O LADO SOMBRA DE NOSSA PERSONALIDADE (I)

        Muito falamos nas terapias sobre o nosso lado sombra, é muito importante que todo Terapeuta estude sobre a constituição oculta do ser humano, principalmente no que se refere às emoções, àquelas que nos fazem tomarmos determinadas decisões e muitas vezes não sabemos o porquê. São elas a origem dos nossos dissabores, pois na verdade, são as geradores de karma.

        Como esta semana  optamos pelo estudo que Raul Branco faz sobre o amor, ele coloca de forma tão simples e com tanta propriedade, citando, inclusive outros autores, que colocamos em duas partes, os comentários sobre o lado sombra de nossa personaldade, devido a importância que o tema tem na psicoterapia holística. Serve para entendermos melhor o processo terapêutico em que nosso cliente está passando, mas principalmente, para nós, terapeutas, que como seres em evolução precisamos primeiro trabalhar as nossas sombras para depois podermos fazer a empatia com aquele que nos procura.




    "O que é esse lado sombra? É aquele aspecto da natureza humana que procuramos esconder a todo custo. É tudo aquilo que não queremos ser, mas somos. É aquele sentimento que procuramos esconder das outras pessoas, bem como aquele desvio de comportamento que uma pessoa considerada boazinha jamais teria. É o desejo de se entregar ao vício, de explodir, de brigar. É toda a energia que tentamos esconder, mas que em certas ocasiões aflora e nos causa grande dor e vergonha. A Sombra, porém, não esconde somente aspectos negativos de nosso ser.

    Alguns aspectos positivos, inclusive nossa natureza luminosa, divina, são muitas vezes mantidos na sombra. Por todas essas razões ela é uma parte importante de nosso ser que precisamos conhecer e trabalhar.

 'Quando a mantemos escondida, pode transformar-se em pensamentos negativos e, mais cedo ou mais tarde, nos levar a agir de forma contrária aos nossos melhores valores e interesses. Mas descoberta e compreendida, a Sombra nos levará ao caminho da plenitude! Sairemos da ilusão de que nossa obscuridade nos dominará e, em vez disso, veremos o mundo sob uma nova ótica. A empatia que descobrimos por nós mesmos fará despertar nossa confiança e coragem à medida que abrirmos nosso coração a todos ao nosso redor. O poder que desenterramos nos ajudará a confrontar o medo que esteve nos segurando e nos incitará a seguir adiante, rumo ao nosso mais alto potencial.

“O conflito entre quem somos e quem queremos ser encontra-se no âmago da luta humana. A dualidade, na verdade, está no centro da experiência humana. A vida e a morte, o bem e o mal, a esperança e a resignação coexistem em todas as pessoas e manifestam sua força em todas as facetas da vida. Caso estejamos vivendo sob a suposição de que somos apenas de um jeito ou de outro, dentro de um espectro limitado de características humanas, então, precisamos questionar por que, atualmente, muitos de nós estamos insatisfeitos com a nossa vida. Por que temos acesso a tanta sabedoria e, ainda assim, não temos a força e a coragem para agir segundo nossas boas intenções, tomando decisões eficazes? E, mais importante, por que continuamos a nos expressar de maneiras aos nossos valores e a tudo aquilo em que acreditamos? E, embora ignorar ou reprimir esse lado sombrio seja a norma, a verdade soberana é que correr da sombra apenas intensifica seu poder. Negá-la apenas conduz a mais dor, sofrimento, tristeza e sujeição. Se falharmos em assumir a responsabilidade de extrair a sabedoria que está oculta no fundo de nossa consciência, a treva assume o comando e, em vez de sermos capazes de assumir o controle, a escuridão acaba nos controlando, provocando o efeito sombra. Então, o lado obscuro passa a tomar as decisões, tirando-nos o direito a escolhas conscientes, seja ao que comemos, ao que gastamos ou aos vícios a que sucumbimos. Nosso lado sombrio nos incita a agir de forma que jamais imaginamos e a desperdiçar a energia vital em maus hábitos e comportamentos repetitivos. A obscuridade interior nos impede de expressar inteiramente o nosso eu, de falar nossa verdade e viver uma vida autêntica. Somente ao abraçar a nossa dualidade é que nos libertamos dos comportamentos que poderão potencialmente nos levar para baixo. Se não reconhecermos integralmente quem somos, é certo que seremos tomados de assalto pelo efeito sombra.'  (CHOPRA, Deepak. FORD, Debbie e WILLIAMSON, Marianne. O Efeito Sombra. Alfragide-Portugal: Ed. Lua de Papel, 2010. Introdução.)

    O mecanismo mais frequente que usamos para lidar com nosso lado sombra é a projeção. Sabemos que o mecanismo psicológico de projeção (que parte da imagem inconsciente que temos de nós mesmos) condiciona como vemos o outro, como o julgamos e como agimos para com ele, sempre em função da imagem inconsciente que temos de nós mesmos. (...)

    Por isso, se a imagem que temos de nós mesmos é de que só merecemos realmente a vida insossa, quando não atribulada e sofrida que temos, nossa atitude para com nosso próximo, nosso “amor” para com ele, deixará muito a desejar. Na verdade, não será um amor verdadeiro. Essa é uma triste constatação da nossa vida no mundo sob o jugo do ego.

    No entanto, esta constatação não é algo imutável. Tudo na vida está em movimento, tudo é dinâmico. As oportunidades de mudança estão constantemente aparecendo. O mais importante, porém, é que posso escolher mudar os pensamentos que me fazem mal. Posso escolher ver as coisas com espírito positivo. Posso escolher ser feliz, pois sou responsável pela forma como vejo as coisas. O grande poeta inglês William Blake escreveu que se pudermos desobstruir as barreiras para a percepção correta, seremos capazes de ver as coisas como elas são, ou seja, infinitas. O que nos leva a ter uma autoestima tão baixa que resulta num efetivo desamor por nós mesmos? Dois elementos principais contribuem para essa triste situação. O primeiro é o condicionamento que recebemos de nossos pais, familiares e educadores desde a mais tenra infância. As demonstrações de preferência de um ou ambos os pais por outros filhos, as críticas frequentes, julgamentos depreciadores, bullying na família, na escola e nos grupos de colegas, enfim, as inúmeras atitudes negativas das pessoas que, de alguma forma, participaram de nossa infância e adolescência, explicam a razão por que tantas pessoas desenvolvem uma baixa autoestima, um sentimento de inadequação e desmerecimento e uma crença de que há algo de errado com elas.

    O segundo fator que contribui para a crença inconsciente de que não merecemos ser felizes é o sentimento de culpa que debilita a determinação interior da pessoa e estabelece um padrão de baixas expectativas para com a vida. O conceito de 'pecado', que literalmente inferniza a vida de muitas pessoas, especialmente nos meios cristãos, é o principal fator para a contumaz imagem negativa, com seu concomitante sentimento de culpa."

(Raul Branco, A Essência da Vida Espiritual, Editora Teosófica, Brasília, pg. 42/44)