A NATUREZA APRISIONADORA DO DESEJO

 


"Uma vez que a vontade de viver é a causa da propulsão, a vida buscando corporificação e apropiando-se daquilo que é necessário para sua manifestação e persistência na forma, o desejo, que é a vontade num plano inferior, mostrará características semelhantes, buscando apropriar-se, atrair para si, tomar parte de si aquilo por meio do qual sua vida na forma possa ser mantida e fortalecida. Quando desejamos um objeto, buscamos torná-lo parte de nós mesmos, parte do 'eu', para que possa fazer parte da corporificação do 'eu'. O desejo é a colocação em prática do poder de atração; ele atrai o objeto para si. O que quer que desejemos, nós o atamos a nós. Pelo desejo de possuí-lo, um laço é estabelecido entre o objeto e aquele que deseja. Atamos ao Ser essa porção do não Ser; e o ele existe até que o objeto seja possuído ou até que o Ser tenha rompido o laço e repudiado o objeto. Esses são os 'laços do coração', que amarram o Ser à roda dos renascimentos e mortes.

Esses laços entre aquele que deseja e os objetos do desejo são como cordas que arrastam o Ser para o local onde os objetos do desejo são encontrados, e assim determinas seu nascimento em um ou outro mundo. (...)

A grande energia determinante, a vontade de viver, que mantém os planetas em suas órbitas em torno do sol, que evita que a matéria dos globos se disperse, que mantém unidos nossos corpos, é a energia do desejo. Aquilo que tudo governa aparece em nós como desejo, e deve atrair para nós ou atrair-nos para tudo que tenha fixado seus ganchos. O gancho do desejo fixa-se em um objeto, como o arpão lançado pelo arpoador se fixa na baleia. Quando o desejo tiver fixado seu arpão em um objeto, o Ser está preso a esse objeto, do qual se apropiou pela vontade, e logo deve apropiar-se dele em ação. (...) A coisa desejada torna-se parte do corpo do Ser; e se for nociva, deve ser extirpada a qualquer preço. De outro modo só será destruída pelo desgaste causado plelo lentro atrito do tempo e da exaustão - 'Só o forte pode matá-la. O fraco tem de esperar que ela cresça, frutifique e morra.'"

Annie Besant, Um Estudo sobre a Consciência, Ed. Teosófica, Brasília, 2014, págs. 181/182