O DUPLO ETÉRICO - SEGUNDO PRINCÍPIO (2)

 

   



    "O duplo etérico representa um papel importante nos fenômenos do espiritismo, como nos podem provar aqueles que têm a faculdade de ver no plano astral. O clarividente pode ver o duplo etérico sair do lado esquerdo do médium, e é este duplo etéreo que aparece com frequência como 'espírito materializado' apresentando formas que variam com as correntes dos assistentes, formas que vão ganhando em vitalidade à medida que o médium perde em consciência, e vai caindo num sono cada vez mais profundo. A Condessa de Wachtmeister, que é clarividente, diz que numa sessão em que apareceu um espírito no qual cada um julgava, segundo a sua imaginação, ver um determinado parente ou amigo, reconheceu ela ser simplesmente o duplo etérico do médium. A Mme. Blavatsky, também ouviu dizer que, por ocasião da sua estada em Eddy, observando a notável série de fenômenos que lá se produziam, moldou propositadamente o 'espírito', que se costumava mostrar, à semelhança de pessoas conhecidas apenas por ela, de entre os que estavam presentes, que viam os tipos que ela produzia por meio da força da sua vontade, dando forma à matéria astral do corpo etérico do médium.

    Muitos dos movimentos que ocorrem nessas sessões e em outras circunstâncias sem um contato visível de ninguém são devidos à ação do duplo etérico; qualquer curioso pode aprender a maneira de produzir estes fenômenos, que são trivialíssimos. Estender a mão astral é tão vulgar e tão pouco 'milagroso' como estender a correspondente física. Quantas pessoas os produzem inconscientemente, quando, por exemplo, derrubam sem querer um objeto, fazem barulho sem saber como etc.; são indivíduos que não têm domínio algum sobre o seu duplo astral, que, à semelhança da criança ao começar a aprender a andar, caminha às apalpadelas, visto que o duplo astral é inconsciente, é mesmo insensível no plano físico, quando se encontra temporariamente separado dos órgãos físicos das sensações.

    Estes fatos levam-nos a um ponto altamente interessante da questão. Os centros materiais da sensação estão localizados no IV Princípio que, pode dizer-se, forma a ponte entre os órgãos físicos e as percepções mentais. As impressões do universo físico, indo de encontro às moléculas materiais do corpo físico, põem em vibração as células que constituem os órgãos de sensação, ou seja, os nossos 'sentidos'; por sua vez, estas vibrações põem em movimento as moléculas de matéria mais fina dos órgãos correspondentes do duplo etérico, isto é, os centros de sensação, ou seja, os nossos sentidos internos. Destes partem novas vibrações que se propagam à matéria ainda mais sutil do plano mental inferior, e daí refletem-se, até que, ao chegar às moléculas materiais dos hemisférios cerebrais, convertem-se na nossa 'consciência cerebral'. Esta sucessão correlativa e inconsciente é necessária para a ação normal da 'consciência', tal qual a conhecemos. No sono e no êxtase, naturais ou provocados, não se dão geralmente nem o primeiro nem o último contatos; nesses estados, as impressões partem do astral e voltam ao plano astral, sem deixar o mais pequeno vestígio na memória cerebral; porém, o clarividente que não necessita achar-se em estado de sonambulismo para o exercício das suas faculdades, pode transportar a sua consciência do plano físico para o astral sem perder o domínio de si mesmo; e pode imprimir na memória os conhecimentos adquiridos no plano astral, conservando-os e servindo-se deles a seu bel-prazer.

    'Ver na luz astral' é uma frase ouvida frequentemente e de significado bastante enigmático para quem vê por mera casualidade pela primeira vez; significa, precisamente, a faculdade proveniente do exercício dos sentidos internos ou dos sentidos situados no duplo etérico, faculdade que é um dom natural de alguns, e uma possibilidade latente em todos, no grau atual da evolução humana.

    'A morte' é para o duplo etérico o mesmo que para o corpo físico; destruição das suas partes constituintes e dispersão das suas moléculas. O veículo da vitalidade que anima o organismo corporal no seu conjunto desprende-se do corpo à hora da morte, e ao clarividente torna-se ele visível numa forma violácea, suspensa sobre o morimbundo, mas ainda ligada ao corpo físico pelo delgado fio a que nos referimos. Quebrado esse fio, o moribundo exala o último suspiro e os presentes murmuram: 'morreu'.

    Depois da morte do corpo físico o duplo etérico permanece nas proximidades do cadáver; é o espectro, o fantasma ou aparição que por vezes vislumbram no momento da morte e, mesmo depois, as pessoas que se encontram perto do lugar onde ela, se deu. Depois, pouco a pouco, vai-se desintegrando pari passu com o seu duplicado físico; são os seus restos que formam os 'fogos fátuos', ao alcance da visão dos seres sensitivos. É esta uma das razões que fazem preferir a cremação ao enterramento, porque o fogo dissipa em poucas horas as moléculas, que de outro modo apenas se libertam com a morosidade da putrefação gradual. Eis como os materiais físicos e astrais voltam rapidamente aos seus próprios planos e se preparam para ser de novo utilizados na constituição de novas formas.

Annie Besant, Os Sete Princípios do Homem, Editora Pensamento, pg 6.