A BUSCA CIENTÍFICA E ESPIRITUAL (ParteI)

    

    Vimos, anteriormente na postagem do dia 30.04.21, que há três verdades teosóficas fundamentais que são linhas mestras para que haja uma transformação efetiva do homem em relação à vida.

    Embasados nessa verdade, já vimos aqui a Teosofia no Lar, através de textos de C. Jinarajadasa.

    Mas a educação formal tem grande importância para que nos tornemos cidadãos responsáveis conosco mesmos, com nossos familiares e a sociedade.

    Portanto, a educação no lar e a formal deveriam se complementar, numa simbiose, onde família e escola se veriam beneficiadas com as ações de uma e outra. Mas sabemos que não é assim que acontece. Infelizmente, esse é um sonho a conquistar.

    E como a sociedade se transforma dia a dia, para tratar desse tema, que seria Teosofia na Escola, escolhemos um autor mais recente, P. Krishna, o qual chefiou o Departamento de Física da Universidade de Benares e após 25 anos de pesquisa científica e uma convivência de longos anos com o filósofo J. Krishnamurti, dedica-se a temas como educação, ciência, espiritualidade, percepção holística da Realidade, etc. Foi Reitor do Rajaghat Education Center, da Fundação Krishinamurti, em Varanasi, Índia.

    Segue um excerto do seu livro “Educação, Ciência e Espiritualidade”.





    “Vamos considerar uma questão séria com que se defronta o nosso mundo atualmente e que deveria ser de grande preocupação para todas as pessoas que estejam interessadas no bem-estar da humanidade, que é a seguinte: Por que será que apesar de tanto progresso em ciência e tecnologia, de tantas instituições de educação e ensino superior, de todo o esforço que tem sido feito em se criar um moderno sistema educacional, e apesar dos excelentes instrutores espirituais em torno dos quais as igrejas ortodoxas e as religiões foram construídas, a humanidade verdadeiramente não encontrou a paz, a felicidade nem algo que pudesse chamar de genuíno bem-estar? O que será que estamos fazendo? É preciso fazer essa pergunta com toda a seriedade e examinar o melhor que pudermos nossas habilidades, para decidirmos se devemos seguir na mesma direção, ou se há algo fundamentalmente errado e precisamos seguir numa direção totalmente diferente? Sem fazermos essa pergunta, e sem adquirirmos uma compreensão profunda das questões, continuaremos na inércia, no impulso que já foi adquirido numa certa direção, nos direitos adquiridos que foram constituídos para nos sentirmos seguros sem verdadeiramente estarmos seguros, simplesmente seguirmos na mesma direção. Mas podemos estar seguindo na direção errada.

    Examinemos primeiramente as condições em que se encontra o mundo. Consideramo-nos altamente civilizados, modernos, pessoas educadas. Vamos então nos situar no presente, sem fantasiar, sem lisonjear a nós mesmos, sem ser depreciativos, optando apenas por ser objetivos. Para olharmos para nós mesmos dessa maneira, podemos fazer a seguinte experiência mental:

    Imaginemo-nos lá fora no espaço sideral em algum lugar olhando de lá para a Terra, nosso planeta, e imaginemos exatamente o que veríamos lá do espaço, se tivéssemos os meios de ver com detalhe o que está acontecendo no planeta, e observar a condição do planeta e da humanidade. Isso daria uma visão geral a respeito de nossa própria condição que é objetiva, sem ser emocional ou romântica. Se fizéssemos essa experiência, veríamos que o homem construiu cidades enormes nas quais vive; desenvolveu, através da ciência e da tecnologia, meios eficientes de transporte e de comunicação, e adquiriu enorme habilidade e poder com o uso da eletricidade. Construiu hospitais, sistemas de saúde, instituições de ensino; criou estruturas, governos, construiu uma certa cultura, tudo isso é parte da civilização humana.

    Veremos que pelo menos em vinte ou trinta lugares na Terra existem grupos de seres humanos que se acusam mutuamente, prontos para matar, e prevalecendo nesse caso ou a condição de discórdia e de guerra, ou na melhor das hipóteses, uma paz instável. E se não fôssemos parte da Terra, e sim seres espaciais olhando de lá para ela, iríamos nos perguntar o que está acontecendo. Por que essas pessoas estão tentando matar a própria espécie? Veríamos a violência nas cidades, as lutas religiosas, a desintegração da família, a pobreza extrema numa parte do mundo e extrema riqueza em outra. Tudo isso é a condição atual da humanidade.

       Se considerarmos a história, descobriremos que o homem tem uma história de guerras, de pessoas que construíram poder acumulado sob o nome de uma bandeira, de uma ideia – terras, propriedades, exércitos, tanto para proteger quanto para dominar. Será que podemos verdadeiramente chamar-nos de civilizados? Dizem que não existe uma única forma de tortura que possamos imaginar que já não tenha sido perpetrada pelo homem contra o seu próximo em algum momento ou outro. E não é coisa do passado ou algo que esteja acontecendo somente em alguns países atrasados. Mesmo nas nações mais progressistas, mais economicamente desenvolvidas não existe paz, o homem não é feliz, e há uma tendência crescente à violência e ao crime. Este é um fato inegável com o qual nos deparamos, o que nos faz questionar para onde estamos indo.”

Continua......

P. Krishna, Educação, Ciência e Espiritualidade, Ed. Teosófica, Brasília, 2013, pag. 9/12