A RELAÇÃO DESEJO PENSAMENTO


 "Temos agora de considerar a relação que o desejo tem com o pensamento, e ver como ele a princípio governa e depois é governado pelo pensamento.

A Razão Pura é o reflexo do aspecto 'sabedoria' da Mônada, e aparece no Espírito humano como Buddhi. Mas não é na relação do desejo com a razão pura que estamos interessados, pois, na verdade, não se pode dizer que ele esteja diretamente relacionado à sabedoria, mas ao amor, a manifestação da sabedoria no plano astral. Devemos antes buscar a relação com o aspecto 'atividade' da Mônada, que aparece no plano astral como sensação e no mental como pensamento. Também não estamos interessados sequer na mente superior, que é atividade criativa, Manas, em sua pureza, mas em seu reflexo distorcido, a mente inferior. É essa mente inferior que está imediatamente relacionada ao desejo, e inextricavelmente entremesclada com ele na evolução humana. Na verdade, estão tão intimamente unidos que frequentemente são referidos por kâmas-manas - desejo-mente - como uma coisa única, tão raro é, na consciência inferior, um simples pensamento que não seja influenciado por um desejo. 'Manas é verdadeiramente duplo, puro e impuro; o impuro é determinado pelo desejo, o puro é livre do desejo'.

Essa mente inferior é 'pensamento' no plano mental; sua propriedade característica é que ela afirma e nega; conhece pela diferença, percebe e lembra. No plano astral, como vimos, o mesmo aspecto que no mental é pensamento aparece como sensação, e é despertado pelo contato com o mundo exterior.

Quando um prazer tiver sido experienciado e tiver se esvanecido, surge o desejo de experienciá-lo novamente, como vimos. E esse fato implica memória, que é  uma função da mente. Aqui, como sempre, somos lembrados de que a consciência está sempre agindo em sua natureza tripla, embora um ou outro aspecto possa predominar, pois mesmo o desejo mais germinal não pode pode surgir sem a memória estar presente. A sensação causada por um impacto externo deve ter sido muitas vezes despertada antes de a mente estabelecer uma relação entre a sensação de que está consciente e o objeto externo que causou a sensação. Por fim, a mente, 'percebe' o objeto, ou seja, relaciona-o a uma de suas prórpias mudanças, reconhece uma modificação em si mesma causada pelo objeto externo. As repetições dessa percepção estabelecendo um elo definitivo na memória entre o objeto e a sensação prazerosa ou dolorosa, e quando o desejo pressionar em busca da repetição e do prazer, a mente lembrará o objeto que supriu aquele prazer. Assim, a combinação de pensamento com desejo faz nascer um desejo particular, encontrar e se apropriar do objeto que causa prazer.

Esse desejo impele a mente a exercer sua atividade inerente. O anelo não satisfeito causa desconforto, e esforços são envidados para escapar do desconforto pelo provimento do objeto desejado. A mente planeja, maquina, leva o corpo à ação para satisfazer as ânsias do desejo. E similarmente, também impelida pelo desejo, a mente planeja, maquina, leva o corpo à ação para evitar a recorrência da dor causada por um objeto reconhecidamente doloroso.

Tal é a relação do desejo com o pensamento. Ela incita, estimula, incentiva esforços mentais. Em seus estágios primitivos a mente é a escrava do desejo, e a rapidez de seu crescimento é proporcional às violentas incitações do desejo. Nós desejamos, por isso somos forçados a pensar."

Annie Besant, Um Estudo sobre a Consciência, Ed.Teosófica, Brasília, 2014, pgs. 178/180