de maneira diferente de uma pessoa pouco educada. Internamente, porém, não há muita diferença entre ambas. Por outro lado, existe uma enorme diferença entre uma pessoa que está livre do ego e uma pessoa presa a ele.

Será o ego uma ilusão criada pela nossa mente? Qualquer pessoa pode observar por si só que não existem egos em lugar algum da natureza, a não ser na consciência humana. Os animais podem ser violentos até certo ponto, mas não possuem um ego. Eles não são violentos de maneira intencional e deliberada. A criança, quando nasce, é como um animal; não possui ego, porque ainda não tem capacidade de pensar e imaginar.”

P. Krishna, A ilusão do ego, Revista Sophia, Ano 4, Nº 13, p. 41