AS EMOÇÕES




    "Repetindo, a primeira coisa a fazermos é compreender que não somos nossas sensações. Observe-as como se movimentam, apelam, erguem-se. O mesmo corpo psíquico expressa desejo, paixão e amor. Motivado pelo simples exame superficial, o pequeno 'Eu' deseja, apodera-se, agarra alguma coisa como uma criança que quer ter um objeto. Geralmente sente-se isso próximo da cintura e indica atividade de centro de força, ou chacra, chamado plexo solar. O Amor menos pessoal, Divino, é sentido no chacra do coração. As emoções 'inferiores' são de um comprimento de onda de vibrações mais lentas, mais grosseiras do que as ondas dos sentimentos mais 'elevados', e tendem a se deslocar para a parte mais baixa da 'aura' radiante e interpenetrante que nos cerca. Possivelmente está aí a origem do costume cristão de se ajoelhar em oração ou prece, e do avental maçônico que simbolicamente separa a parte inferior. As emoções mais elevadas brilham na parte superior da aura. A aspiração mais elevada aparece acima da cabeça. 
    Os 'pecados mortais' da luxúria e avidez são sentimentos aquisitivos, possessivos; a ira é a explosão do pequeno eu quando é frustrado ou rejeitado. Isso pode ser facilmente visível nas criancinhas, pois atravessam, nos primeiros anos, um resumo da evolução da raça passada. As crianças, salvo exceções, são naturalmente ávidas, egoístas, sem consideração, possessivas. Não são ainda bastante crescidas para 'dar'. É lamentável, mas muita gente nunca cresce e continua pela vida afora tomando, exigindo. (...)
    Note uma coisa sobre o desejo. Ele nos impele até que cedemos e o satisfazemos. Mas não acaba aí; ele se ergue muitas vezes, mais forte do que nunca, exigindo sempre mais. O desejo nunca é vencido pela satisfação. Se tivermos suficiente vontade e coragem para suportar a dor de uma negativa ao desejo, ele aos poucos para e não nos incomoda mais. 
    A paixão é uma forma muito forte de desejo. Muitas pessoas sabem o quanto é difícil é controlá-la e dominá-la. Mas se as paixões forem fortes e incontroláveis no homem, elas o impedirão de atingir o Reino dos Céus aqui na terra. 
    Entretanto a melhor maneira de lidar com as paixões não é pensar constantemente nelas e lutar contra elas, a não ser quando é necessário. 
  Vamos, aos poucos, expulsando-as de nós, cultivando desejos e emoções mais elevados, mais nobres e desprendidos. O amor à beleza e a resposta à amabilidade, a generosa apreciação da delicadeza da alma dos outros, a ausência de inveja, o verdadeiro cuidado com a felicidade e bem-estar dos outros, a doação de nós próprios e daquilo que nos pertence àqueles que necessitam, as ainda mais elevadas faculdades de veneração, adoração, a abnegada orientação de nós mesmos para a Eterna Beleza e para o Eterno Amor, tudo isto, cultivado e crescendo em nós, extirpará lenta e seguramente os desejos inferiores."

Clara Codd, A Técnica da Vida Espiritual, Editora Teosófica, Brasília,  2013, pgs. 43/45