A OPORTUNIDADE

              

        

        
               "As pessoas mais sensíveis e observadoras sentem, há algum tempo, que o mundo está passando por uma mudança. Mas até o homem comum está percebendo que o PLANETA está mudando, não só no clima, mas na vibração, nas expectativas e atitudes das pessoas. Um número crescente de homens e mulheres, em meio à “luta pela sobrevivência”, sente que o mundo exterior, que tanto nos atrai, não mais satisfaz inteiramente os anseios mais íntimos do coração. Mais cedo ou mais tarde, descobrem que o elemento que falta é a dimensão espiritual. Para muitos esse é o começo da grande virada, o início da busca espiritual.

Essas pessoas, abençoadas com diferentes intensidades de insatisfação espiritual, começam então a buscar o que sentem estar faltando para alcançar seu senso de realização, plenitude, paz e felicidade. Para muitos, a busca inicial pode não ser estritamente por um propósito espiritual. O sofrimento devido a problemas com a saúde própria ou de um ente querido pode ser o motivo de muitos. Outros podem estar abalados com a perda de uma pessoa amada, seja pela morte ou por uma separação. Nesses casos o “buscador” tende a procurar alívio para a sua dor. Geralmente passam a buscar ajuda em instrumentos externos, como curadores, instrutores, profissionais de coaching ou grupos de autoajuda.

Essa primeira etapa será útil para mostrar ao sofredor que dispomos de maneiras, ao nosso alcance, para superar o sofrimento. Essa pode ser a primeira oportunidade que tiveram para se dar conta de que existem diferentes dimensões e planos da natureza com seus respectivos “habitantes” dotados de energias que lhes são próprias, mas que podem ser direcionadas para o nosso benefício. Chegará o momento em que entenderão que o auxílio exterior foi muito útil na etapa de dor intensa pela qual passaram. Porém, que a verdadeira busca espiritual demanda um processo de autotransformação. Nele os auxiliares externos são importantes “atores coadjuvantes”, mas que ele mesmo, o buscador, deve ser o ator principal do drama de sua “busca espiritual”.

Porém, quando a pessoa realmente começa a 'busca', soa o alarme instalado pelo 'oponente' da alma. O ego é avesso às mudanças, especialmente as que estão relacionadas com a busca espiritual. Esse 'inimigo da alma' sabe que a melhor maneira de anular o interesse espiritual não é combatê-lo diretamente, mas diluí-lo ou redirecioná-lo para objetivos secundários de tal forma que o interesse inicial venha morrer de inanição.

A mente do buscador começa então a investigar tudo o que encontra na literatura de seu grupo ou instituição e também das grandes tradições. E essa literatura é vasta. Depois de algum tempo de muita leitura, o entusiasmo do neófito começa a arrefecer. Ele sente que nunca vai dar conta de ler e realmente entender Os Vedas e os Puranas, a Bhagavad-Gitā, os Yoga-Sūtras de Patañjali, a literatura sobre a Cabala, as obras dos místicos, os textos gnósticos e A Doutrina Secreta, para mencionar algumas obras mais conhecidas, sem contar com as obras de sua própria linha ou tradição. Enfim, a lista é longa e o tempo é curto. Quando não encontram um verdadeiro instrutor espiritual, ou uma instituição de apoio séria, acabam desistindo.

Os buscadores mais determinados e maduros, com um interesse natural pela leitura e os estudos, enfrentam outro desafio. Depois de muitos anos de pesquisas, os mais determinados e talentosos seguidamente se deixam iludir, acreditando que o conhecimento intelectual da literatura é sinônimo de progresso espiritual. Não é raro encontrarmos 'enciclopédias ambulantes' sobre a literatura espiritual, que se tornam líderes de grupos, mas que, cedo ou tarde, passam pela frustração de ver esses grupos se dispersarem na medida em que os participantes descobrem que o discurso e a prática de seus orientadores são coisas diferentes. Erudição não é sinônimo de espiritualidade. A mera erudição é equivalente a uma decoração intelectual da personalidade. É linda para ver e ouvir, mas não satisfaz o coração do buscador sincero. (...)

Na tradição cristã, infelizmente o buscador leigo não encontra com facilidade uma prática sistemática devotada à vida espiritual. A obra, Imitação de Cristo, atribuída a Thomas à Kempis, cônego regular alemão do século XV, tem servido de orientação principalmente nos mosteiros católicos. Imitação de Cristo é uma obra clássica da “via negativa”, que prega instruções radicais, tanto de atitudes como de práticas supostamente visando à purificação. Os místicos geralmente encontram nos mosteiros vasta literatura bem como orientadores experientes, sendo que os mais avançados conseguem receber as orientações necessárias diretamente de seu Mestre interior durante suas práticas de contemplação.

Mas o buscador leigo sente-se frustrado, pois as igrejas estão orientadas para oferecer condições e instruções para a vida devocional e não para a vida espiritual. Ao cristão é ensinado que o importante é CRER que Jesus morreu na cruz para salvar todo bom cristão. E quem é um bom cristão? Aquele que crê nas doutrinas e nos dogmas da Igreja, que obedece ao clero, vai à missa ou ao culto semanal e não se esquece de pagar o dízimo. Se ele ou ela for um bom fiel ou crente, sua salvação já está garantida. Para que, então, preocupar-se com uma suposta 'vida espiritual'?

Não é de se estranhar que milhares de buscadores de origem cristã acabem procurando em outras tradições, especialmente no Yoga, no Budismo, no Hinduísmo, na Cabala e na Teosofia as orientações que estão procurando e não encontram em sua própria tradição. (...)

Raul Branco, a Essência da Vida Espiritual, Editora Teosófica, Brasília, 2018, pgs 15/16