A NATUREZA DA MEMÓRIA (I PARTE)

 


    "O que é memória? E como ela atua? Por que meio recuperamos o passado, seja ele recente ou remoto? Pois afinal, quer o passado seja próximo ou remoto, pertence a esta vida ou a uma vida anterior, os meios que governam sua recuperação devem ser os mesmos, e precisamos de uma teoria que inclua todos os casos de memória, e ao mesmo tempo nos permita compreender cada caso particular. (...)

    A questão dos veículos, ou corpos, nos quais atua a consciência, o Ser, é de extrema importância no que diz respeito à memória.Todo o processo de recuperar os eventos mais ou menos remotos é uma questão de retratá-los na veste particular - de moldar parte da matéria da veste à sua semelhança - em que a consciência está trabalhando no momento.

    No início de um sistema solar, não encontramos no átomo uma ilimitada variedade de vibrações, mas sabemos que ele possui a capacidade de adquiri-las, no transcurso de sua evolução, à medida que responda continuamente às vibrações agindo sobre a sua superfície. Ao final de um sistema solar, um número imenso de átomos terá alcançado o estágio de evolução no qual conseguirão vibrar em resposta a qualquer vibração que chegue até eles e tenha origem dentro do sistema; então, para esse sistema, diz-se que esses átomos são perfeitos.

   À medida que o Ser se veste com veículo após veículo de matéria - sua faculdade para adquirir conhecimento -, torna-se, cada veículo adicional, mais circunscrito, mas também mais definido. Ao chegar ao plano físico, a consciência fica restrita às experiências que podem ser recebidas através do corpo físico, e principalmente através dessas aberturas que chamamos órgãos dos sentidos, que são avenidas através das quais o conhecimento pode chegar ao aprisionado Ser, embora muitas vezes nos refiramos a eles como bloqueadores do conhecimento, quando pensamos nas capacidades do veículo mais sutil. O corpo físico torna a percepção definitiva e clara, tal como um abajur com um diminuto orifício permite que um quadro do mundo externo apareça sobre a parede, que de outro modo nada mostraria sobre sua superfície; os raios de luz são verdadeiramente excluídos da parede, mas, devido a essa mesma exclusão, aqueles que passam pelo orifício formam um quadro claramente definido." (continua dia 30.10.20)

Anie Besant, um Estudo sobre a Consciência, Ed.Teosófica, 2014, pgs.153/156