A PAZ

    



"Por traz da felicidade ativa deve existir uma paz permanente, que também devemos procurar irradiar à nossa volta. A falta de paz é uma das mais lamentáveis características do nosso tempo. Nunca houve época em que o ser humano necessitasse mais de pôr em prática o sábio conselho de São Pedro: "Procurai a paz e segui-a", mas a maioria não sabe sequer por onde começar a procurar, e daí concluir que a paz é inatingível na Terra, e resignar-se a uma vida de inquietação.

O ser humano vive simultaneamente em três mundos, o físico, o astral ou emocional e o mental, possuindo em cada um deles um corpo ou um veículo, por cujo intermédio se manifesta. Em todos esses níveis, em todos esses veículos, devia haver paz; entretanto, com a maioria de nós isso está bem longe de acontecer.(...)

São três as causas dessa inquietação universal: a ignorância, o desejo e o egoísmo. O caminho para a paz consiste, portanto, em transpor tais obstáculos, substituindo-os pelos seus contrários; em adquirir conhecimento, autodomínio e altruísmo. As pessoas pensam muitas vezes que as causas de suas ansiedades são externas, que o sofrimento e os dissabores lhes fazem pressão de fora, sem refletirem que não há fator externo que as possa influenciar a não ser que o consintam. Senão nós mesmos, pode fazer-nos mal ou embaraçar-nos, assim como pessoa alguma pode promover o nosso progresso, senão nós mesmos. Como já se disse muito bem no Oriente, o caminho está dentro de nós. Se nos dermos ao trabalho de prestar atenção, veremos que é assim. 

Para ganhar a paz devemos primeiro ganhar o conhecimento das leis à que está submetida a evolução. Quando as ignoramos, estamos sempre transgredindo-as, desviando-nos constantemente da senda do progresso da raça, à procura de alguma vantagem ou prazer pessoal e imaginário. A constante pressão da lei de evolução nos obriga a retroceder, para nosso próprio bem, ao caminho que havíamos deixado; ficamos inquietos; lutamos contra a lei; queixamo-nos do sofrimento e dos dissabores, como se nos chegassem por mero acaso, quando é a nossa resistência aos ditames da lei que nos faz sentir-lhe a força coercitiva.

O conhecimento do grande esquema da evolução e de suas leis não só nos mostra como viver, mas ainda como ganhar a paz no futuro; e também dá a paz aqui e agora no presente, por isso que nos habilita a compreender o objetivo da vida, a ver a unidade através de toda a sua diversidade, o glorioso triunfo final por entre o nevoeiro da angústia e da confusão aparentemente sem esperança. Porque, quando o esquema é compreendido, seu objetivo deixa de ser uma questão de fé cega, passando a ser uma certeza matemática; e desta certeza advém a paz. 

Ao nosso conhecimento devemos acrescentar o autodomínio – o domínio não simplesmente dos atos e das palavras, mas também dos desejos, das emoções e dos pensamentos. 

Pois todos os pensamentos e emoções se apresentam como ondas da matéria dos corpos mental e astral, respectivamente; e em ambos os casos os pensamentos maus e egoístas são sempre vibrações relativamente lentas da matéria grosseira, ao passo que os pensamentos bons e enegoístas são ondulações mais rápidas que ocorrem somente na matéria sutil. Mas um súbito acesso de cólera ou de inveja ou de medo submerge por um momento todo o corpo astral e o obriga a uma vibração especial. Essa agitação logo se acalma, e o corpo retorna ao seu nível normal de vibração. Mas depois disso é um pouco mais fácil responder à taxa particular de vibração que exprime aquela paixão má. 

Há muito tempo ensinou o Senhor Buddha aos seus fiéis que a vida do ser humano comum é cheia de dores, porque ele se apega às coisas terrestres que perecem e desaparecem. 

Tudo, em nossa civilização, tende a aumentar os desejos, a multiplicar nossas necessidades. Coisas que eram consideradas como luxo em uma geração passam a ser necessidades da vida na geração seguinte, e os nossos desejos se estendem sempre em novas direções. Se almejamos paz, devemos aprender a limitar nossos desejos, levar vida simples, procurando o bem-estar mas sem ambição de luxo, distinguindo o que é necessário do supérfluo. Vale mais reduzir nossas necessidades, deixando-nos tempo para repousar, do que extenuar-nos até à morte no desesperado esforço de satisfazer sem cessar nossas crescentes necessidades. Quem quer alcançar a paz deve certamente governar seus desejos. (...)

Esse o caminho para a Paz. Possa esta Paz estar com todos nós.

C. W. Leadbeater, O Lado Oculto das Coisas, Ed. Teosófica, Brasília, 2017, pgs, 328 a 332