A BUSCA CIENTÍFICA E ESPIRITUAL (Parte II)

 

                  



    “(...) Assim, se isso é verdade, se o homem tem sido realmente um destruidor, um perigo para o ambiente, para o habitat e para as formas de vida sobre a Terra, inclusive para a sua própria forma de vida, então faz sentido chamar a nós mesmos de civilizados? Sendo assim, o que deu errado? E o que estamos fazendo a respeito? O que estamos fazendo a respeito do crime que aumenta no mundo? Estamos tentando criar uma força policial melhor contra o crime, tentando pôr os criminosos na cadeia, desenvolvendo métodos melhores de prendê-los, mas isso não é tratar sintomas. O que será que faz de alguém um criminoso? O que será que produz a violência, e será que castigar as pessoas aprisionando-as põe fim a esse estado de coisas? Certamente que isso não é uma solução, é apenas um mecanismo de controle. Assim, tudo o que o governo está fazendo é tentando controlar a violência; e isso não a elimina. Se existem bilhões de seres humanos egoístas, agressivos, violentos, não há maneira como possamos organizá-los numa sociedade que seja pacífica não violenta e gentil. É a violência dentro do homem que se expressa na sociedade, como também as outras características do indivíduo.


    E onde o indivíduo está sendo formado? Que tipo de indivíduos estamos produzindo? Qual é o propósito da educação? Se formos realistas, devemos admitir que nossa meta em educação é produzir pessoas eficientes, altamente treinadas, disciplinadas, trabalhadoras, ambiciosas, que desempenharão suas tarefas na sociedade e serão bem-sucedidas, e com alguma esperança serão também líderes na sociedade. Esse é o nosso objetivo. Isso é o que todas as instituições de ensino estão tentando fazer: criar esse ser humano. Mas todas essas características estavam presentes em Adolf Hitler, que muitos consideraram a pessoa mais maléfica de nosso tempo. Ele era eficiente, devotado, trabalhador, ambicioso, um líder, e tinha todas essas qualidades a que almejamos em educação. Havia somente uma coisa que ele não tinha: a bondade. Ele não tinha o que se poderia chamar de uma mente religiosa, religiosa não no sentido tradicional, mas no sentido de uma mente que vive com amor, compaixão e humildade. Temos interesse em produzir uma mente assim? O nosso processo educativo está ajustado para isso? Se não está, que garantia existe de que não estamos produzindo pequenos Hitlers. Eles podem não ser tão ‘bem sucedidos’ quanto ele foi, mas o sistema educacional não está fazendo nada para evitar isso. O que poderemos esperar da sociedade, salvo o que está acontecendo? O holocausto, que talvez tenha sido o maior crime deste século, foi perpetrado numa nação constituída de pessoas altamente educadas. Pessoas altamente educadas organizaram-no. Elas tinham arte, cultura, música, ciência, tudo sofisticado. Portanto, nossa educação atual e aquilo a que ela almeja não são garantia contra a barbárie, que é o que estamos vendo na nossa sociedade à nossa volta.


    Assim, esta é a atual condição da humanidade: muito esperta, com conhecimentos avançados em ciência e tecnologia, mas primitiva em termos psicológicos. Podemos ter a habilidade de chegar à lua, de viajar pelo espaço, de construir computadores poderosos, mas não somos melhores do que o homem primitivo na habilidade de amar o nosso próximo. O homem ainda odeia outros seres humanos, ainda quer matar, ainda é muito primitivo internamente, e agora adquiriu o tremendo poder de ser capaz de realizar suas ambições e desejos. Foi este tipo de desenvolvimento assimétrico do ser humano que criou o perigo. O homem primitivo também matava, também era tribal, também se sentia inseguro, mas matava apenas com arco e flechas, e com adagas. Podemos agora dizimar uma nação com uma simples bomba, e chamamos isso de progresso.”

Continua......

P. Krishna, Educação, Ciência e Espiritualidade, Ed. Teosófica, Brasília, 2013, pag. 16/19