A NATUREZA DA MEMÓRIA (IV PARTE)

 



"Ora, tendo notado nos veículos mudanças que surgem de impactos do mundo externo, a resposta a esses impactos como mudanças na consciência, as vibrações mais débeis produzidas nos veículos pela reação da consciência, e novamente o reconhecimento pela consciência como memórias, chegamos ao ponto crucial da questão o que é a memória? A dissolução dos corpos entre a morte e a rencarnação põe fim ao seu automatismo, seu poder de responder a vibrações semelhantes àquelas já experienciadas; os grupos responsivos são desintegrados, e tudo o que permanece como semente para respostas futuras é armazenado no interior dos átomos permanentes. O quão insignificante é isso - quando comparado aos novos automatismos impostos sobre a massa dos corpos pelas novas experiências do mundo externo - pode ser julgado pela ausência de qualquer memória de vidas passadas  inicadas nos próprios veículos. Aliás, tudo que os átomos permanentes podem fazer é responder com maior rapidez às vibrações de um tipo semelhante às já previamente experienciadas do que as que chegam pela primeira vez. A memória das células, ou de grupos de células, perece na morte, e não se pode dizer que seja recuperável como tal. Onde, então é preservada a memória?

A resposta sumária é: a memória não é uma faculdade, e não é preservada; ela não é inerente à consciência como uma capacidade, nem é qualquer memória de eventos armazenada na consciência individual. Todo evento é um fato presente na consciência universal, na consciência do Logos; tudo que ocorre em seu universo, passado, presente, futuro, está sempre em sua consciência oniabarcante, no 'Eterno Agora'. Do início ao fim do universo, de sua aurora ao acaso, tudo está aí, sempre presente, sempre existente. Nesse oceano de ideias, tudo É; nós, errantes no oceano, tocamos fragmentos de seu conteúdo, e nossa resposta ao contato é nosso conhecimento.Tendo conhecido, podemos mais facilmente contatar novamente; e essa repetição - quando não resulta do contato da veste externa do momento com os fragmentos ocupando seu próprio plano - é memória. Todas as 'memórias' são recuperáveis porque todas as possibilidades de vibrações produtoras de imagens estão dentro da consciência do Logos, e podemos compartilhar dessa consciência com maior facilidade quando anteriormente tivemos compartilhado com maior frequência de vibrações semelhantes. Por isso, as vibrações que faziam parte de nossa experiência são mais facilmente repetidas por nós do que aquelas que jamais conhecemos; e aqui entra o valor dos átomos permanentes. Ao serem estimulados, eles reproduzem as vibrações previamente experimentadas (...) quer seja uma memória de vida presente ou uma vida há muito passada, o método de recuperação é o mesmo. Não existe memória senão   a sempre  consciência do Logos, em quem literalmente vivemos, nos movemos e temos o nosso ser; e nossa memória é simplesmente colocarmo-nos em contato com as partes de Sua consciência que previmente experienciamos. 

Consequentemente, segundo Pitágoras, todo aprendizado é lembrança, pois é o retirar da consciência do Logos para o Ser separado aquilo que em nossa unidade essencial com ele é eternamente nosso. Nos planos inferiores, onde a separatividade oculta a unidade, somos afastados da unidade por nossos veículos imperfeitos. Portanto, não podemos melhorar diretamente nossa memória; só podemos melhorar a nossa receptividade geral e o poder de reproduzir, tornando nossos corpos mais sensíveis. (...)" (continua no dia 11/11/20)


Anie Besant, um Estudo sobre a Consciência, Ed.Teosófica, 2014, pgs. 157/159