KAMA, O CORPO DO DESEJO

      Para que não haja confusão com os corpos conforme a Teosofia moderna nos explica na constituição oculta do homem, assim como outras escolas que trabalham com a anatomia sutil, a Dra. Annie Besant, neste seu livro procura fazer uma ponte entre os termos em sânscritos, principalmente porque nas líguas européias não tinha a tradução equivalente, assim como o estudo da Teosofia deve ser para todos e não apenas para poucos eruditos, segundo a autora. 

    No nosso caso, que atuamos nas Terapias Holísticas, o estudo da Teosofia sobre a constituição oculta do homem é a base onde podemos entender melhor a jornada humana em busca de evolução e podermos atuar melhor, através de uma visão de todo o processo. Por isso, que uma linguagem moderna e de fácil compreensão para os ocidentais, torna o nosso estudo mais compreensível, enriquecendo-o.

     Portanto, vimos até agora que Sthula Sharira, era  o nome para designar o primeiro princípio, o corpo físico; Linga Sharira, o duplo etérico; Prana, o corpo vital; e, veremos hoje Kama, o corpo dos desejos, ou corpo astral ou emocional, na literatura Teosófica após Blavatski

 




    "Ao Quarto Princípio da constituição do homem tem-se chamado também Alma Animal. Compreende o conjunto dos apetites, paixões, emoções e desejos, classificados pela psicologia do Ocidente em instintos, sensações, sentimentos e emoções, e considerados como uma subdivisão do pensamento. Segundo o ponto de vista da escola moderna, o pensamento divide-se em três grupos principais: sentimentos, vontade e inteligência. Por sua vez, os sentimentos compreendem as sensações e as emoções, e estas ainda se dividem e subdividem em variadíssimas manifestações. O Kama, ou desejo, compreende o grupo inteiro dos 'sentimentos' e pode definir-se como a 'nossa natureza passional e emotiva'. Compreende todas as necessidades animais, tais como a fome, a sede, os desejos sexuais, e todas as paixões, tais como o amor (no seu sentido inferior), o ódio, a inveja, os ciúmes etc. É o desejo da existência sexual, dos gozos materiais - 'a sensualidade da carne, a sensualidade dos olhos, o orgulho da vida'. É o princípio de maior materialidade existente na nossa natureza. Mas 'não é matéria de constituição molecular', não é também o corpo humano, o Sthula Sharira, o mais grosseiro de todos os princípios, mas, sim, princípio médio, o verdadeiro centro animal, para o qual o corpo representa o papel de invólucro, o fator irresponsável, por meio do qual o animal que vive dentro de nós manifesta a sua atividade' (A Doutrina Secreta).  

    Unida à parte inferior do Manas, a mente, formando o Kama-Manas, torna-se a inteligência cerebral normal do homem; é deste aspecto que nos vamos ocupar. Considerado independentemente, sem qualquer outra ligação, é a nossa parte grosseira, o 'macaco e tigre' de Tennyson, a força que mais concorre para nos mantermos pregados à terra e afogar em nós, por meio da ilusão dos sentidos, todas as aspirações do caráter elevado. 

     Unido ao Prana é, como vimos, o 'alento da vida', o princípio mental sensitivo, disseminado em todas as partículas do nosso corpo. É, portanto, a sede das sensações: é ele que fornece aos centros de sensação condições para que possam funcionar. Já vimos que os órgãos físicos dos sentidos, instrumentos do corpo que se põem em contato com o mundo externo, estão relacionados com os centros materiais do duplo etérico, ou, o que é o mesmo, com os sentidos internos. Mas nenhum desses órgãos e centros poderia funcionar se o Prana não os fizesse vibrar, se as suas vibrações permanecessem apenas vibrações, isto é, fossem apenas movimento nos planos materiais do corpo físico, se o Kama, princípio da sensação, não convertesse a vibração em sentimento. O sentimento é, afinal, conhecimento no plano kâmico; quando um indivíduo está sob a influência de uma sensação ou de uma paixão, o teosofista diz que ele está no plano kâmico, querendo dizer com isso que a sua consciência funciona, está focada nesse plano. Por exemplo, as vibrações etéreas refletidas por uma árvore, indo chocar contra o órgão visual, fazem vibrar as células nervosas físicas; estas últimas vibrações propagam-se aos centros físicos e astrais, mas a percepção da árvore só se dará quando as vibrações resultantes cheguem à sede da sensação e o Kama no-la faça perceber. (...)

          O Quaternário, considerado isoladamente e antes de entrar em contato com a mente, não passa de um animal inferior; e só se converterá em homem com a chegada da mente. A Teosofia ensina que nas idades passadas o homem foi se formando lentamente, estádio a estádio, princípio por princípio, até ser um Quaternário incubado pelo Espírito, embora sem contato com ele, esperando pela Mente única que pode fazê-lo evoluir e realizar uma união consciente com o espírito, para que ele possa cumprir o objetivo do seu ser. O desenvolvimento de todas as entidades humanas passa por esta evolução cíclica no seu lento processo, e cada um dos princípios que, com o decorrer do tempo, se vai encarnando sucessivamente nas raças humanas da Terra, vai aparecendo como parte constituinte do homem, no ponto da evolução alcançada numa determinada época, até que chegue a hora da sua manifestação gradual. A evolução do Quaternário até o momento em que, para o seu progresso, se lhe tornou imprescindível a cooperação da mente, está eloquentemente sintetizada nas Estâncias arcaicas que servem de base à Doutrina secreta de H. P. Blavatsky (o Sopro é o espírito para quem se há de construir o tabernáculo humano; o corpo denso é o Sthulà Sharira; o espírito de vida é o Prana; o espelho do seu corpo é o Linga Sharira; o veículo dos desejos é o Kama).  (...) 

        Chegados a este ponto, reflitamos sobre o que até aqui aprendemos da constituição humana. O Quaternário é a parte mortal do homem; a Teosofia considera-o a Personalidade. A sua compreensão, clara e definida, é indispensável para se poder conceber bem a constituição do homem e para se poderem ler com proveito tratados superiores. Tem paixões, mas não razão; tem emoções, mas não inteligência; tem desejos, mas não vontade racional; espera a chegada do seu rei, o Espírito, e só ao seu contato é que pode transformar-se em homem." 


Annie Besant, Os Sete Princípios do Homem, editora Pensamento, pg. 10.