“O
conflito e a violência na sociedade surgem do conflito e da violência na nossa
consciência. E o conflito e a violência interior surgem dos processos do ego.
Mas o que é esse ego? Ele existe de fato, como uma realidade na natureza, ou
será uma ilusão, no sentido de que apenas uma criação da nossa imaginação?
Essa
é uma pergunta importante, porque se o ego existe na natureza, não será
possível eliminá-lo. Porém, se estiver baseado em prerrogativas que existem
apenas na nossa imaginação, o ego é comparável aos contos de fadas, que podem
estar num livro, mas não são reais. Se o ego for algo que existe de fato, no
mundo natural, resta-nos apenas aprender a lidar com ele e com os problemas que
cria.
Será
possível dissolver o ego, por meio da compreensão do processo pelo qual ele é
formado, de modo que possamos gerenciá-lo? Acredito que a liberdade é algo
totalmente diferente do gerenciamento ou do refinamento do ego. Uma pessoa
altamente sofisticada e bem educada expressa seu ego de maneira diferente de
uma pessoa pouco educada. Internamente, porém, não há muita diferença entre
ambas. Por outro lado, existe uma enorme diferença entre uma pessoa que está
livre do ego e uma pessoa presa a ele.
Será
o ego uma ilusão criada pela nossa mente? Qualquer pessoa pode observar por si
só que não existem egos em lugar algum da natureza, a não ser na consciência
humana. Os animais podem ser violentos até certo ponto, mas não possuem um ego.
Eles não são violentos de maneira intencional e deliberada. A criança, quando
nasce, é como um animal; não possui ego, porque ainda não tem capacidade de
pensar e imaginar.”
P. Krishna, A ilusão do ego, Revista Sophia, Ano 4, Nº
13, p. 41