OS SETE PRINCÍPIOS DO HOMEM

 


    "Segundo as doutrinas teosóficas, o homem é um ser sétuplo, ou em termos mais vulgares, de constituição setenária, o que equivale a dizer que a natureza humana encerra sete aspectos diferentes, pode ser estudada sob sete pontos de vista- distintos, ou é composta de sete princípios. Mas, sejam quais forem as palavras empregadas, o fato é sempre o mesmo: o homem é essencialmente - na sua essência original - um ser sétuplo que se desenvolve gradualmente; uma parte da sua natureza já se manifestou; outra parte acha-se, atualmente, pelo menos no que diz respeito à maioria da humanidade, em estado latente. A consciência. pode funcionar por meio e através de qualquer desses aspectos e em tantos planos quantos aqueles que se tenham já desenvolvido no homem. Um plano é apenas uma condição, um grau, um estádio. E dizemos que um homem está completamente evoluído ou desenvolvido quando a sua natureza adquiriu as faculdades necessárias para viver conscientemente em sete condições distintas, em sete graus distintos em sete estádios diferentes, ou mais tecnicamente, em sete diferentes planos do ser. Exemplifiquemos.  

    Um homem é consciente no plano físico, está no seu corpo físico, quando sente fome, sede ou as dores de uma pancada ou de uma ferida. Mas, um soldado, por exemplo, no ardor de uma batalha, pode receber um golpe ou uma bala sem sentir qualquer dor física, porque a sua consciência, concentrada nas paixões e nas emoções, está fora do plano físico e funciona precisamente no plano das paixões e emoções; passada, porém, a excitação da obsessão da luta a consciência volta ao plano físico, e sentirá então as dores da ferida recebida.

  Um filósofo, profundamente embrenhado nas reflexões de um problema intrincado, perde completamente a consciência das necessidades corporais, das emoções, do amor ou do ódio, porque tem a consciência focada no plano mental ou intelectual; isto é, o seu Eu acha-se fora das considerações de ordem material, e localizado no plano do pensamento.  

    Aqui temos, pois, como um homem pode viver em planos diferentes, em condições distintas, podendo transportar-se de uma para outra modalidade da natureza em qualquer momento, para o que basta pôr em atividade a parte da natureza correspondente.  

    Assente isto, tornou-se necessário, atendendo às duas modalidades de vida, mortal e imortal, do homem, agrupar estes sete princípios em duas ordens: uma contendo os três princípios superiores, e por isso se lhe chama a Tríade e outra contendo os quatro Inferiores, chamada por isso Quaternário. A Tríade é a parte imortal da natureza humana, o 'espírito' da terminologia cristã; o Quaternário é a parte mortal, a alma e o corpo do cristianismo. Esta divisão em corpo, alma e espírito, vem-nos de S. Paulo, e é considerada de grande importância na filosofia cristã, apesar de ignorada da maior parte dos crentes. Em linguagem vulgar costuma dizer-se que no homem há dois princípios: 'alma' e 'corpo', ou 'espírito' e 'corpo'; e desta sinonímia forçada de alma e corpo resulta uma espantosa confusão, absolutamente prejudicial à verdadeira compreensão da constituição do homem. 

    O teosofista pode pôr em frente um do outro o cristão filósofo e o cristão não-pensador, com a certeza de que não se entendem. Não admira, pois, que até aqui se tenha acusado a Teosofia de fazer distinções que nem todos compreendem. Não há filosofia digna desse nome, por mais elementar que seja, que não exija atenção e inteligência da parte do estudioso que aspira a conhecê-la; o rigor e a propriedade na escolha e no uso dos termos é condição sine qua non de todo o conhecimento." 



ANNIE BESANT, Os Sete Princípios do Homem, Editora Pensamento, pg. 04