PRANA, A VIDA

    

    
     "Todos os universos, todos os mundos, todos os animais, todos os vegetais, todos os minerais, todas as moléculas e átomos, tudo o que é, tudo o que existe, está submerso num grande Oceano de Vida, Vida Eterna, Vida Infinita, Vida Insuscetível de aumento ou diminuição. O universo é apenas vida manifestada, vida tornada objetiva, vida diferenciada.  

    Posto isto, cada organismo, quer seja diminuto como uma molécula, quer seja vasto como um universo, pode considerar-se num trabalho constante de apropriação de uma parte desta vida universal. Imaginemos uma esponja viva estendendo-se na água que a banha, que a envolve por todos os lados, que a penetra por todos os orifícios. A água, o oceano imenso, circula por toda ela, enche-lhe todos os poros; podemos, pois, distinguir com o pensamento a parte do oceano que a cerca e a parte de que ela se apropriou, isto é, a porção de água que absorveu. Pois bem: cada organismo é uma esponja banhada pelo Oceano da vida Universal, e contém em si qualquer coisa desse Oceano, representando a parte da vida absorvida, a sua faculdade de viver. Em Teosofia, a vida apropriada tem o nome de Prana e é ela que corporifica o Terceiro Princípio da constituição do homem.  

    Se quiséssemos falar com verdadeiro rigor, teríamos de dizer que o 'sopro de vida, aquilo a que os hebreus chamam Nephesch, ou o sopro de vida infiltrado no nariz de Adão, não constitui Prana, mas, sim, Prana juntamente com o Quarto Princípio. Os dois juntos é que formam a 'Centelha, a Chispa vital'; são o alento da vida, da vida física, material, tanto no homem, como no quadrúpede, como no inseto. E o sopro da vida animal no homem - o sopro da vida instintiva do animal (2).  Mas, por enquanto, apenas temos de nos ocupar de Prana, isto é, da vitalide, princípio vivificador de todos os, corpos animais e humanos. O veículo desta Vida é o duplo etérico, que funciona, por assim dizer, como meio de comunicação entre Prana e o corpo físico. 

    Os micróbios da ciência constituem as subdivisões inferiores de Prana, segundo a explicação dA doutrina secreta. São essas vidas invisíveis que constituem as células, físicas; são essas 'inumeráveis miríades de vida' que constroem o tabernáculo de argila, os corpos físicos (3).  

    'A ciência, vislumbrando confusamente a verdade, pode não ver nas bactérias e em outros organismos infinitamente pequenos mais do que visitas importunas que, de vez em quando, nos batem à porta, trazendo consigo os germens das doenças. O ocultismo, porém, para quem em cada átomo e molécula, seja de um mineral, de um homem, do ar, do fogo, da água, existe uma vida, afirma que todo o nosso corpo é composto por essas vidas, sendo a bactéria menor que um micróbio, pode parecer do tamanho de um elefante, se comparada com os menores infusórios.' As 'vidas ígneas'. são os domesticadores, as dirigentes desses micróbios, dessas vidas invisíveis, e são elas que refreiam e dirigem, provendo-os do que lhes é necessário, atuando como vidas dessas vidas. São elas a síntese, a essência de Prana; são essas vidas ígneas que constituem a energia vital construtora que torna os micróbios aptos para construírem as células físicas. Um dos comentários arcaicos resume a questão nas seguintes frases magistrais e luminosas: 'Para o profano, na constituição do mundo entram apenas os 'elementos' que ele conhece. Para um Arhat (4) estes elementos constituem coletivamente uma vida divina, e distributivamente, no plano das manifestações, são os inúmeros milhões de vidas. O fogo só é Uno no plano da Realidade Una; no do ser manifestado, e, portanto, ilusório, as suas partículas são vidas ígneas que vivem e se mantêm à custa de todas as outras vidas, que vão consumindo para a manifestação do seu ser. Por isso se lhes chama Devoradores. Não há nada visível no Universo que não seja construído por essas vidas, desde o homem primitivo, consciente de essência divina, até aos agentes inconscientes que constituem a matéria ... Da vida Una, incriada e sem forma, provém o Universo, de vidas múltiplas(5). O que acontece no Universo, em toda a sua generalidade, acontece no homem; todas essas vidas sem conta, toda essa energia vital construtora, tudo isto, resumem os teosofistas sob o termo Prana. 

2 A Doutrina Secreta, vol. I. 
3 A Doutrina Secreta, vol, I.  
4 Propriamente aquele que conseguiu dominar totalmente a matéria a ponto de o corpo ser apenas a expressão materializada da inteligência. Nesta passagem, a autora quer referir-se ao discípulo que conseguiu chegar ao quarto e último período da iniciação, passado o qual será Adepto (N. do T.) 
 5 A Doutrina Secreta, vol. I. 

Annie Besant, Os Sete princípios do Homem, Ed. Pensamento, pg. 8